quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cinco vidas perdidas


Cinco vidas perdidas
uma sombra sobejante
e esquecida
uma noite de tempestade
e eu, e eu... palmilhando a cidade
comendo sandes de insónia
e algemas de liberdade
cinco vidas perdidas
uma lua brilhante...
e falta-me uma cama decente
colorida...
como os poemas embrulhados em silêncios pincelados de saudade...
colorida
a vaidade
a ousadia...
viva... viva a poesia!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 19 de Novembro de 2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Corpo flutuante


Um corpo flutuante nas arcadas nocturnas do medo
o fumo negro da saudade
que sobeja de um cigarro embriagado
tu
tu não vês... que há pássaros poemas
e poetas pássaros
tu
tu não vês... que há palavras disparadas de uma espingarda
um soldado que tomba
e sonha
e flutua...
o corpo flutuante sobe ao cimo da montanha,

grita
chora...
e ausenta-se da neblina cinzenta,

são horas de adormecer
o cansaço espera o corpo flutuante que aos poucos se solta das cordas do silêncio...
parece sofrer
mas... mas o medo permanece impávido
na parada da insónia
são horas do corpo flutuante renascer
brincar
e... e... e deambular sem correntes calçada abaixo
em direcção ao mar
grita
chora...
e ausenta-se da neblina cinzenta.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 18 de Novembro de 2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Equação do desejo


Quando a equação do desejo se perde na escuridão
e há uma incógnita sonolenta embrulhada na ardósia da tarde
nada a fazer
esperar
ou... ou chorar
ou... ou escrever,

Quando a equação...

É um pedaço de chuva alicerçada à tempestade
o xisto envenenado reaparece nos socalcos em fuga
nada a fazer
olhar o mar
ou... ou inventar palavras de amar
ou... ou desenhar o sorriso da Garça sem o saber,

Quando a equação...
… quando a equação te faz sofrer.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 17 de Novembro de 2014

domingo, 16 de novembro de 2014

pedaços de inveja


as migalhas são pedaços de inveja
da miserabilidade dos enlatados caixões de porcelana
há sempre uma janela não encerrada...
há sempre uma porta sem saída
não iluminada
há sempre uma rua finíssima
tão fina como as fatias de poesia
que o poeta deixa num banco de jardim.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Novembro de 2014

sábado, 15 de novembro de 2014

cacaréus


invento-te nos nocturnos cortinados da insónia
acaricio-te sabendo que não passas de um mísero desenho da minha autoria
não sei desenhar...
invento-te nas noites de água invisível
quando sei que lá fora...
… distante de mim
há uma tempestade de desejo em rotação
calculo o seu centro de massa
calculo o seu centro geométrico...
e descubro que és uma invenção de uma mísera folha de papel
sem odor nem corações
nem beijos

apenas um desenho meu

invento-te nas madrugadas cinzentas
quando todas as luzes dormem
e sonham...
e... e morrem nos meus braços

cacaréus
pedaços de ossos
cabelos teus que deixaste nos lençóis clandestinos de uma pensão sem nome...
e em frente à janela
o rio
a fome

cacaréus
cacaréus
… e cacaréus...

pedaços de nada sobejantes de uma noite em construção
ofegante tu
ofegantes os transeuntes em desalinhado cansaço...
e eu... e eu apenas queria desenhar-te no espelho do guarda-fato

e depois... e depois vestir a gabardina e fugir dos teus lábios
como um louco
sem perceber porque chove hoje...
sem perceber porque choram os pássaros do teu olhar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Novembro de 2014

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Paraíso


Significas o quê?
o simplificado destino sem abraços ao cansaço,
se vives... grita,
chora,
constrói das lágrimas sorrisos de criança,
dança,
medita...
significas o quê?



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Novembro de 2014

Em rebelião


Não encontro a simplicidade do teu cabelo,
sinto-te cansado,
distante das clarabóias da saudade,
habitas esta cidade...
como se ela fosse um abrigo negro,
ou...
ou um poço tão profundo como a tua dor,
não encontro as tuas mãos...
quando me levavas a olhar os barcos,
e me dizias... e me dizias que um dia...
regressaríamos...
sem regressarmos nunca mais,
não encontro a simplicidade do teu cabelo
que a tempestade alicerçou ao luar...
sentado...
imaginas o silêncio embriagado estonteante contra as frestas do sofrimento,
não falas...
nada em ti é vida,
… ou alegria de caminhar junto ao mar,
imagino a tua partida...
e não sei o que escrever... depois,
amanhã,
… ou... ou amanhã ao quadrado...
e dentro de mim... as palavras em rebelião nos cortinados desta triste cidade...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Novembro de 2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Abutre em desassossego...


Tenho pena de ti, meu amor,
trocaste a liberdade por um pedaço de plástico...
um cartão,
um obscuro e amorfo ramo de árvore,
vendeste a felicidade ao diabo,
como se habitasses no interior de uma matriz composta,
insensível...
abraças-te à equação metafisica sem solução
que deambula na ardósia do teu olhar,
disfarçada de abutre em desassossego...
passeias-te pelas avenidas mais chiques de Lisboa,
e no entanto... és tão pobre, e no entanto... és tão imbecil,
como o pavimento nojento dos porcos em revolta...
há dias de “merda”,
dias em que até a lua nos “fode”,
noites tranquilas...
e noites inquietas,
e no entanto... és tão pobre, e no entanto... és tão imbecil,
tenho pena de ti, meu amor,
quando não quero amor,
quando não quero paixões de areia
e marés sem marinheiros,
tenho pena de ti...
e percebo que as palavras são um jogo desonesto,
sem saída, nojentas...
a janela quebrada
ou a pedra no charco da miséria...
tenho pena,
de ti,
meu amor!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 13 de Novembro de 2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O caixão da insónia


As máquinas enraivecidas
como vozes sem dono vagueando no areal
o sexo morre quando regressa a preia-mar e levita o caixão da insónia
um pequeno soluço
uma fina película de vento poisa sobre o corpo dela
e não existem gaivotas nas proximidades
a cortina nocturna do desejo... desce ao silêncio corpo fervilhando
dás-me a mão
e em finíssimos esqueletos de palha voando em direcção ao cinzento telhado de xisto
alcançamos o beijo
desenhado
decalcado nos teus lábios em flor,
as máquinas não sentem nem sabem o significado do “AMOR”
e tal como eu
um exército de máquinas desconhece o significado do “AMOR...
queria ser um barco passeando pela cidade adormecida
deitar-me quando todos acordam...
e acordar quando todos se deitam
levemente e aos poucos
alicerçar-me à minha cama desgovernada
sem nome
sem nada...
queria ser um barco... um barco em papel descolorido
amargo
sofrido
um barco simples
mais simples do que o “AMOR” das máquinas e do exército de máquinas...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 12 de Novembro de 2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

a bala sem mão


a espingarda de pau em sentido
o homem alicerçado a ela...
treme de frio
e tomba no chão ácido do íngreme tesão do luar
as estrelas são esferas de papel
mergulhadas em clítoris envenenados
a espingarda embriagada
grita
constrói espirros de chocolate
e soluça
como uma louca cidade
que deambula entre carris inanimados
e comboios drogados

a espingarda dispara um pequeno silêncio
que acorda o homem que habita o chão ácido do íngreme tesão do luar
e o homem sem o saber...
acredita na liberdade...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 11 de Novembro de 2014