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sexta-feira, 5 de abril de 2019

Morre-se de quê?


Das lágrimas do mar de rosas,

Nasceram os teus olhos de Primavera.

Dançam as andorinhas sobre a poeira tarde,

Como palavras brincando com o vento.

Das lágrimas do mar de rosas,

Obtenho o silêncio dos teus lábios,

Tão belos, no chão desenhados,

Na eira brinco com o papagaio de papel,

Corro, corro, corro sem parar,

E abraçar,

O teu corpo,

De silício.

Grito pelo mar,

Sempre ausente de mim,

Eu que vivi,

Sobre o mar,

Sobre o vento,

E hoje, pareço um transatlântico traumatizado pelas ondas melódicas da noite,

O profano,

O homem da paixão,

Que por engano,

Que por medo,

Diz não,

Diz não.

Das lágrimas do mar de rosas,

Nasceram os teus olhos de Primavera.

Pego na tua mão de porcelana,

Acaricio o teu rosto de cristal,

E no final da tarde,

À hora do lanche,

Ofereço-te um beijo,

Sem perceber,

Que habita em mim o Oceano teu desejo,

São os livros, meu amor,

São os livros que que alimentam a paixão.

 

Morre-se de quê?

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

05/04/2019

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Cartas e outros objectos


Enquanto ela dormia,

Sob as nuvens de iodo,

O poeta desenhava palavras nos seios da serpente.

Era noite,

Tinha sobre a secretária, todas as cartas recebidas e não respondidas…

O espelho pertencia-lhe, e, via o seu corpo embrulhado nos meus braços.

Naquele momento, nada queria ver,

Nem o mar,

Nem o carteiro que todos os dias me trazias as cartas…

Apenas queria acariciar-lhe os lábios,

Desenhar-lhe nas coxas a cidade efervescente dos dias de loucura,

E mesmo assim,

Quando abria os olhos,

Dizia-me que eu era o mar.

Talvez,

Porque hoje percebo as dores nas costas,

O peso dos petroleiros,

Veleiros,

E outros…

Começava a tremer de frio,

Era Verão,

Mas tinha sempre frio…

Tremiam-me as mãos de cerâmica que o meu pai comprou em Luanda,

Às vezes, poucas, transportava no meu peito o sofrimento,

A dor,

Os vómitos,

A ressaca das noites sem dormir,

E, ela, deitada nos meus cabelos.

Enquanto ela dormia,

Eu, eu sentia,

Não vivia…

E sabia…

Que um dia queimaria todas as cartas.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

03/04/2019

terça-feira, 2 de abril de 2019

Borboletas em papel


Borboletas no meu velório,

Apenas borboletas,

Ninguém,

Ninguém à minha espera,

Comigo, morreram as palavras,

Todos os livros, machos e fêmeas,

Segunda-feira ou Terça-feira?

O xisto amarfanhado pelo silêncio da poesia,

As frases afundaram-se nas tuas mãos,

Como gaivotas em cio.

O poço,

O cheiro nauseabundo dos velhos livros,

Abraçados a mim,

Tenho um corpo de merda,

E uma rua dentro de mim, sem nome, sem casa, sem nada…

Dormir,

Não durmo,

Comer…

Não como nada.

Peço aos amigos, a todos, paciência,

Nada mais do que isso,

Nem flores,

Odeio flores e odeio o teu sorriso,

Odeio o mar e o todos os rios…

São recheados de falsidade,

Como tu, pobre pomba poisada no meu ombro,

Dormir,

Não durmo,

Comer…

Quase nada.

Borboletas em papel,

Sombras em pastel,

Telas esbranquiçadas com lábios de suor…

É esta a minha vida,

Embrulhado em palavras,

Dormindo,

Não dormindo,

Dentro das sílabas assassinadas.

Despeço-me, e do cimo do monte…

Enterro o teu nome,

Escrevo na terra…

Amo-te, não te amo, amo-te… só quando nascer a noite.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

02/04/2019

sábado, 10 de março de 2018

Hoje, só hoje!


Hoje,

Só hoje,

O teu corpo dilacerado nas montanhas da insónia,

Mergulhado na planície do sofrimento,

Hoje,

Só hoje,

Os teus olhos comendo as lágrimas da madrugada,

Junto ao mar, hoje, só hoje…

Nas palavras de amar,

As tuas mãos enroladas no meu rosto,

Em pedra, frio como a tempestade…

De viver…

Hoje,

Só hoje,

Os barcos em busca da liberdade,

Quando os livros adormecem na tua mão,

E, no teu cabelo, uma andorinha… brinca, e, sofre…

Hoje,

Só hoje,

O teu coração sobre a mesa,

Quente,

Saltitante…

Como as serpentes do amor.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 10 de Março de 2018

domingo, 3 de dezembro de 2017

A saliva do desejo


Tens nas veias a saliva do desejo,

O cansaço disperso, quando a alvorada se despede de ti,

Os Oceanos infinitos entre quatro paredes de vidro,

O sangue das palavras embriagadas pela insónia,

Depois acordam as estrelas,

É dia,

Encostas-te a mim, dormes, sonhas, escreves no meu olhar as palavras proibidas,

É dia,

Pegas na minha mão, levas-me para os jardins longínquos da memória,

Ouvíamos música, líamos os limos da madrugada, na serpente, a maçã envenenada,

E outras coisas mais…

Vivíamos sonhando com livros em xisto, descendo os socalcos da miséria,

O poço da aldeia, a água límpida da manhã,

Que absorve toda a porcaria das tuas veias,

Está frio, ranges os dentes e entrelaças as mãos,

Desprega-se do teu cabelo, finíssimos pingos de geada,

Até que seja noite na nossa cidade,

Recordas-me as árvores no Outono, aos poucos despidas, sombrias…

Porque a noite é vadia, porque a noite traz recordações de outros tempos,

Relógios ensanguentados de saliva, do desejo, que alimentam as tuas veias.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 3 de Dezembro de 2017

sábado, 25 de novembro de 2017

Entre quatro paredes


Entre quatro paredes, tenho o meu esqueleto de granito infestado de lágrimas, e, quando o meu pobre relógio acorda, todas as noites, fujo para as sombreadas ruas da Avenida, pinto as árvores no meu olhar, semeio na lapela as frágeis sementes da morte, sempre que o vento regressa do mar,

A janela do sofrimento rasgada na penumbra madrugada, o silêncio das acácias misturado com os soníferos orgasmos de prata, e esta terra me alimenta das esmolas não recebidas, tenho medo, medo de perder-te no infinito amanhecer, porque nas tuas mãos habitam as flores da despedida, lamento, fico cansado de olhar-te no espelho caduco do meu quatro, e, os livros empilhados junto à madrugada, lamento, que todas as tardes sejam em pedaços de sofrimento, como as jangadas dos pilares de areia da tua voz,

Entre quatro paredes, de vidro, o silêncio amanha, dorme… e morre na alvorada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 25 de Novembro de 2017

domingo, 12 de novembro de 2017

O eterno acusado


Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me da chuva e do sol,

Das províncias desgovernadas,

Dos socalcos inanimados,

Tristes…

Cansados.

 

Acusais-me do cansaço,

De ser o menino dos papagaios

E das estrelas em sombreados tentáculos,

Acusais-me de o mar não regressar…

 

E de matar.

Acusais-me do eterno ventrículo agachado no musseque,

Das palmeiras envenenadas pelo silêncio,

Acusais-me das palavras gastas,

Tontas,

Nas paredes da solidão.

 

Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me do medo,

Da morte em segredo,

Acusais-me do sofrimento

Nas montanhas solidificas dos livros

E dos momentos passados na escuridão de um velho bar.

 

Acusais-me da dor,

Das metástases ensanguentadas de um corpo em delírio…

Acusais-me de nada,

De tudo,

Até da triste madrugada…

Que a sombra alimenta.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Novembro de 2017

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Tulipas anónimas


As minhas tulipas são anónimas.
Acordo ao som dos seus delas gemidos,
Entre parêntesis e pontos de interrogação,
A lapidação do meu corpo ao amanhecer,
O perfumado banho,
Antes de comer,
As minhas tulipas são ardósias.
Todas as palavras são assassinadas nas suas delas bocas,
Como se fossem nuvens esfomeadas,
Canibais canetas de tinta permanente,
Poisadas sobre a minha lápide invisível,
Todas as palavras me detestam,
Todas as palavras me agridem ao anoitecer,
Como correntes em aço que brincam na rua.
O espelho desfigurado,
Os lençóis emagrecidos pela geada,
O cansaço meu desperdiçado nas ombreiras do mar,
O sangue dorme. O meu corpo é uma jangada de vidro…
Perdido no cais da saudade,
Tenho medo das encostas da montanha,
Que assobiam a todos os minutos passados,
Que vão passar e todos aqueles que não passam,
Porque habito num apeadeiro selvagem,
Doente.
As minhas tulipas são anónimas…
E o meu jardim em papel amarrotado.



Francisco Luís Fontinha

domingo, 5 de novembro de 2017


As ratazanas do quinto monte castanho, as metástases da dor suspensas num pendulo prateado, o relógio oculto no pulso da dor, o medo de perder-te no Oceano... Quando as palavras se suicidam nas tuas mãos de Princesa, choro, sofro, deixei de ter sorrisos e dou-me conta que estamos sós.

sábado, 4 de novembro de 2017


Não sei o que te diga... A minha vida é um círculo em pequenas rotações, sem esperança, um cubo vazio, grená quando a escuridão invade o meu espaço. Não, não sei o que te diga... Porque as minhas palavras estão nas tuas veias.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

O silêncio do imperfeito



Perfeito.
Imperfeito.
O silêncio mutante da escuridão,
Quando desce da montanha uma pobre canção,
Feio,
Feito, diz ele, antes da morte,
Perfeito.
Imperfeito.
Pobre,
Nobre,
Enquanto caminham sobre a Lua as sombras terrestres do medo,
Um foguetão em apuros,
Uma traineira desgovernada,
Só, e sem nada,
Perfeito.
Imperfeito.
Sempre suspenso no alpendre da dor,
Sente,
Sofre,
Para quê? Se ele percebe que vai morrer…
Sinto,
Ele,
No deserto das serpentes,
Perfeito.
Imperfeito.
Sem jeito.
Silêncio…
Um caixão em lágrimas,
As pálpebras em chamas,
E, a vida parece uma lâmpada sem alma.



Francisco Luís Fontinha
Alijó, 31 de Outubro de 2017

domingo, 29 de outubro de 2017

Coração das sete serpentes


Iluminado sejas, coração das sete serpentes.

O cansaço das pedras, perfumadas almas na escuridão,

Palavras dispersas,

Nas garras de uma canção.

Iluminado sejas, corpo desengonçado das sete maravilhas…

O sorriso perfeito, nas tardes estátuas,

Os livros mortos, os textos acorrentados aos braços da madrugada,

Iluminado sejas, obscuro cansado prato, sobre a mesa do sono,

E das pedras abençoadas.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 29 de Outubro de 2017

domingo, 22 de outubro de 2017

Os livros sobre a mesa


Nas cinzas do meu corpo

Habitam as palavras do fogo sombrio do sofrimento,

A dor semeia-se na terra cansada da minha mão,

Quando o luar adormece, quando uma flecha sangrenta se espeta no meu coração,

Domingo à noite,

Música fúnebre para me alimentar,

Palavras que voam em direcção ao mar…

E te levam, e te levam para o Oceano da tristeza,

E fica a beleza,

Os livros sobre a mesa…

Escrevo-te,

Imploro-te…

Que fiques, aqui, comigo…

À lareira.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Outubro de 2017