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terça-feira, 27 de junho de 2023

Tractatus Logico-Philophicus

 

Com quinze ou dezasseis anos comecei a consultar o “Tractatus Logico-Philophicus” de Ludwig Wittgenstein, o que eu procurava, ainda hoje não o sei, sei que passava noites quase abraçado a esse tratado sobre tudo, e nada do que eu precisava tinha.

Também, como referi à pouco, ainda hoje não sei o que procurava.

Consultava “Amor” e quase que levava com uma resma de equações matemáticas, de tratados e almas mortas de Gogol, e se é para ir para a fogueira, vamos então todos…

Também ainda não sei quem são e quantos são; alguns,

Tal como parte do manuscrito de “Almas Mortas” …

A minha mãe,

Fernando… marca uma consulta ao nosso filho, olha que ele não anda bem…

E claro que sim,

E depois de milhares de cartas escritas pelo Senhor Fernando António Nogueira para a sua grande amada,

A doce Ophelinha…

Não interessa…, deixei de receber cartas.

Quanto a mim, prefiro o Senhor Álvaro de Campos…, a tabacaria, a pequena dos chocolates, o Esteves…

Coitado do Esteves…, onde andará ele!

Deu-me trabalho, mas consegui convencer a minha mãe, que aquele calhamaço não era perigoso, e quase era irmão gémeo da Bíblia que ela tinha em cima da mesa,

Olhou-me,

Franziu o sobrolho,

Apelidou-me de Francisco…

E eu,

Já estou fodido; vou apanhar nos cornos.

A coisa passou, e eu todas as noites à procura no “Tractatus Logico-Philophicus” de qualquer coisa…,

E sabes, meu amor,

O senhor Álvaro de Campos tem algo de misterioso, não sei…

Tal como o que procurava naquele livro,

Nada.

Os anos passaram, ele acompanhou-me quase sempre, até quando fiz o serviço militar na Calçada da Ajuda,

Que de ajuda,

Nada,

Como aquilo que eu procurava.

Talvez procurasse um pássaro, talvez procurasse a insónia de uma pequena estrela de silêncio…,

E ainda não encontrei neste “Tractatus Logico-Philophicus” nada sobre Alhetas, que o calor que entra mais o calor gerado é igual ao calor que sai mais o calor acumulado…

E eu, meu amor,

De tanto calor…

Já nem sei se hoje é segunda-feira ou se amanhã é quinta-feira…, no entanto, recordo todas as palavras do Senhor Álvaro de Campos, e eu, de Tabacaria em Tabacaria, que deixei de comer chocolates para não ganhar peso, lá está ele,

O Esteves,

Coitado do Esteves,

E, no entanto, pareço o Esteves, à procura de um cigarro e que o vento me leve,

A minha mãe…

Estás bem, meu filho?

Já conversamos, quando eu regressar da lua...

Desenhava um abraço no meu rosto, e ficávamos horas a conversar sobre coisas; ela, que Deus era/é um ser maravilhoso, que ia sempre proteger-me de tudo e de todos…, coisa assim e coisa assado, e eu, eu perdia sempre porque não conseguia explicar o que existia antes da grande explosão na teoria do Big Bang, dava-lhe um beijo, e ia até à galáxia mais próxima.

Às vezes penso, e se tudo isto não existir.

E formas apenas um pedacinho de sono, em pequenos círculos…, na ponta de um elástico…, nas mãos de Deus?

Enquanto isso, ele…

Consulta o “Tractatus Logico-Philophicus” …

O Senhor Mário de Sá-Carneiro dispara o revolver na sua própria cabeça,

Aos vinte e seis anos…

Apetecia-me pedir ao Pacheco algumas das suas Pachecadas, e ir por aí…

Ir por aí a declamar os poemas de AL Berto.

E sabes, mãe…!

Está tudo no “Tractatus Logico-Philophicus”, de Ludwig Wittgenstein.

 

 

 

 

 

27/06/2023

domingo, 18 de junho de 2023

Tratado filosófico do [Matrafoines]

 

Do tudo,

O nada…

Quando o tudo é um conjunto de pontos coloridos,

Que marcham sobre o pavimento laminado de uma recta infinita…

E quando o nada,

O nada não é mais do que uma equação complexa,

Muito mais complexa do que as equações diferenciais do terceiro grau…

Que o professor Mário Abrantes nos falava,

Dessas,

Dessas não tinha eu medo…

Agora das outras…!

 

Querem-me fazer acreditar

Que do nada,

Do perfeito vazio…

Alguma coisa pode acordar…

Não,

Não poderá ser,

Nunca.

 

Acredito em tudo,

Acredito que toda a matéria do Universo se expandiu,

Antes explodiu…

Que até provavelmente Adão tenha dado a sua melhor queca…

Com a adorada Eva…

Mas do nada,

Do nada acordar alguma coisa?

Não…

 

Nasci para ser rico e lindo.

Rico sei sou,

Apesar de ainda não ter encontrado a fonte monetária em que os meus pais investiram…

Já procurei em algumas,

Em Euros ainda não procurei,

Não vai adiantar…

Porque quando nasci ainda não existiam…

Talvez mais logo procure nos [Matrafoines],

Isto é,

A moeda oficial de Marte…

Quem sabe?

Diziam-me que o meu pai era pintas…

Quem sabe,

 

Quem sabe se o sol nasça sem olhos,

Ou a lua…

Quem sabe se logo a lua apareça sem lábios…

Ou as estrelas,

Ou as estrelas sem ninguém,

Quando do perfeito juízo

Acorda uma pequena borboleta.

O sono eleva-se sobre a coroa invisível da saudade,

E diga-se que esta…

Que esta também pertence às equações complexas…

Mas que fazer,

Quando uma fotografia morre…

Passa a ser o nada,

A ausência…

E depois,

E depois querem-me fazer acreditar…

Que deste pequeno nada…

Um dia,

Biliões de dias depois…

Acorde alguma coisa…

Que quer ser tudo…

E que nunca foi nada.

Não,

Não posso acreditar.

 

Mesmo assim, desenho sobre estes pontos coloridos que marcham sobre uma recta infinita…

Que apelidaram de tudo,

Desenho sobre estes pontos coloridos o beijo,

Quando a mãe beija o filho…

E o filho…

Por mais que procure a mãe para a beijar…

Nunca a encontrará…

Porque também ela,

Também ela pertence ao nada.

 

E depois que sim,

Que sou um parvalhão,

Assim-e-assado,

Mais cozido do que passado,

Abro a janela…

E do nada…

Do nada… aparece na minha mão o primeiro capitulo da solidão.

 

Afinal…

Afinal do nada pode sempre acordar alguma coisa…

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

18/06/2023

Carta aos pássaros

 

Meus queridos,

 

Podia Deus extinguir agora mesmo o Universo, porque eu, porque eu não me levantava desta pedra cinzenta,

Onde me sento,

E penso.

O que me interessa a mim o Universo…

Quero lá eu saber do Universo…

O que me interessa a mim do meu vizinho, vizinha, ou do filho de ambos, ou se há crianças com fome…

Deus que cuide deles, se ele quiser.

Levantei-me cedo, fui até ao campo colocar as armadilhas perfumadas, talvez ainda hoje consiga apanhar algumas pétalas de qualquer coisa…, ou apenas, ou apenas pedaços de lenha, e agora, e agora engano o tempo com algumas lâminas de silêncio que por aqui brincam.

Podia ser pior, meus queridos.

Podia ser pior…

Mais logo, mais logo não farei nada, como amanhã, como depois de amanhã, fazer o quê, meus queridos?

A não ser, pensar.

Mas pensar em quê?

Se o pensamento é apenas um momento repetitivo…

Não.

Mais logo, mais logo não farei nada, como amanhã, como depois de amanhã, fazer o quê, meus queridos?

Nem pensar?

Nem pensar, meus queridos.

Nem pensar…

 

 

 

Francisco

18/06/2023

sábado, 10 de junho de 2023

Lápide de sono

 

Entre os parêntesis da manhã

Peço a Deus que me abrace

E desenhe no meu simplório olhar

Uma pequena lápide de sono

Uma lápide quase invisível

Com letras negras

Negras e muito pequeninas

Bem negras e bem pequeninas…

Nasceu a…

Faleceu a…

 

Depois

Depois peço a Deus que escreva nos meus lábios

O silêncio da noite envenenada…

Peço a Deus que não me traga a madrugada

Não

Hoje não me apetece ter a madrugada,

 

Entre os parêntesis da manhã

Peço a Deus que me abrace

Nem que seja um fictício abraço

Quase invisível

Quase… quase nada,

 

Depois de pedir a Deus tanta coisa

Das poucas coisas que tenho

E de ele saber que eu não acredito em Deus…

Ele ri-se…

Ri-se da minha ignorância

Do gajo nada

Pedir tudo

Quando o tudo não existe

E é apenas uma equação

Na espuma dos dias

Quando os dias… são o nada

E o nada…

São estes pequenos dias.

 

 

 

Francisco

10/06/2023

quinta-feira, 25 de maio de 2023

O poeta de Deus

 

(feliz dia de África)

 

 

Não sei,

Não sei como será o Inverno

No Inferno,

Não o sei…

Mas… quem o saberá?

Farto-me de escrever poemas a Deus…

E Deus está literalmente a cagar-se para mim,

Não me importo,

Quero lá eu saber de Deus,

Tal como ele,

Quer lá Deus saber de um tal de Fontinha…

 

Não o sei,

Quem o saberá…

Vocês sabem como será o Inverno no Inferno?

E de um tal de Inferno disfarçado de Inverno?

Não, não me interessa…

Em criança, até um determinado período da minha vida…

E que vida,

Meu Deus,

Que rica vida eu tive…

Não sabia o significado de Inverno.

 

E era muito feliz!

Muito mesmo…

Tão feliz que…

No meu Inverno,

Trazia os meus calções e as minhas sandálias de couro…

Que couro, meu Deus,

Que calções…

E quer lá saber Deus dos calções e das sandálias…

Deus,

Deus passa todo o seu tempo a escrever poesia…

Entre calções,

Tão feliz que fui…

Muito feliz,

E do meu Inverno,

Que Inverno,

Aquele meu Inferno,

De aprender o significado de Inverno…

Quando eu…

 

Tudo esqueci,

As sandálias, os malditos dos calções, o Mussulo, tudo,

Tudo mesmo.

Durante muitos anos,

Muitos mesmos,

Queria perguntar ao meu pai porque choravam as acácias da minha infância…

E tudo,

Já não me lembrava de nada…

Apenas…

Machimbombo…

Que coisa, esta, do Inverno ser Inferno…

E Deus, o poeta, ser tudo…

Tudo o que não fui,

Tudo o que não quero ser,

Ser o quê…

Mais um, por aí…?

 

E chorei.

E chorei sem perceber que chorava…

Que apenas me recordava,

De ter chorado,

Não porque me apetecesse chorar…

Mas chorava,

Tinha medo de me perder,

E um dia, perdi-me, por aí…

Um dia, meu Deus…

Um dia…

Chorava porque tinha frio,

Chorava porque tinha medo,

Chorava porque me sentia só…

Qualquer coisa que nasceu comigo, não me pertencia…

Tinha morrido,

E até hoje,

Hoje… nada,

Até hoje não sei a coisa que morreu,

E que até hoje,

Não consigo dizer que coisa é essa…

E se não há coisa,

Não haverá cadáver,

Nem haverá crime…

 

(peço desculpa pela ausência, mas assuntos do foro privado chamavam-me)

 

A minha mãe,

Coitada da minha mãe…

Tal como eu,

Também ela chorou muito…

Muito…

Éramos assim…

Como deslocados,

Ausentes de corpo e alma,

Não,

Nunca acreditei na existência da alma…

Nunca.

A minha mãe,

Coitada da minha mãe…

Eu chorava,

E eu sabia que a minha mãe chorava porque eu chorava…

Éramos ausentados,

Deslocados da terra e do primeiro pigmento de cor…

Abraçava-me a ela,

E ela mentindo-me, dizia-me… um dia, um dia meu filho…

Um dia tudo vai melhorar…

 

Um dia,

Um dia cairá chuva na minha mão,

Um dia,

Um dia…

Não sei,

Não sei como será o Inverno

No Inferno,

Não o sei…

Mas… quem o saberá?

Farto-me de escrever poemas a Deus…

E Deus está literalmente a cagar-se para mim,

Não me importo,

Quero lá eu saber de Deus,

Tal como ele,

Quer lá Deus saber de um tal de Fontinha…

Ou do Inverno no Inferno,

Do Inferno a infernar o Inverno…

Quer lá ele saber…

A não ser…

Que Deus seja accionista do Inverno e credor do Inferno…

Ó pá,

Deus é comunista…!

Deus não é nem nunca será capitalista…

 

Veremos, um dia…

Um dia, um dia veremos.

 

 

 

Francisco

25/05/2023

segunda-feira, 1 de maio de 2023

O nada de tudo ou nada

Não podemos ser tudo

Quando somos o nada menos o tudo,

Não podemos ser isto,

Não podemos ser aquilo

E aqueloutro,

Só porque queremos ser,

Isto e aqueloutro…

Quando queremos ser tudo…

Às vezes,

Muitas vezes

Somos o nada menos o tudo,

 

E o nada seremos sempre,

Sempre que lutamos por ser o tudo

Acabando por sermos o nada,

Não podemos ser pássaro

Se não tivermos asas para voar…

E podem dizer-me que um pássaro

Sem asas

É um pássaro,

Mas não é um pássaro qualquer… e não é a mesma coisa…

Um pássaro sem asas… é o nada,

 

Um pássaro que não canta,

É um pássaro,

E sem asas e sem cantar…

Continuará a ser um pássaro,

Mas…

Para que quero eu um pássaro,

Que não canta,

Que não voa…

Que apenas me serve de adorno

Sobre a mesinha-de-cabeceira

Onde guardo o isqueiro os cigarros e a pistola?

 

O nada,

Sempre que o tudo…

Não é o tudo,

É quase como o Universo…

Tão infinito tão belo tão escuro tão… tão nada,

De que me serve a beleza do Universo?

De que me serve se o Universo é finito,

Não finito…

Ou assim-assim…

Ou o nada…

De que me serve saber que toda a matéria do Universo se encontrava concentrada no espaço do tamanho da cabeça de um alfinete,

Vê lá tu… meu amigo, do tamanho da cabeça de um alfinete,

Depois…

Dizem que explodiu…

Expandiu-se…

E hoje…

O nada,

De que me serve saber de nublosas, buracos negros…

Buracos negros em vómitos,

Velocidade da luz,

Que fiquei com raiva de Einstein quando percebi que…

Vê tu, meu amigo,

Que teoricamente é possível viajar no tempo…

Odeio este gajo só por isto,

E por anda,

Imagina meu amigo, imagina viajarmos no tempo…

E encontrar aquela gaja horrível,

Aquele gajo…

Qualquer coisa,

De nada, obrigado…

Estes e outros fantasmas da noite,

E anda por aí, e anda por ali…

Anda por cá e vai cavalgando montes e vales,

Pedras e montanhas,

Noites de lua cheia…

E o nada,

O zero absoluto…

Zero graus celsius,

O quase tudo,

Ou o quase nada,

 

De que servem as palavras,

Os poemas…

E a madrugada?

Quando o sono,

Quando o sono apenas estorva…

Não deixa viver,

Não deixa respirar…

De quase tudo,

Ou de quase nada,

O que adianta passares a noite em discussão…

Se Deus,

Se Deus existe, existiu…

Ou nem por isso?

Se Deus criou alguma coisa…

Tu,

Tu vais morrer, existindo ou não existindo Deus,

Universo…

Ou buracos negros,

Ou o raio que os parta,

E nunca te esqueças, meu grande amigo,

Nunca te esqueças que setenta por cento do peso do teu corpo…

É água,

E o resto…

Merda,

E o quase nada,

Depois,

Temos a luz vestida de noite,

Lindíssima como as estrelas,

Lindíssima como sempre,

A sempre bela noite,

Bela e puta…

Também ela,

Tal como eu,

Um pedacinho de nada,

Uma molécula de desejo… nos olhos da alvorada,

Dentro de um recipiente…

A poeira do teu corpo,

 

Não,

Não podemos ser tudo,

Quando nasceste para ser o nada,

Quando nasceste travestido de equação matemática,

Complexa…

Ordinária equação complexa do terceiro grau ou do quarto grau…

Uma complexa equação diferencial,

De uma mão, da outra mão,

Acordam,

O nada,

E o tudo…

Ou o quase tudo,

E quase nada,

 

Sim meu amigo,

De que te servem as canções da alegre Primavera,

Quando a tua Primavera…

É quase nada,

Do nem quase tudo,

De entre o tudo e o nada,

 

Depois,

Depois dizem que estás louco,

Internam-te em psiquiatria…

E que sim,

Ao nascer do dia,

Coitado do rapaz…

Coitado dele,

E às vezes, nem tudo é o tudo,

Nem o nada é o tudo,

De nada,

Nem o nada…

Nem o tudo,

Não me digas que às vezes o nada é o tudo?

Ou quase tudo?

Quando não preciso de nada,

Não meu amigo,

Eu, eu sinceramente já não te digo nada,

Nada,

Que nem tudo é tudo,

E que nem tudo é o nada…

Quando tu,

Quando eu,

Meu grande amigo,

Somos o nada,

 

E o nada é um conjunto vazio,

Tem jarras com flores,

Tem poemas de amor e sedução,

Olha…

Tem um rio,

E tem o mar,

O mar de ninguém,

No mar de nada,

Quando o quase tudo,

Nasceu, cresceu, morreu…

Sendo o quase nada…

E do quase nada,

Vês apenas o sorriso do clitóris

Quando se ergue na tua mão… a doce madrugada…

Que de tudo,

Não tem nada.

 

 

 

 

Alijó, 01/05/2023

Francisco Luís Fontinha