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segunda-feira, 1 de maio de 2023

O nada de tudo ou nada

Não podemos ser tudo

Quando somos o nada menos o tudo,

Não podemos ser isto,

Não podemos ser aquilo

E aqueloutro,

Só porque queremos ser,

Isto e aqueloutro…

Quando queremos ser tudo…

Às vezes,

Muitas vezes

Somos o nada menos o tudo,

 

E o nada seremos sempre,

Sempre que lutamos por ser o tudo

Acabando por sermos o nada,

Não podemos ser pássaro

Se não tivermos asas para voar…

E podem dizer-me que um pássaro

Sem asas

É um pássaro,

Mas não é um pássaro qualquer… e não é a mesma coisa…

Um pássaro sem asas… é o nada,

 

Um pássaro que não canta,

É um pássaro,

E sem asas e sem cantar…

Continuará a ser um pássaro,

Mas…

Para que quero eu um pássaro,

Que não canta,

Que não voa…

Que apenas me serve de adorno

Sobre a mesinha-de-cabeceira

Onde guardo o isqueiro os cigarros e a pistola?

 

O nada,

Sempre que o tudo…

Não é o tudo,

É quase como o Universo…

Tão infinito tão belo tão escuro tão… tão nada,

De que me serve a beleza do Universo?

De que me serve se o Universo é finito,

Não finito…

Ou assim-assim…

Ou o nada…

De que me serve saber que toda a matéria do Universo se encontrava concentrada no espaço do tamanho da cabeça de um alfinete,

Vê lá tu… meu amigo, do tamanho da cabeça de um alfinete,

Depois…

Dizem que explodiu…

Expandiu-se…

E hoje…

O nada,

De que me serve saber de nublosas, buracos negros…

Buracos negros em vómitos,

Velocidade da luz,

Que fiquei com raiva de Einstein quando percebi que…

Vê tu, meu amigo,

Que teoricamente é possível viajar no tempo…

Odeio este gajo só por isto,

E por anda,

Imagina meu amigo, imagina viajarmos no tempo…

E encontrar aquela gaja horrível,

Aquele gajo…

Qualquer coisa,

De nada, obrigado…

Estes e outros fantasmas da noite,

E anda por aí, e anda por ali…

Anda por cá e vai cavalgando montes e vales,

Pedras e montanhas,

Noites de lua cheia…

E o nada,

O zero absoluto…

Zero graus celsius,

O quase tudo,

Ou o quase nada,

 

De que servem as palavras,

Os poemas…

E a madrugada?

Quando o sono,

Quando o sono apenas estorva…

Não deixa viver,

Não deixa respirar…

De quase tudo,

Ou de quase nada,

O que adianta passares a noite em discussão…

Se Deus,

Se Deus existe, existiu…

Ou nem por isso?

Se Deus criou alguma coisa…

Tu,

Tu vais morrer, existindo ou não existindo Deus,

Universo…

Ou buracos negros,

Ou o raio que os parta,

E nunca te esqueças, meu grande amigo,

Nunca te esqueças que setenta por cento do peso do teu corpo…

É água,

E o resto…

Merda,

E o quase nada,

Depois,

Temos a luz vestida de noite,

Lindíssima como as estrelas,

Lindíssima como sempre,

A sempre bela noite,

Bela e puta…

Também ela,

Tal como eu,

Um pedacinho de nada,

Uma molécula de desejo… nos olhos da alvorada,

Dentro de um recipiente…

A poeira do teu corpo,

 

Não,

Não podemos ser tudo,

Quando nasceste para ser o nada,

Quando nasceste travestido de equação matemática,

Complexa…

Ordinária equação complexa do terceiro grau ou do quarto grau…

Uma complexa equação diferencial,

De uma mão, da outra mão,

Acordam,

O nada,

E o tudo…

Ou o quase tudo,

E quase nada,

 

Sim meu amigo,

De que te servem as canções da alegre Primavera,

Quando a tua Primavera…

É quase nada,

Do nem quase tudo,

De entre o tudo e o nada,

 

Depois,

Depois dizem que estás louco,

Internam-te em psiquiatria…

E que sim,

Ao nascer do dia,

Coitado do rapaz…

Coitado dele,

E às vezes, nem tudo é o tudo,

Nem o nada é o tudo,

De nada,

Nem o nada…

Nem o tudo,

Não me digas que às vezes o nada é o tudo?

Ou quase tudo?

Quando não preciso de nada,

Não meu amigo,

Eu, eu sinceramente já não te digo nada,

Nada,

Que nem tudo é tudo,

E que nem tudo é o nada…

Quando tu,

Quando eu,

Meu grande amigo,

Somos o nada,

 

E o nada é um conjunto vazio,

Tem jarras com flores,

Tem poemas de amor e sedução,

Olha…

Tem um rio,

E tem o mar,

O mar de ninguém,

No mar de nada,

Quando o quase tudo,

Nasceu, cresceu, morreu…

Sendo o quase nada…

E do quase nada,

Vês apenas o sorriso do clitóris

Quando se ergue na tua mão… a doce madrugada…

Que de tudo,

Não tem nada.

 

 

 

 

Alijó, 01/05/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 31 de março de 2019

O fogo


A morte do fogo, quando a água das palavras, caem sobre o meu corpo,

Em chamas, em brasas.

 

E sobra nada.

 

Simplicidade, risadas…

 

O pó.

 

A madrugada.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

31/03/2019

sábado, 23 de março de 2019

O espelho


No rosto a flor queimada da madrugada,

A sombra voadora do silêncio inanimado,

Os sopros dos corpos amachucados,

Quando a minha voz, cansada, trémula… se desfaz,

Em pequenas gotículas de geada,

O triangulo, o quadrado,

A canção revoltada,

Pelas palavras,

Do nada.

A boca silenciada,

Para mim, tanto faz,

Que seja de manhã, anoitecer…

Ou nada,

No rosto, as lágrimas dos telhados,

Nas sílabas incendiadas por um louco,

De tudo, nada,

Ou pouco.

A geada madrugada,

Os camuflados sorrisos do nada,

Coitados,

Tanto trabalhar,

Tanto amor,

Que de uma flor,

Vê-se o mar

E o nada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

23/03/2019

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Tsunamis...

foto de: A&M ART and Photos

A nocturna profecia do chorado sexo oral
o carro estacionado junto às lágrimas da Barragem embrionária
um barco apita
e da tua boca delírios de sémen como tempestades de silêncio...
a nocturna loucura do sexo entre as tuas mãos
e tu acreditando nas estrelas inventando labaredas de cinza como bonecos de peluche entre as tuas coxas
dizes que adoras o sexo pelo sexo
e choras como uma cabra embainhada nas ardósias dos tristes Tsunamis...
e antes deles as desejadas ejaculações na tua boca de fresta cinzenta
e antes deles... as tuas mãos deambulando gotículas de suor
vomitas os sons gemidos do prazer...
e no fim... arrotas... arrotas como uma criança acabada de acordar...
puta desalmada
cabra cansada pulando de carro em carro de cama em cama... e de cidade em cidade...
pinheiro bravio infernizando as sílabas do medo
trazes em ti o veneno
e a triste vergonha de seres como és...
a nocturna profecia do chorado sexo oral
rompendo a madrugada
descendo calçadas
subindo
subindo escadas... descalça... triste e puta... só
procurando pénis em todos os andares da ruína cidade dos ventos
e provocas e provocas... não percebendo tu que as estrelas são a limalha do ódio...



(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 10 de Janeiro de 2014