sábado, 29 de fevereiro de 2020
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020
Poemas e Textos Dispersos – Calçada da Ajuda
Novo
livro de Francisco Luís Fontinha
Preço
– 14,90€
Para
encomendas, mensagem privada.
À
venda na papelaria miminho – Alijó.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020
As sombras do silêncio
Acordava
do sono emagrecido,
O
homem da nuvem embriagada,
Cansado,
Perdido,
E,
reclamava,
E,
gritava,
A
palavra enfeitiçada.
E,
hoje, nas camufladas ruas da cidade esquecida,
Embrenhado
na poesia, a canção do adormecido,
O
homem, cansado, denegrido,
Escreve
sem ânimo,
Desiludido…
Dos
alicerces envergonhados.
Rezam
pela sua alma,
Coitado,
Sem
nome,
Degolado
pela tempestade,
O
homem, o mesmo homem, o cansado,
Pegas
nas palavras da reza em seu poder,
Desorganiza-se,
Veste-se
de negro,
Negro,
negrito, negrinho,
Como
o gato do vizinho,
Dançando
na eira das espigas adormecidas.
As
sombras do silêncio,
A
alvorada da sinfonia que jaz na ribeira,
O
rio, em delírio,
O
rio, desconectado da vida,
E,
corre,
E,
dorme,
Nas
almas do mar.
O
mar tudo engole, e, tudo mastiga,
Pessoas,
lixo, palavras, o vento…
Uma
laranja, sofre,
E,
vive,
E,
morre,
Dentro
da laranja adormecida.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
24/02/2020
domingo, 16 de fevereiro de 2020
Negrito, negrito.
Negrito,
negrito,
Grito,
Gato,
To,
Miau.
Negrito,
Passeia-se
pelo destino,
Desenha
no pavimento,
Um
grito,
Ou
silêncio de menino.
Negrito,
negrito,
Quando
o cansaço acorda,
Corda,
No
pescoço do periquito.
Negrito,
negrito,
Assobio,
Matinal
alvoroço,
Em
fastio,
O
tio,
Demãos
no bolso.
Negrito,
Negrito,
pois então,
Calma,
calma companheiro,
Que
ele, o gatito,
Não
é difícil de passar a mão.
Ai,
negrito,
Então,
pois, é negrito…
Finge-se
de morto,
Morto
morrido,
Gato,
gato vadio,
Vadio
de ter sentido,
No
pulso,
Nas
mãos,
A
espingarda da loucura,
Dura,
negrito, dura,
Sem
perceber que há um grito,
Uma
palavra na ternura.
Negrito,
negrito,
Negrito,
Guito,
Guito.
Negrito.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
16/02/2020
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
Uma rosa, rosa.
Uma rosa,
Rosa,
Rosa,
No teu corpo,
Corpo,
Corpo, rosa.
Um sorriso,
Riso,
Palavras,
Lavra,
No poema,
Ema,
Riso,
Rosa,
Cama.
Um silêncio,
Lêncio,
Algures na madrugada,
Ugada,
Ada…
Uma pedra,
Pedra,
Nas palavras,
Lavras,
Quando acorda a noite,
Noite,
Oite…
Uma rosa,
Rosa,
No amor,
Rosa,
Mor,
Flor,
Lor,
Dor.
Uma pirâmide de giz,
Na ardósia nocturna da serpente,
Mente,
Ente.
Do ponto,
Onto,
Nada.
Nada, de mim.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
14/02/2020
domingo, 9 de fevereiro de 2020
As pedras do silêncio
A rua deserta, imune ao silêncio das pedras,
O cansaço das árvores, quando desce sobre a terra a soldão nocturna das acácias em flor,
Um automóvel vomita lágrimas de fumo,
Uma criança brinca na sombra dentada da tarde,
E, mesmo assim, as flores dormem nos abstractos muros da insónia.
É tarde,
O relógio emagreceu com o tempo,
A tempestade de areia, silenciada pelas pedras em silêncio,
Que a madrugada faz florescer,
Acordam as trombetas,
As árvores, tombam à sua passagem,
Como soldados rebeldes,
Como espingardas revoltadas,
Com os homens,
Como os homens.
A noite alicerça-se aos candeeiros do medo,
Como as pedras do silêncio na manifestação junto ao rio,
A revolta contra a noite,
As nuvens emagrecidas, tontas, derramas as suas lágrimas nos arrozais,
Sem em delírio, sempre em manifestação, os homens, as mulheres,
Contra o silêncio das crianças,
Que brincam,
Que brincam na eira do milho amarelado pelo cacimbo,
O cão lateia, chama pelo dono,
Ao fundo,
A aldeia em chamas, lágrimas de prata,
Quando toda a cidade envenenada pela amargura,
Sente, sofre, a desgraça da ditadura…
Como é lindo ser pedra em silêncio,
Lápide ao cair da noite,
Palavras mortas,
Palavras tontas,
Que o menino escreveu, nas paredes da fragrância, deixando ao acaso, um caderno assassinado pelas quadrículas lamentações.
O tempo se esquece,
O almoço na mesa,
A fome de palavras, dos livros enamorados pela madrugada.
Sinto. Sinto-te neste labirinto de insónias.
Ao deitar, todas as drageias.
Que as areias alimentam.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
09/02/2020
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020
Depois, a maré ensanguentada, morre de alegria.
O
regresso nunca mais.
A
terra húmida, depois das lágrimas da tarde,
Ficou
lá, no outro destino do menino dos calções.
Todas
as sombras, choram, ditam palavras aos esqueletos de silêncio,
Que
as mãos, trémulas, seguram, enquanto cai a noite,
O
corpo, levita, desassossega na madrugada,
Sente-se
o vento, negro, prateado, nos lábios do Diabo,
O
regresso…
Nunca,
nunca mais,
Porque
a solidão namora as flores em papel, do jardim imaginário.
E
o menino, com o tempo, cresceu.
Um
relógio de luz, quando acorda o menino,
Alicerça-se
nos braços lânguidos que o espaço alimente,
Dos
calções, nada, nem a cor se aproveita,
Talvez,
as árvores, as árvores plantadas por ele,
Hoje,
nada, como os calções,
Pedaços
em madeira, trapos, lágrimas desajeitadas…
Tudo,
tudo morre, naquela terra prometida.
O
mar, enfurecido, sacia-se nas rochas metamórficas do cansaço,
Um
barco, espera pelo menino dos calções,
Estaciona-se
junto à cidade,
Homens,
marinheiros, mulheres, sem fazerem nada,
Espera
que regresse o menino,
De
longe,
De
nada,
Ninguém.
O
regresso nunca mais,
A
terra húmida, depois um finíssimo fio de nylon,
Procura
na multidão da cidade, o menino prometido,
Da
terra sonâmbula,
Que
o viu perder-se,
No
meio do capim.
Machimbombos
tropeçam nas finas lâminas da saudade,
Porque
apesar de tudo, sempre, o menino, viveu na saudade,
De
regressar, um dia,
À
sua cidade.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
03/02/2020
domingo, 2 de fevereiro de 2020
E, agora? O que será de nós depois…
E,
agora? O que será de nós depois da saudade;
Pertenciam-lhe
as palavras invisíveis das marés de prata.
A
boca mergulhava na ínfima madrugada do silêncio,
Descia
à cidade, quando acordava a noite,
Pegava
num pedaço de sombra,
Agachava-se
no pavimento húmido da solidão…
E,
gritava palavras de amor.
E,
agora? Que a tempestade regressou de ontem,
Traz
consigo os dois cansados cadáveres da única memória que lhe restava,
Os
homens entre guerras e coisas simples, banais,
Percorriam
as ruelas sem saída, suspendiam pinturas nas janelas do horror,
Para
que as crianças conseguissem adormecer,
Nesta
cidade de “merda”, sem dormitórios, sem palavras abstractas,
Que
pertencem aos livros de poesia.
O
corpo arrefece sobre a lápide fria da manhã,
O
silêncio vem em direcção ao peito,
Como
uma flecha, e, o sangue corre para os canaviais…
Tinha
medo da saudade,
E,
agora?
O
que será de nós, depois da saudade, quando alguém procura o corpo amachucado
pela violência dos gritos do homem de chapéu negro,
Seu
nome Chapelhudo, vestido de pássaro nocturno,
Quando
as palavras emergem e, tudo à volta morre, extingue-se em finíssimos pedaços de
carvão,
O
desenho acorda,
Mergulha
na tela da saudade,
Sempre
ela, a saudade dos dias, da noite, dos candeeiros a petróleo…
E,
agora? Nada.
Apenas
um sorriso,
Flácido,
Triste,
Porque
sim;
Cansado
da vida.
Chapelhudo,
morre. E todas as palavras do menino branco.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
02/02/2020
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