domingo, 11 de setembro de 2016

O suicídio da pobreza


O sonho morre nas mãos do luar,

A insónia do meu peito, arde nos teus olhos,

E do sonho, pequenos panfletos de areia… voam em direcção ao abismo,

O papel onde escrevo alicerça-se aos teus lábios,

Fico sem palavras, também morro nas pétalas do sonho…

Fixando no olhar a tristeza do mar,

Assassino os meus dias com as pedras da solidão,

Cravo espadas na sombra da noite, como um pedestal apaixonado,

Louco,

O sonho morre,

Como eu…, aos poucos dentro da tempestade,

Sinto nas tuas mãos o poema em sofrimento,

Rodeado de finas lâminas de desassossego,

Nas mãos do luar,

Arde nos teus olhos,

Como um Deus desvairado…

Suspenso na madrugada,

Galgo as rochas do infinito adeus,

Percorro pirâmides de luz como uma espada queimada no meu peito,

E choro a ausência do esquecimento,

Da vida,

Da vida camuflada pelas marés de Inverno,

Os barcos cercados pelos anzóis da pobreza,

Marinheiros escorregadios…, saltam até ao próximo bar,

Bebem desenfreadamente os copos da alegria,

Sentindo no olhar a Cinderela manhã de inferno,

Escoa-se o tempo nas janelas do sofrimento,

Há nas pálpebras da doença o sentido proibido da morte,

As nuvens vão levar-me,

E a cidade desaparece no caderno onde desenho os teus beijos,

Como desapareceram todos os fantasmas do meu secreto olhar…

 

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 11 de Setembro de 2016

sábado, 10 de setembro de 2016

O medo dos teus olhos


Tenho medo dos teus olhos

Quando a noite inventa tempestades nos teus lábios,

Tenho medo do silêncio,

Medo do luar…

Tenho medo de amar…

Quando próximo do teu rio

Um tubarão espera por ti,

Tenho medo das tuas mãos

Quando os socalcos sobem à aldeia

E o teu corpo se transforma em perfume…

Tenho medo do teu cabelo

Entrelaçado no xisto da manhã

E um fino fio de oiro…

Vive na tua boca,

O beijo acorda do sonâmbulo relógio de prata,

Temos um horário moribundo,

Caquéctico

E sujo…

No pulso da solidão,

Tenho medo da cidade

Que habita nos teus seios

E expulsa todos os corações apaixonados…

Tenho medo dos bichos de papel

Que invadem os teus braços

E lançam sobre o oceano o medo…

O medo de ter medo

Dos teus olhos

Das tuas lágrimas,

Tenho medo da tua sombra

Incandescente

E triste

Nos jardins imaginários…

Tenho medo dos teus olhos

Que me alimentam a insónia…

Tenho medo dos amigos

Que inventam amigos e de amigos nada têm…

Tenho medo das pedras

Dos triciclos em pedra

E das madrugadas sem dormir…

Tenho medo da partida…

E de não regressar mais a mim

O medo dos teus olhos.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 10 de Setembro de 2016

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A tempestade da saudade


Os cabelos negros

Poisavam na tempestade da saudade,

Uma rocha adormecia na tua mão

Vinda do longínquo oceano…

Insaciável, indiferente à liberdade

Das cidades ardidas,

Os cabelos negros…

Em réstias de silêncio

Camuflados pela madrugada das sonâmbulas palavras,

Um cigarro abandonado,

Triste como eu…

Sentado nos teus lábios de chocolate,

Ele caminha e sente

O perfume da solidão

E os candeeiros da insónia…

Mas a liberdade… nunca morrerá,

Nem desaparece…

Dos finais de tarde junto ao rio,

Os cabelos negros

Poisavam na tempestade da saudade…

E me diziam que amanhã

Nascerá um poema no teu corpo,

Em revolta,

Na lâmina fina e húmida da felicidade…

Ele morrerá,

Ele morrerá acorrentado ao estrado do sono…

E só acordará…

Nas lágrimas dos cabelos negros.

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 7 de Setembro de 2016

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Fotografia


Sobre a poeira adormecida,

Deito o meu corpo putrefacto,

Cansado da escuridão,

Sobre a poeira esquecida,

Caminho inventando ruas…

E solstícios de solidão,

Sobre a poeira da vida…

Os míseros sorrisos do amor,

Que invadem na noite o meu coração,

Sobre a poeira emagrecida,

Sinto o teu corpo em papel…

Ardendo na fogueira minha mão,

Sobre a poeira ardida…

Os meus braços de xisto algemado…

Galgando as planícies do Verão.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 2 de Setembro de 2016

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Poema em cio


Desesperadamente

as minhas palavras

coladas no vidro da morte

em pedacinhos amargos

a boca do poema

em cio

mergulha ele dentro do silêncio

no desejo dos barcos entre as estrelas de papel

e a noite de fingir

assisto ao fim da noite

quando das vaginais madrugadas

ouvem-se os uivos das acácias em flor

 

desesperadamente

as minhas palavras

nos meus pequenos desejos de silêncio amargo

caminhar dentro do mar

antes de acordar o pôr-do-sol

 

dos vidros da morte

as minhas mãos em crustáceos de glicerina

os cogumelos da vaidade em sombras sibilas

e a laranja do amor

aos poemas loucos

as migalhas do aço inoxidável

nos olhos do deus do cio

desesperadamente

 

(desesperadamente

as minhas palavras

coladas no vidro da morte)

 

e a morte vive no meu corpo

desde o dia que acordei poema em cio

e todas as janelas da poesia não tinham visibilidade para o mar

e todos os barcos

e todos os barcos ouviam-se dentro das estrelas de papel...

 

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 29 de Agosto de 2016

sábado, 27 de agosto de 2016

prisão


a tempestade cessou

nos meus braços de sonâmbulo, acorrentado

ao cais da saudade

imagino a madrugada adormecida, distante das pálpebras quebradas,

a tempestade cessou

no meu corpo escorregadio pelo suor da solidão,

vejo os tentáculos das palavras,

mortas,

ou quase mortas… em mim, em ti…

os velhos pilares de areia,

sinto a escuridão dos dias

quando tu não estás no meu círculo cinzento

que os barcos transportaram para o longínquo cemitério de pedra,

e antes da tempestade cessar,

antes de acordar em mim o sono,

tínhamos uma cama imaginária

que nos abraçava quando regressava o luar…

os lençóis em linho perfeito,

desenhos bordados pelas tuas mãos,

desenhos desenhados pelo meu olhar…

cansado olhar,

de te ver e ouvir,

quando cessou a tempestade,

e juntos…

e juntos ficamos presos ao mar.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 27 de Agosto de 2016

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Terra salgada


Terra salgada,

esta,

onde escrevo,

e habito desordenadamente só…

terra de encantos,

e mortos,

palavras que o vento enrola,

palavras sós,

palavras soltas e livres,

terra de sofrimentos,

e esqueletos prateados pela geada…

terra salgada,

esta,

onde escrevo o teu nome…

sem nome,

nunca tiveste um nome,

apenas palavras dispersas,

palavras cambaleando na noite,

agreste,

fria,

a gente se enfurece,

a gente protesta…

e esta terra…

esta…

terra salgada,

triste ao luar,

alegre na madrugada,

esta terra merece…

um nome,

um beijo com nome…

terra salgada,

Agosto em raiva,

quase Setembro à porta…

e

e esta,

terra salgada…

chora.

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 18 de Agosto de 2016

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O infeliz da madrugada


O esplendido silêncio amargo do corpo

Nas frestas cansadas da solidão

O derradeiro sopro

Insignificante

Que abraça este desiludido coração…

Quando amanhece

E finalmente

Os teus braços me lançam na madrugada

E esquecem

Aquele que não conhece

Os sonâmbulos que aquece…

A alma infeliz e rasgada.

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 11 de Agosto de 2016