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segunda-feira, 27 de abril de 2020
terça-feira, 21 de abril de 2020
domingo, 29 de março de 2020
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Poema em cio
Desesperadamente
as minhas palavras
coladas no vidro da
morte
em pedacinhos
amargos
a boca do poema
em cio
mergulha ele dentro
do silêncio
no desejo dos barcos
entre as estrelas de papel
e a noite de fingir
assisto ao fim da
noite
quando das vaginais
madrugadas
ouvem-se os uivos
das acácias em flor
desesperadamente
as minhas palavras
nos meus pequenos
desejos de silêncio amargo
caminhar dentro do
mar
antes de acordar o
pôr-do-sol
dos vidros da morte
as minhas mãos em crustáceos
de glicerina
os cogumelos da
vaidade em sombras sibilas
e a laranja do amor
aos poemas loucos
as migalhas do aço
inoxidável
nos olhos do deus do
cio
desesperadamente
(desesperadamente
as minhas palavras
coladas no vidro da
morte)
e a morte vive no
meu corpo
desde o dia que
acordei poema em cio
e todas as janelas
da poesia não tinham visibilidade para o mar
e todos os barcos
e todos os barcos
ouviam-se dentro das estrelas de papel...
Francisco Luís
Fontinha
segunda-feira, 29 de
Agosto de 2016
terça-feira, 16 de agosto de 2016
terça-feira, 2 de agosto de 2016
(…)
Triste?
Que algo de triste ia acontecer, e
aconteceu, e.… senti-me ténue nas mãos garras da gaivota sem nome, pediram-me a
certidão de nascimento, acanhadamente respondi-lhes que não a tinha, que nunca
a tive, porque
Sou,
Sentia-lhe o cheiro da naftalina
nas roupas emagrecidas, e eu
Sou, sou um apátrida com dentes de
marfim, e eu, eu sabia que morreria como um rio de encontro ao mar, que
morreria como um barco encalhado num velho quintal de um velho bairro onde
habitavam velhas casas, com velhas árvores, onde viviam velhos
Sou,
Pássaros como bolas de naftalina,
como beijos prometidos e nunca dados, como beijos perdidos na avenida longínqua
da saudade, e sentia-te sentir na minha mão os teus velhos lábios, os teus
lábios inventados pelo batom encarnado, e de uma roulotte ouviam-se-lhe os
gritos da distância, no oitavo andar sentia-lhe os sons amorfos encurralados na
janela de porcelana, ele chorava entre as linhas do velho, também ele, do velho
Caderno quadriculado?
Um lindo poema morre, e sou,
sentia-lhe o cheiro da naftalina nas roupas emagrecidas, e eu conversava com as
também velhas sombras de Deus, e de nada percebia, queríamos conversar e não
tínhamos todas as palavras necessárias, Deus imaginava-me um louco vestido de
andaime suspenso num oitavo andar da memória, Deus queria-me e eu sentia-lhe os
sonoros melódicos suspiros do velho piano de cauda, um livro estava com febre,
uma mão agachada no capim, tristemente agoniada... mão, não tinha força para se
levantar, para gritar, para chamar os velhos pássaros que viviam nas velhas
árvores no velho quintal,
Caderno quadriculado?
Sou,
Sou, sou um apátrida com dentes de
marfim, e eu, eu sabia que morreria como um rio de encontro ao mar, que
morreria como um barco encalhado num velho quintal de um velho bairro onde
habitavam velhas casas, com velhas árvores, onde viviam velhos meninos, e que
vestiam velhos calções e calçavam velhas sandálias... e nas mãos
Nas mãos velhos papagaios em papel
pardo,
E nas mãos sentia-lhe o nome “pai”,
e ele percebia o meu choro, as minhas lágrimas, como percebeu muito mais tarde
o meu sonho...
Outros espiavam-nos juntos às
bananeiras com quatro cadeiras e um círculo de sombra, fervíamos um no outro, e
outros, e outras, aos poucos apenas o silêncio do teu corpo fervilhando entre
os meus dedos, outros, e outras, aos poucos o teu púbis vulcânico descia a
montanha do Adeus, e cada vez mais longe
Fervilhando,
Fervíamos,
Deixávamos os meninos em volta de
pequenas poças de água, tinha chovido, a terra cheirava a fogo, e o céu
começava a clarear como acontecia com as janelas da velha barcaça que nos
levava até ao paradisíaco Mussulo, eu, eu amava-o, e tu, tu apenas encolhias as
pernas, e sobre ti um lenço de desejo te absorvia, flutuavas como uma abelha
dentro da cubata, rodavas em pequenos círculos trigonométricos, e dos teus
lábios um líquido amargo com sorriso de co-seno desenhava-te na face esquerda
uma parábola, a equação descia-te até enrolar-se nos teus tornozelos de areia
branca, palmeiras e outros, e outras
Fervilhando,
Fervíamos,
E outras melodias esperavam no cais
pelo desejado embarque, deixei-te para nunca mais poisar-me sobre ti, voando,
eu, eu ainda tentei..., mas caí sobre o Oceano, mergulhei acreditando
encontrar-te lá muito no fundo, mas
Fervilhando,
Pedras e nada mais,
O pôr-do-sol era triste,
fervilhavas nos meus longos dedos, e os teus gemidos alimentavam todo o espaço
vazio da cubata, não tínhamos sequer onde poisar uma gotícula de sémen, não
tínhamos sequer onde deixar suspenso na madeira misturada com zinco o crucifixo
que tínhamos trazido do outro lado da cidade, antes de partirmos, antes de te
deixar sobre o cais..., e quando percebi
Fervilhando,
Pedras e nada mais,
Percebi que tinhas desaparecido
entre o cacimbo e a saudade, percebi que tinhas zarpado como a nossa velha
barcaça, procurei por ti, inventei desculpas, cheguei a descer às profundezas
do Tejo, entrei em Cais do Sodré, bebi, embriaguei-me, dancei sobre mesas e
cadeiras, cambaleei até Belém, atravessei os carris e sentei-me junto ao
rio..., fervíamos como líquidos amargos na imensidão dos botões de rosa, alguns
bravios, outros, outros mórbidos, outras..., outros sem vida, e nada, e
ninguém, nem sequer um simples peixe... para me informar do teu paradeiro,
percebi que a nossa cubata tinha ardido, anos mais tarde, percebi que o teu
corpo tinha crescido, mudado de forma, percebi que estávamos velhos, como o
espelho da casa de banho, quando hoje me olha e diz-me
Fervilhando,
Fervíamos,
E eu, eu... no cais pelo desejado embarque...
Como ser feliz quando não se é
feliz, como, como acreditar... como confiar... como?
Sendo,
E apenas, voando como as nuvens de
chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados
invisíveis, acreditando?
Sendo, parecendo ser e não o ser,
esperar, esperar, só, sentado, num banco em pedra, frio e húmido, de esqueleto
quebrado, os ossos acabados de submergir das profundezas vozes sem as ditas
Palavras?
As loucas palavras?
Sendo, eu sei, voando, se eu
soubesse, voava dentro de ti, teu corpo de magnólia com perfume a desejo, e
ficando, e deixando
As loucas palavras?
Como retirara venda dos olhos, se
ela, se ela é de aço maciço, como cordas de sisal suspensas do céu, servindo,
como acreditando, apenas para acolher com doçura as velhas e cansadas árvores,
as alegres e as tristes, como nós, e apenas, voando, e sendo, como tu, sofrendo
como tu, apenas, assim.… como as algibeiras da noite rompendo a madrugada e
pintando o sobejante com acrílicos em cadáveres, quase a serem enterrados vivos
na fogueira, sendo, acreditando e
Palavras?
As loucas palavras?
Sofrendo, e ardendo em ti quando
transportas contigo a fogueira inventada numa noite de Inverno, quando
sentados, nós, desenhávamos o fogo nas paredes do escritório, como acreditar?
Acreditando,
E
E como confiar?
Confiando,
Não o sei, apagando esse fogo,
ouvindo a música das plantas, simplesmente... ouvindo e sonhando e
Acreditando?
Deixara de chover, a máquina de
lavar roupa pifou uma vez mais, constipação, ou
Fígado,
Ou
Talvez não,
Não temos tempo para despedidas,
Pedro, O senhor Alberto para o filho que parecia uma abelha em círculos de luz
às voltas do avô João, o carro pronto a avançar estrada fora, recheado de
pequenas miudezas, batatas e couves, chouriços e presunto, pão de milho, e o
Opel Kadett de 1964 aos soluços como os bebés depois de nascerem enquanto aguardam
a chegada do babado pai e a enfermeira
É um menino,
Fígado,
Ou
Talvez não,
O pai retractava o filho com
imagens a preto e branco, no tornozelo uma fitinha azul com o nome e o dos
progenitores, e se fosse hoje, e se fosse hoje juro
Pifou
E deixara de chover.
In “Noites de mim”
Francisco Luís Fontinha
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
E poisava-me a mão sobre os meus
débeis joelhos, não falava, nada dizia, e talvez escrevesse dentro dele
Eu também, minha querida, eu
também..., mas diz-lhes que eu não estou,
E eu, esperava-o, sentava-me sobre
a meia-lua do prazer, pegava num livro, lia qualquer coisa, e fechava-o, e
recordava o cisco de oliveira cilindrado dentro de uma lareira de prata numa
cozinha de aldeia, cansei-me, cansei-me
De ti,
Uma mala de chapa uivava junto aos
meus pés, lá dentro, apenas papeis e livros, e claro, senhor anormal, os livros
são constituídos por folhas de papel, logo
Os livros também são papeis,
Então trouxeste de tão longe, uma
mala
Sim?
Uma mala de chapa e recheada com
papeis,
De ti,
Porquê padrinho? Porque tens medo
de mim?
E a meia-lua desesperadamente voava
sobre os desvairados plátanos do pensamento, havia lápis de cor e folhas de
cartolina, sobre os meus joelhos, a mão dele, sentia-a, como mais tarde senti a
mão da solidão no interior do meu púbis, como mais tarde senti nas minhas
coxas, sim padrinho
A sua suave voz melódica e poética
que Deus criou, como as nuvens e os infernos das flores em putrefacção, corpos
de carne misturados em bocas de mar que as árvores tanto invejam, Percebe-me,
padrinho?
Não, não consigo imagina-te...
Sentada neste sofá à espera que
você regresse?
E se eu não regressar?
in
“Noites de Mim”
Francisco
Luís Fontinha
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
Ele desaparecia do meu imaginário, acendiam-se os
holofotes da glória e da fortuna, ao longe o comboio deslizava suavemente sobre
o pavimento improvisado quando da montagem dos milhentos ferros e ferros e
companhia falida, aproximava-se do banco de jardim onde me sentava, sentia
Ouvia-se perfeitamente o cheiro do rio dentro das
clarabóias das paixões proibidas pela loucura, das flores felizes, e infelizes,
a tristeza
Aos trambolhões da nuvem número três, tempos depois,
privatizada, deixou de chover, morreram todos os comboios e todos os circos e
todos os jardins, ele, e
E docemente colocava a sua cabeça no meu ombro
esquerdo, eu, eu sorria, e desacreditava-me que seria possível encher todo
aquele espaço, e minutos depois,
Morreu,
Não sabia, sempre pensei que tinha sido privatizada,
E paz à sua alma,
Amém,
Os rios?
Não me digas que os rios são de pedra, porque, não o
são, não, não me digas que a fome é invisível, porque, não o é, não, não me
digas que o teu corpo é inacessível, como uma janela altíssima, quase junto à
lua, porque eu não acredito que ele esteja tão longe de mim, não
(é atarde ainda para pegar na tua mão)
Não, não acredito, e por favor, não me digas que a
chuva são as lágrimas de Deus, porque, não o são, não, não
(imerso nas profundezas da tristeza que a tarde
aproxima com a ajuda do vento, imerso nos cabelos das nuvens sabendo que não
existem nuvens, e pergunto-me, o que tenho eu nos meus lábios? Qualquer coisa
estranha e parecida com os cabelos de um ser humano, com esqueleto e na boca
sinto-lhe pequenos orifícios, cavernas melhor dizendo, e escrevendo, e dizem-me
que não podem ser lábios porque não existem lábios nas nuvens, E, E se não
foram nuvens que o vento trouxe? Que trouxe então o vento? E se em vez de
tristeza, não, não são profundas nem tristes..., E se forem? E se a água da
chuva forem as lágrimas de Deus?)
Não, Não o são, porque se o fossem, eu saberia, não,
não me digas que hoje é terça-feira, porque não o é, porque se o fosse, eu, eu
estaria completamente quilhado, pois era hoje que partiria para a eterna viagem
de barco para o longínquo
(de pedra, os rios?)
Oh minha querida, como poderiam ser de pedra os
rios..., como caminhavam os barcos no interior das pedras? Não, não o são,
não...
(e o mar, meu querido?)
Não, não acredito, e por favor, não me digas que a
chuva são as lágrimas de Deus, porque, não o são, não, não, e, no entanto, é
tarde e eu sem entrar em casa, e, no entanto, caminho sobre um rio que se tu
não estivesses ao meu lado, juro, com medo que me oiças, dir-te-ia que o rio
onde caminho é de pedra sim, sim o é, mas não o digo, para não o ouvires,
porque vais logo dizer
(VÊS COMO EU TINHA RAZÃO!)
E, não, não a tinhas,
(de pedra, os rios?)
Não a tinhas e nunca a tiveste, aparecias-me como se
eu fosse o teu canino de estimação, colocavas-me uma gravata de plásticos, um
pouco comprida diga-se, e pegavas em mim e levavas-me para o jardim em frente à
nossa casa, um sexto andar em ruínas, sem elevador, com alguns dos degraus
completamente embriagados pelo silêncio e pela escuridão, não tínhamos luz, e
quando forçado a erguer-me do chão e subir até ao tecto do céu, três degraus
depois, estava a cerca de seis degraus do local de partida, assim
(não, não)
Tão pequeninos, assim tão próximos dos alicerces
fortificados pelas mãos calejadas quando pendurávamos o cigarro na beirinha da
grade da varanda, e
(já agora vais dizer-me que os barcos são de papel,
não?)
Não, não, e, quando percebíamos... o cigarro com a
ajuda do vento e da lei da gravidade, pumba... mesmo no centro do capô do
automóvel estacionado na rua, coitado dele, e um deslumbre cinzento começava a
erguer-se, e a erguer-se, até que acabou por desaparecer, eu tremia, o medo que
ele se incendiasse, eu quase que me lancei da varanda para mais depressa
conseguir resolver aquilo que o vento tinha provocado, e não me lancei e o
automóvel não ardeu, E será que o vento apenas trouxe nuvens com cabelos e
cavernas? Mas, tu não acreditas em nuvens com cabelos e cavernas!
Tão pequeninos, assim tão próximos dos alicerces
fortificados pelas mãos calejadas quando pendurávamos o cigarro na beirinha da
grade da varanda, e
(já agora vais dizer-me que os barcos são de papel,
não?)
E neste momento acredito que os cigarros inventem
dores de cabeça na copa das árvores, porque se assim não o fosse, os pássaros
fumavam, os frutos fumavam, as folhas fumavam, a chuva que dizes ser as
lágrimas de Deus, fumavam, e como sabes, não fumam...
Árvores, pássaros, frutos, folhas, ou mesmo, como tu
gostas de o dizer, as lágrimas de Deus, aquelas que ultimamente não nos largam,
dia e noite, já não bastava não termos luz, água canalizada ou gás, ainda temos
o problema do telhados, como qualquer coisa relacionado com bicos de papagaio,
e claro, entra-nos as lágrimas sobre os cobertores embrulhados em insónias e
soluços de Carnaval, aparentemente, desisto de construir um lugar seguro,
eterno, com os rios de pedra, porque a tua teimosia, porque a falta de cigarros
(VÊS COMO EU TINHA RAZÃO!),
Eu
Também, respondia-lhe, morreu, vendem-se laranjas,
vendem-se livros, quadros, ele
E docemente colocava a sua cabeça no meu ombro
esquerdo, eu, eu sorria, e desacreditava-me que seria possível encher todo
aquele espaço, e minutos depois
Fingia que eu era um estranho, louco, pouco, talvez
dizimado pelas sombras das noites cobertas por um oleado de vidro, estrelas em
pétalas azuis suspensas nas orelhas das madames à porta do cabaré, e sempre que
lhe perguntava
Quem é?
Respondiam-me,
Não sabemos, não sabemos
Ínfimas películas de tristeza que o vento trazia,
adormeciam, depois, sobre as águas dilatadas que a nuvem número três deixou
escorregar sobre
Não sabemos,
Morreu,
Não sabia, sempre pensei que tinha sido privatizada,
E paz à sua alma,
Amém,
Eu
Também, sempre que posso, sempre que me deixam, ele
Morreu,
Não sabia, sempre pensei que tinha sido privatizada,
E paz à sua alma,
Amém,
Eu,
Não somos o vento, porque se o fossemos... tínhamos nas
mãos asas... e temos dedos, dedos de acariciar corpos sofrendo, corpos
desejando, corpos... acreditando,
Deve vir de longe, pensei,
E eu, eu ali, suspenso entre o olhar obtuso e a
penumbra neblina do fumo do meu pobre cigarro, comecei a manuseá-lo como se fosse
o rosto de alguém desconhecido, alguém que pela primeira vez tocava nas minhas
mãos, senti um leve arrepio e sou embrulhado em palavras, confesso, palavras
que nunca na minha vida de carteiro tinha encontrado, tocado..., ou, tocar
toquei..., mas apenas nos selos, e por alguns minutos,
Me perdi,
desencontrei, me amei…
(ficção)
In “Noites de Mim”
Francisco Luís Fontinha – Alijó
quarta-feira, 25 de junho de 2014
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