E poisava-me a mão sobre os meus
débeis joelhos, não falava, nada dizia, e talvez escrevesse dentro dele
Eu também, minha querida, eu
também..., mas diz-lhes que eu não estou,
E eu, esperava-o, sentava-me sobre
a meia-lua do prazer, pegava num livro, lia qualquer coisa, e fechava-o, e
recordava o cisco de oliveira cilindrado dentro de uma lareira de prata numa
cozinha de aldeia, cansei-me, cansei-me
De ti,
Uma mala de chapa uivava junto aos
meus pés, lá dentro, apenas papeis e livros, e claro, senhor anormal, os livros
são constituídos por folhas de papel, logo
Os livros também são papeis,
Então trouxeste de tão longe, uma
mala
Sim?
Uma mala de chapa e recheada com
papeis,
De ti,
Porquê padrinho? Porque tens medo
de mim?
E a meia-lua desesperadamente voava
sobre os desvairados plátanos do pensamento, havia lápis de cor e folhas de
cartolina, sobre os meus joelhos, a mão dele, sentia-a, como mais tarde senti a
mão da solidão no interior do meu púbis, como mais tarde senti nas minhas
coxas, sim padrinho
A sua suave voz melódica e poética
que Deus criou, como as nuvens e os infernos das flores em putrefacção, corpos
de carne misturados em bocas de mar que as árvores tanto invejam, Percebe-me,
padrinho?
Não, não consigo imagina-te...
Sentada neste sofá à espera que
você regresse?
E se eu não regressar?
in
“Noites de Mim”
Francisco
Luís Fontinha
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