quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Cidade abandonada

Sentíamos o vento saltitar na janela dos sonhos,
Havia em nós a clandestinidade de um amor proibido,
Sem sentido… como quase todos os amores,
Livros,
Líamos os textos que durante anos viveram encaixotados na ínfima sombra da madrugada,
Mas nada,
Nada tinha vida nesta cidade abandonada,
Desenhávamos beijos nos socalcos sorrisos da solidão,
Pegava na tua mão…
E sabia que uma gaivota
Brincava no teu cabelo,
Como brinca hoje no meu cabelo o silêncio envenenado pela paixão…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 6 de Agosto de 2015


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Agradecimento

Fernando Martins Fontinha
29-11-1938 / 29-07-2015
 
Em todas as guerras há sempre um vencedor e um vencido. Infelizmente perdemos a guerra e venceu a doença. Nem sempre é assim, e é com enorme felicidade quando temos conhecimento que alguém ganha esta guerra.
Tudo foi feito por parte do IPO-Porto e seus Profissionais, tal como da nossa parte, eu e a minha mãe.
Quando se fala tão mal do nosso SNS, apenas queria deixar algumas considerações; se o meu pai tivesse uma vida contributiva até aos 100 anos, provavelmente não pagaria um décimo do que esta Instituição gastou com ele (cirurgia, radioterapia, quimioterapia, tratamentos inovadores, PET´S vários…, etc.). Nunca nos disseram que não fazia isto ou aquilo porque era dispendioso.
Durante as sete semanas de Radioterapia ficou na Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte sem qualquer custo para nós. Veio a falecer na Unidade de Cuidados Paliativos sita no edifício da Liga Portuguesa contra o Cancro.
Perdemos a guerra mas o nosso “General” tombou com toda a dignidade, nunca recusou nenhum tratamento, nunca nos falou que ia morrer… lutou até ao último segundo de vida.
 
Agradecemos:
 
IPO-Porto e todos os seus Profissionais. Foram fantásticos;
Liga Portuguesa contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte e seus voluntários;
Unidade de Cuidados Paliativos do IPO-Porto e todos os seus Profissionais;
ECCI de Alijó;
Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alijó (Direcção, Comando e Corpo Activo). Um grande obrigado por todo o apoio e amizade;
Aos nossos familiares e amigos;
 
Terminamos com a mensagem recebida de uma Profissional da Clinica da Pele, Tecidos Moles e Ossos, após o conhecimento do falecimento do nosso ente-querido:
 
Sinto muito, mesmo muito Sr Francisco! O Sr Fontinha foi um guerreiro, um lutador, Grande Homem! O senhor foi um filho exemplar, sempre presente e a acompanha-lo e a sua mãe uma grande mulher, uma verdadeira companheira! Partilhamos a vossa dor... vocês são o exemplo do que uma família "a sério" deve ser, muitos parabéns por isso! Um grande beijinho de toda a equipa.”
 
Obrigado a todos
 
Arminda Fontinha
Francisco Luís Fontinha


Sombra


Todas as coisas belas… morrem,

Morrem as palavras,

Os livros, as searas enganadas,

Morrem os cadáveres de lona,

As flores,

O amor,

E insónia,

Não tenho Pátria,

Dizem que nasci algures na sombra de uma palmeira,

Amo-te,

Quando as fores,

Morrem junto aos cadáveres de lona…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 5 de Agosto de 2015

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Nunca mais vi o mar


Sabia que a Primavera terminaria brevemente,

As flores em papel que brincavam nas tuas mãos,

Cessaram…

Recordo os teus beijos junto a dois carris invisíveis,

Sabíamos que tínhamos um Cacilheiro em cada braço,

O cheiro do teu corpo voando no olhar dos marinheiros sem Pátria,

É triste o amor, meu amor…

É triste a tristeza, meu amor,

Como são tristes todas as palavras embrulhadas na solidão,

Meu amor…

 

Desenhei o teu rosto infinitamente nas lágrimas da noite,

Olhava-te,

E sentia o odor do teu cabelo nas réstias sombras da tinta embriagada pelo luar,

Morre a tela onde poisava o teu corpo de seara embarcadiça,

 

O Oceano entre quatro paredes,

Uma porta com fotografia para o rochedo da insónia,

 

… Meu amor, o que é a insónia!

 

Sabia que todas as luzes do eléctrico fugiram para um qualquer bar de Alcântara,

Os barcos na minha algibeira,

O silêncio junto à casa de banho…

E sentia-me um pedaço de vidro combatendo a morte,

Sabes, meu amor,

Desenhei a tua voz no meu peito cravado de palavras,

Nunca mias vi o mar…

 

Meu amor,

 

O sexo enlatado nos melódicos sons do vizinho do quarto esquerdo,

Range a cama,

Sinto a minha voz escondida no espelho da minha amante,

E meu amor,

Nunca mais vi o mar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 4 de Agosto de 2015

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Fuga


Sinto o Tejo cravado no peito,

Acaricio os cigarros olhando a ponte,

Pego na tua mão,

Permaneço secreto como os barcos que brincam nos nossos lábios,

Desenho beijos na face oculta do teu olhar,

E vejo a alegria entranhada nos teus cabelos,

Sinto o Tejo cravado no peito,

A paixão esperando o regresso do vento,

As palavras deixaram de habitar as cartas envidraçadas,

Cerrei todos os livros,

E todas as madrugadas,

Hoje, és uma rua deserta,

 

Perdida na cidade…

Sem nome,

Sem nada…

Sofro,

Tenho no rosto as lágrimas argamassadas da fuga,

Quero fugir,

Sem rumo,

Procurando o Tejo cravado no peito,

 

Ou pegar na tua mão…

 

Sem jeito,

 

Sem Tejo cravado no coração.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 3 de Agosto de 2015

domingo, 2 de agosto de 2015

Fogueira dos beijos

Apago o apito da sinalização em direcção à paixão,
Percorro os trilhos construídos pelo cansaço,
Não tenho medo…
O salivar réptil das janelas do sonho,
O amor debruçado nas clarabóias da insónia,
Habito em ti, meu amor,
Pareço uma folha de papel brincando na fogueira dos beijos,
E nos teus lábios…
A seara envenenada por um rio clandestino,
A ponte,
A passagem para os teus seios,
Neste jardins de arbustos enganados,
Dormem,
Sentem o peso do teu corpo,
Voando como uma gaivota,
Tenho pregos no meu peito, meu amor,
Apago o apito das recordações,
Vivo nesta cidade procurando a tua sombra,
Nunca mais,
Vi barcos no Tejo,
Nunca mais, meu amor,
Vi os cadernos guardando as minhas palavras,
Estou só, meu amor,
Amando, meu amor, estarei sempre só…
Como as fotografias da minha infância,
Como eu te amo… meu amor,
As madrugada debruçadas nas carcaças da poesia,
Abutres comendo os meus olhos,
Sinto-te, meu amor, junto a mim…
A ponte,
A luz que acaricia a ponte,
Ela geme,
E grita,
O orgasmo metálico das treliças,
O masturbar dos pilares em cada olhar,
Firme,
Ela sabe que amanhã não haverá noite,
Palavras,
E desejo…
Mesmo assim, meu amor,
Lisboa é a minha amante secreta…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Agosto de 2015


sábado, 1 de agosto de 2015

Então, pá?

Escondo-me nesta cidade de sombras, vou à janela e oiço o fogo das imagens prateadas no corpo inabitado, preciso de ver o mar, os barcos, os corações acorrentados à geada, escondo-me
- Acordei nas alegres palavras do silêncio folheando fotografias embainhadas nas bocas sonolentas da madrugada, fui ao espelho, do meu esqueleto saltitou a paixão, percebi que o amor… é uma estrada infinita,
No cais assombrado pelas palavras, sinto o cigarro do meu sonho, escrevo pensando que o sono é um espelho de algas finas, frágeis, quebradiças quando da tempestade,
- Então pá?
Nada,
Amanhã o perfumado piloto da minha jangada,
- Então pá?
Não o sei, tinha na mão a sangrenta visão das serpentes da noite, sabia o meu nome, percebia que eu era apenas uma pedra em granito, frio, cansado das horas travestidas de medo e lágrimas, cinco minutos debaixo de uma árvore que aos poucos fui travando amizade, hoje
- Uma amiga vestida no Verão e nua no Inverno, são assim, as árvores do meu jardim, belas, fingidas de verde correndo os Musseques da forca,
Hoje, Musseques da forca, ruas enganadas pelo Tejo, recordo os Cacilheiro de lábios pintados e de mini-saia, e eu…
Escondo-me,
Parto para o sofrimento andaime das flores gigantes, a loucura encurralada nas ruas de Lisboa, ela ama-me
- Areia fina, rochedos cinzentos afagados nos meus braços, desço a Calçada, encontro-te na infinita poesia da manhã, o café recheado de promessas, amo-te,
Os amigos ao longe, olhavam-me, fotografavam-me com as mãos calejadas da velha espingarda com balas de papel, ria-me, chorava, perdia-me
- No teu corpo, entardecia nos teus seios,
Então pá?
Desciam as nuvens sobre o teu cabelo, escondia-me nas tuas coxas, e nem tu, e nem eu, sabíamos que um dia chegaria a saudade, então, pá?
Nada,
No teu corpo, a prisão inventada por um louco verdadeiro, como o circo, eu sobre um arame invisível, corria, agachava-me nos teus lábios, as estrelas, as ruas, as casas, as “putas dentro das casas”… Então, pá?
Todos os vidros da janela do amor entre beijos na estrada infinita…
- Então, pá?
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 1 de Agosto de 2015