quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Estas palavras


Estes versos não são teus,
não existem palavras para saciares os teus desejos,
anseios... e medos,

Não há mar sem rochedos,
nem barcos sem marinheiros...
estas palavras são beijos,

São torpedos...
veneno esponjoso que alimenta a garganta da dor,
estas palavras... estas palavras não são as palavras de amor!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 2 de Outubro de 2014

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Piano amar...


Dos espinhos melancólicos da insónia,
oiço-os,
como se eles tivessem um corpo,
ou... ou vestissem-se de palavras ainda não escritas,
entranhadas no papel amarrotado da madrugada,
oiço-os...
os sons melódicos do piano amar...
domesticado,
livre...
dos espinhos melancólicos, as ditas canções anónimas com sorriso de alecrim,
o cansado beijo suspenso nos lábios da pianista...
livre... até que desaparece no seio das linhas paralelas da solidão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 1 de Outubro de 2014

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Entardecer


Movediças lajes de areia
que transportam o meu corpo até ao entardecer
este feitiço não cessa de arder
e este cansaço parece desgovernado
como um barco
ou um coração apaixonado...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 30 de Setembro de 2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Castelo das areias brancas


Dormíamos sobre os limbos nocturnos da paixão,
existia entre nós uma canção melódica,
cansada de descer a calçada,
havia nos teus olhos a melancolia do amanhecer,
tal como os pingentes que o orvalho constrói nos teus seios...
dormíamos,
sem sabermos que ainda podíamos voar em direcção ao infinito castelo das areias brancas,
não sabias que eu era um transparente boneco de incenso,
dentro de uma caixinha em madeira,
só, só como as palavras embainhadas na espingarda da loucura,
dormíamos, dormíamos e construíamos papagaios em papel...
e da rua absorvíamos os esqueletos magoados do amor.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 29 de Setembro de 2014

domingo, 28 de setembro de 2014

Amanhecer amar


Se eu voasse
não atravessava o Oceano para em ti poisar...

se eu voasse
não me levantava deste banco de silêncio
com mãos de pérola adormecida
não gritava
não... não chorava
porque as palavras são searas de insónia sobre um papel queimado,

um punhado de trigo
voando
sonhando...
na planície dos corpos embalsamados,

se eu voasse
não atravessava o Oceano para em ti poisar...

não escrevia
não lia...
não
não acreditava no amanhecer amar!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 28 de Setembro de 2014

sábado, 27 de setembro de 2014

Sanzala de lata


Liberta-me
desassossega-me esta insónia fervilhante
que atormenta as minhas mãos
e me proíbe de escrever
liberta-me quando começar a madrugada
e lá fora
ninguém
ninguém para me ver
ninguém para me observar
quero ser a noite vestida de luar
quero ser o socalco que nunca se cansar de olhar...
o rio
e as pessoas que o rio engole e mata
liberta-me
liberta-me deste cansaço desengraçado
que habita nesta sanzala de lata.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 27 de Setembro de 2014

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Luar


Sentado te espero
sentado te procuro...
sentado te amo
sentado te abraço,

e não sei se tens forças para me alicerçares ao teu corpo,
tão pouco sei se tens corpo,

sentado te olho
sentado, tu
triste,

sentado te entendo
o que sofres
e o que resistes...
sentado sei que não vais desistir
de cortar os cadeados do sofrimento
nem vais fugir,

(e não sei se tens forças para me alicerçares ao teu corpo,
tão pouco sei se tens corpo),

mas sentado, eu, pego na tua mão e sinto em ti o luar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 26 de Setembro de 2014