terça-feira, 15 de julho de 2014

O livro sem medo


O cansaço adensa-se nos teus lábios,
murmúrios de odores invisíveis alicerçam-se aos teus pulsos,
pareces uma árvore em papel, uma flor indefinida, ainda por descobrir...

O cansaço dilata-te as pálpebras de xisto,
ouves a voz do livro poisado na mesa-de-cabeceira, e dormes, e dormes...

És prisioneira da manhã acabada de nascer,
embrulhas-te no lençol da preguiça, e estendes os braços até tocares o Sol,
uma fina película de insónia brinca nos teus seios de mar,
uma fragata pronta a disparar... não o consegue,
fica ofuscada pelo teu olhar, desassossegada, ela, suicida-se no rio da saudade,
amas e não amas,
finges partilhar os segredos da madrugada,
e o cansaço, desfigura-te o cabelo de pergaminho, e evapora-se nas frestas do beijo,

Cerras os lábios cometidos pelo cansaço,
sentas-te em frente à esplanada de areia branca, e ela, a barcaça, grita o teu nome,
regressam os homens dos canhões de pele embalsamada, és linda, és amada...

A maldita mordaça,
que te proíbe as palavras do amor,

O cansaço adensa-se...
a amizade cai sobre um telhado de vidro, fica sem vida,
fica... fica enraizada na escuridão de um bar,
o cansaço não espera, e o coração não resiste às sílabas que sobejaram da lareira da poesia,
há uma lágrima,
morta,
há a prisão disfarçada de jardim soberbo...
com flores alienadas que inventam amor onde apenas habita a amizade...

O livro,
o livro sem medo, levita nos teus sargaços de alecrim,
o livro das vozes, deixa de ser o livro das vozes...
e do livro, e do livro sem medo,
sai um menino a brincar com um triciclo,
colorido,
que... que faz o cansaço dilatar-te as pálpebras de xisto...
… e uma multidão de sombras, saídas do livro sem medo,

Desejam uma carícia tua... um gesto de giesta florida, desejam-te!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 15 de Julho de 2014

Dentro de ti


Imagino-me dentro de ti,

O sonho, o sonho invade a clarabóia das serpentes,
há uma montanha, uma montanha desenhada na rocha submersa da solidão,
imagino-me dentro de ti,
sentir o odor do papel amarrotado, triste...
cansado,
o sonho tem um nome,
vive dentro de um corpo anónimo, diluído nas asas de uma gaivota,
há um esqueleto em revolta,
faminto,
tão... tão desgraçado...
escreve, e das palavras se alimenta,
e vive, e sonha...

Imaginando-se dentro de ti!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 15 de Julho de 2014

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Olhar suspenso nas cerejas do amanhecer


Há um olhar suspenso nas cerejas do amanhecer,
não existem em mim palavras para o descrever, desenhar…
observar como se ele fosse o silêncio do luar,
mas esse terno olhar... existe, tem um corpo, tem uma alma… e tem asas de voar,
sinto-o todas as manhãs, todas as noites quando habitadas pela insónia,
ele grita pela solidão, e ela, e ela aparece-me vestida de branco,
sei que a loucura não só pertence aos humanos,
conheço árvores loucas, pedras ainda mais loucas, e flores… tão loucas como eu…
sinceramente, este olhar, o olhar que está suspenso nas cerejas do amanhecer…, não,
nunca me pertencerá,
talvez…
talvez seja a ténue luz do desejo, talvez tenha um nome, um apelido,
Um beijo para me presentear,
Talvez,
gritar por ele,
gritarei, gritarei sem o saber,
e talvez, e talvez o venha a desejar…
o querer,
Há um olhar que pertence aos sonhos de sonhar,
um círculo, um quadrado… um triângulo no rosto da música mais bela da floresta…
talvez,
talvez esse olhar, o olhar suspenso nas cerejas do amanhecer…
me diga,
me diga o que fazer.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 14 de Julho de 2014

domingo, 13 de julho de 2014

Este poema com o nome de beijo!


Horrível,
este poema sem marinheiro,
feliz deste barco embrulhado no vento,
desgovernado,
só...
só... e em sofrimento,
faltam-lhe as palavras,
faltam-lhe... faltam-lhe os encantos dos murmúrios de Inverno,
este poema... filho do Inferno,
que arde na lareira do desejo,
horrível...
este poema com o nome de beijo!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Julho de 2014

Páginas sem nome


Que faço a estas páginas sem nome,
que digo às palavras escritas nestas páginas sem nome...!

Triste, a mão que se recusa a escrever,
a mão trémula que inventa cigarros de arder...
que faço a estas páginas de escrever,
anónimas, desorganizadas... páginas mortas, páginas amarguradas,
triste, a mão que acaricia o rosto da madrugada,
e não se cansa de amar,

Que faço... ao cabelo sem vento!

Sem nome, prontas a escrever,
que faço eu mergulhado no teu corpo de neblina...
triste, a mão que não se cansa de sombrear o amanhecer,

Que faço, eu!

Que faço eu nesta tela envergonhada,
onde moram os teus seios de menina...
que triste..., que triste as páginas deste livro quase a morrer,
que faço eu, às palavras não escritas,
aos beijos desenhados na mesa-de-cabeceira,
sem saber o que fazer...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Julho de 2014