O cansaço adensa-se
nos teus lábios,
murmúrios de odores
invisíveis alicerçam-se aos teus pulsos,
pareces uma árvore
em papel, uma flor indefinida, ainda por descobrir...
O cansaço dilata-te
as pálpebras de xisto,
ouves a voz do livro
poisado na mesa-de-cabeceira, e dormes, e dormes...
És prisioneira da
manhã acabada de nascer,
embrulhas-te no
lençol da preguiça, e estendes os braços até tocares o Sol,
uma fina película
de insónia brinca nos teus seios de mar,
uma fragata pronta a
disparar... não o consegue,
fica ofuscada pelo
teu olhar, desassossegada, ela, suicida-se no rio da saudade,
amas e não amas,
finges partilhar os
segredos da madrugada,
e o cansaço,
desfigura-te o cabelo de pergaminho, e evapora-se nas frestas do
beijo,
Cerras os lábios
cometidos pelo cansaço,
sentas-te em frente
à esplanada de areia branca, e ela, a barcaça, grita o teu nome,
regressam os homens
dos canhões de pele embalsamada, és linda, és amada...
A maldita mordaça,
que te proíbe as
palavras do amor,
O cansaço
adensa-se...
a amizade cai sobre
um telhado de vidro, fica sem vida,
fica... fica
enraizada na escuridão de um bar,
o cansaço não
espera, e o coração não resiste às sílabas que sobejaram da
lareira da poesia,
há uma lágrima,
morta,
há a prisão
disfarçada de jardim soberbo...
com flores alienadas
que inventam amor onde apenas habita a amizade...
O livro,
o livro sem medo,
levita nos teus sargaços de alecrim,
o livro das vozes,
deixa de ser o livro das vozes...
e do livro, e do
livro sem medo,
sai um menino a
brincar com um triciclo,
colorido,
que... que faz o
cansaço dilatar-te as pálpebras de xisto...
… e uma multidão
de sombras, saídas do livro sem medo,
Desejam uma carícia
tua... um gesto de giesta florida, desejam-te!
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Terça-feira, 15 de
Julho de 2014