O pai
E a mãe
E as árvores sombreadas
da manhã,
As mãos
Que pegam a minha mão
A mão que segura a faca
nocturna do desejo
E durante a noite
Espeta a faca no meu
peito,
O tecto da aldeia
Em lágrimas
E do sol
As primeiras horas da solidão,
Os livros
Todos os meus livros
Escritos por mim
Lidos por mim
Todos eles
Morrem sobre a minha
secretária vaiada pela insónia,
E o sobretudo que visto
Em fina madeira prensada
Despede-se,
E percebo que sou apenas
um cadáver de sono,
Como são tristes as
noites de Dezembro,
O pai
E a mãe
E as árvores sombreadas
da manhã,
Quando a manhã é um pincelado
beijo na boca da solidão.
Alijó, 03/12/2022
Francisco Luís Fontinha