Pedra cinzenta
Isenta
Que lamenta
Ser cinzenta
Onde me sento e leio uma
pequena ementa
Senta
Nesta pedra
Meu amor de água-benta
01/10/2023
Pedra cinzenta
Isenta
Que lamenta
Ser cinzenta
Onde me sento e leio uma
pequena ementa
Senta
Nesta pedra
Meu amor de água-benta
01/10/2023
Sento-me nesta
pedra, fria e cinzenta, sento-me nesta pedra e espero que o vento me leve, e
Espero que o
vento me mate.
Sento-me nesta
pedra, tão fria e tão escura, e tão cinzenta, como os dias, como as noites,
sento-me nesta pedra e espero,
Espero que o
vento me leve, que o vento me acolha.
E de todas as
pedras onde me sentei, e de todas as pedras onde dormi, esta pedra traz-me as
lágrimas da madrugada, traz-me o silêncio da madrugada,
Tão fria, meu
amor, tão fria a madrugada…
Francisco
Hei-de levantar-me
Desta pedra cinzenta
Onde me sento e morro
E espero
E invento
E desejo
Que acordem as estrelas
dos teus olhos
Fumo o cigarro que há-de
matar-me
Fumo as palavras
Que também elas
Me vão matar
E se eu quisesse
Voava para os teus braços
de árvore envenenada
Acordam os pássaros que a
manhã há-de matar
E num ápice
Olho-te como me olham as
abelhas
Junto à colmeia do sono
E a noite
Despe-se na tua mão
Hei-de levantar-me
Desta pedra cinzenta
Onde habita a tua boca
E dos doces lábios da
paixão
O poema que se alicerça
ao meu peito
Bebo o veneno que lanças
sobre o mar
Bebo a insónia que morre
no mar
E hei-de levantar-me
Desta triste cinzenta
pedra
Até que a noite se
suicide dentro de mim.
Alijó, 03/12/2022
Francisco Luís Fontinha
Somos
árvores que tombam no chão,
Somos
o silêncio que rompe a madrugada,
Somos
letra de canção,
E
não somos nada…
Somos
a guerra em poema,
Espelho
no quarto abandonado,
Somos
a voz em chama
Num
corpo ancorado,
Somos
árvores, somos a saudade…
Somos
as lágrimas do mar,
Somos
as ruas da cidade
Que
a manhã alimenta,
Somos
raiva, somos luar,
Somos
esta triste pedra cinzenta.
Alijó,
30/09/2022
Francisco
Luís Fontinha