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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Os meus poetas

 Encurralado entre vírgulas e parêntesis

Este corpo encostado à marginal

Sou espiado por um barco

Que pincela os olhos de encarnado

E nas unhas

O invisível verniz da paixão

 

O vento me leva

O vento nunca mais me vai trazer

 

E no entanto

Bebo

Fumo

Escrevo

 

O que importa se vou e não regresso?

 

Se tantos barcos da minha vida

Partiram

Fundearam

E hoje

São sucata no fundo do mar

 

Depois

Gosto da noite

Amo os meus poetas

Ouvi-los

Lê-los

 

E às vezes

Converso com eles

 

Adoro conversar com o AL BERTO

Com Cesariny

Cruzeiro Seixas

Alexandre O'neill

 

Sentar-me lado a lado com o Pacheco…

Depois ele pede-me vinte paus

Mas como ando sempre teso

Ficamos apenas pela conversa

 

E quando dou conta

A noite já não é noite

A noite acordou

Eu não dormi

A noite deixou de me pertencer

Mas como eu amo a noite

Fico como se tive morrido

E se me perguntarem (morreu de quê?)

Alguém dirá

Morreu

 

O vento me leva

O vento nunca mais me vai trazer

 

E eu acordo

E eu adormeço

E eu caio

E eu me levanto

 

E o vento me leva

E o vento nunca mais me vai trazer

 

Escrevo-lhes

Oiço-os

 

E habito neste pequeno silêncio de asas.

 

 

 

 

 

Alijó, 02/12/202

Francisco Luís Fontinha