segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Noite de luar

 Não sei precisar

Quantos beijos posso escrever

Em cada milímetro quadrado da tua pele,

Tão pouco

Quantos poemas posso desenhar

Em cada milímetro quadrado da tua pele,

 

E se me perguntarem qual a raiz quadrada

Do teu olhar,

 

Sei precisar;

 

Um milhão de estrelas em desejo

E uma noite de luar.

 

 

 

 

 

Alijó, 28/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Pecado

 

Somos muitos,

Somos as almas penadas,

Somos o pecado que invade a noite,

Somos o poema embriagado nas mãos de Deus,

Somos muitos, somos poucos,

 

Somos esqueletos em papel,

Somos parvos,

Entre parvos,

Somos loucos,

Loucos que somos,

 

Somos muitos,

Somos poucos,

Somos livros,

Desenhos,

Corpos despedidos,

 

Muitos,

Poucos,

Somo tempo perdido,

Somos o sonho;

 

Muitos,

Poucos,

Nada do que somos.

 

 

 

Alijó, 28/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Lareira da paixão

 

Poiso nos teus lábios a lareira da paixão,

 

Pequena flor

Em meu triste olhar,

 

E este barco cansado

Perdido neste grandioso mar,

Este barco apaixonado

No silenciado luar,

 

Este barco ancorado

Aos teus seios de amanhecer,

Sou este barco fundeado

Nos versos de escrever,

 

Pequena flor

Em meu triste olhar,

 

Que o vento lança ao meu coração,

 

Este barco que não se cansa de navegar,

Enquanto invento no teu cabelo estrelas de muitas cores,

Este barco de amar,

Amar todas as flores,

 

Pequena flor

Em meu triste olhar,

 

Do meu olhar

Tua dor,

 

Nos teus lábios a lareira da paixão.

 

 

 

Alijó, 28/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Corpo de menina

 

Escrevo neste rio teimoso

Rio que habita no meu peito

Escrevo nos teus olhos

As lágrimas do amanhecer

Escrevo e não escrevo

Mas temo que o não possa fazer

Quando nos teus lábios

Crescer uma flor.

 

Escrevo neste rio envergonhado

Que dentro de mim se perdeu na enxada da saudade

Dos dias sem dormir

Nas noites quando penso em ti

Montanha desalojada.

 

Escrevo com esta pincelada enxada

No teu corpo que desce a colina

Escrevo e não escrevo

Escrever em teu corpo de menina.

 

 

 

Alijó, 28/11/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 27 de novembro de 2022

Triste e salgado, este mar

 Este meu pobre mar abandonado,

Este lindo mar envenenado,

O mar triste e salgado,

Este mar amargurado,

Quando em minha mão,

Este mar desassossegado…

 

Morre no meu coração.

 

Este mar que não se cansa de comer,

Este mar das palavras e nas palavras de escrever,

Este mar que foge de mim a correr,

Deste mar quase a morrer.

 

Este triste mar da inocência prometida,

Este velho mar em despedida,

Este grande mar quando brinca na avenida…

 

Morre no meu coração.

 

Este mar das tardes em poesia,

Quando beijo os teus olhos perdidos no dia,

Este mar que sentia,

As palavras que eu não sabia.

 

Morrer no meu coração.

 

E eu desconhecia.

 

 

 

 

 

Alijó, 27/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Barco rabelo

 És o poema que abre a porta da manhã

Vulcão que acorda a cidade do vento

Palavra que traz o mar

És poema ao acordar

Que brinca no meu pensamento.

 

És silêncio do meu pobre olhar

Jardim onde sepulto o meu corpo de brincar

És canção

Neste pobre coração

És o meu poema ao levantar.

 

És foguetão

Rumo ao luar

Barco rabelo em círculos solares

És flor e muitos mares

Nos mares de amar.

 

 

 

 

Alijó, 27/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Um pequeno nome

 Dêem-me um nome

Um pequeno nome

Dêem-me um pedaço de terra

Para sepultar o meu nome

Um pequeno nome

 

Nome sem nome

Numa árvore com nome

Um poema sem nome

Um pequeno nome

Este meu pobre nome

 

Um nome

Para este retracto anónimo

O último pendura na última parede

Fria e nua e sem nome

Um nome

Um pequeno nome

 

Dêem-me um nome

Para o meu corpo sem nome

Porque não tenho nome

Nem tenho uma parede para pendurar o meu corpo

 

Sem nome.

 

 

 

 

Alijó, 27/11/2022

Francisco Luís Fontinha