(de todos os meus
professores, guardo saudade e amizade; mas o professor Mário Abrantes, conseguia
aliar a arte ao cálculo, e as suas aulas eram um poço de cultura geral. Grande
abraço, professor)
Tínhamos na mão
As sete esferas da
saudade,
E sabíamos que dentro do
cubo de vidro,
(a prisão das palavras)
Havia uma janela com
fotografia para o mar.
Depois, acordávamos
abraçados às sete espadas da liberdade
Que guardávamos dentro de
um caderno quadriculado.
Víamos a nossa imagem no
espelho da madrugada,
Quando nas frestas em
gesso, um crucifixo sorria…
E dávamos conta que este
sorriso pertencia
À criança mais feliz da
aldeia.
As palavras chegavam-nos
através da velha alvorada,
Enquanto sobre as
mangueiras,
No distante quadrado,
víamos as gaivotas em cio,
E não percebíamos o que
era a paixão.
Escrevíamos.
Dançava-mos sobre os
pequenos charcos
Que pela manhã acordavam
e ainda transportavam no olhar
O desejo preguiçoso que
só o poema consegue descrever.
Tínhamos na mão
As sete esferas da
saudade,
E como crianças que
éramos, das palavras
Inventávamos asas
Como inventam os pássaros
antes de morrer,
E não sabíamos que os
peixes,
Entre parêntesis sonâmbulos,
Resolviam equações
complexas,
Que apenas o professor
Mário Abrantes percebe,
E nós, apenas percebemos
de desejo.
E nunca sabíamos se as sete
esferas da saudade
Sabiam o que é o mar…
O que é o mar?
Perguntava-me um pedacinho
de sombra
Quando descia o
pôr-do-sol e junto a mim,
Sem o saber… um pedacinho
de luz beijava-me,
E eu tinha medo do sono.
Acordava a manhã,
No quadro uma mistura e
letras e números…
Quando perguntam o que
era…
Eu…
Série de Taylor;
Como se isso interessasse
para dois cubos apaixonados.
Não sei o que é a chuva!
Apenas recordo os longos
lábios de cacimbo
Sobre os meus frágeis
ombros,
E mesmo assim,
Um barco deitava-se no
meu colo,
E das suas coxas,
ouviam-se os apitos da solidão.
Alijó, 30/08/2022
Francisco Luís Fontinha