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quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O poeta enforcado

 

Sou o comandante deste transatlântico sem nome

Pobre no sono

Rico em fome,

 

Sou um velho comandante

Que traz na algibeira

O pão das bocas esfomeadas

Um velho comandante

Na lágrima das palavras,

 

Na lágrima das palavras

Estes versos em loucura

Oiço um comboio em finos apitos

Enquanto o mar cava a minha sepultura

Da terra em grosseiros gritos,

 

E nas pobres minhas madrugadas

Rompem sobre mim as flores em papel queimado

E é neste jardim silenciado

Que observo o poeta enforcado,

 

Fartou-se da vida

Das árvores coloridas

Fartou-se da poesia

E do começo de um novo dia,

 

Fartou-se de mim

Este poeta enforcado

E eu o velho comandante

Deste transatlântico desgovernado

Fico em frente ao mar; só e sentado.

 

 

 

Alijó, 23/11/2022

Francisco

domingo, 28 de agosto de 2022

As tristes marés da madrugada

 Quando o corpo incendeia

As tristes marés da madrugada,

E sobre a ponte invisível do luar,

À meia-noite, uma flor de espuma,

Dorme na mão que semeia

O beijo de mar;

E peço à Virgem bruma

Que desenhe na alvorada,

 

Esta pequena canção de saudade.

Quando o corpo se enfeita de amanhecer

Nas sonâmbulas estrelas que habitam na cidade,

E o corpo é desejado,

E por vaidade,

O poeta enforcado,

Sem o saber,

Dorme junto ao mar…

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 28/08/2022