50 x 60 acrílico s/tela. Francisco Luís
Fontinha.
domingo, 2 de fevereiro de 2020
sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
O suspiro da noite
O
suspiro da noite, enquanto a morte vagueia nas sílabas loucas da paixão.
O
silêncio das palavras, perdidas nos livros invisíveis da solidão,
Um
poema chora,
Alicerça-se
na confusão da cidade,
Soltam-se
todos os caninos vadios,
Correm
em direcção ao petroleiro estacionado junto ao Tejo,
E,
um soldado, procurando alimento, senta-se na sombra da neblina.
Todos
os pássaros são felizes, ainda que sejam transparentes,
Nas
paredes de xisto,
Olhando
o Douro,
Desenhando
socalcos no bico;
A
jangada, afunda-se, como a mão do mendigo,
Quando
fundeada na sopa trazida pela tempestade.
Chove,
ouvem-se os ruídos da manhã,
Automóveis
esfomeados levitam sobre as palmeiras,
Os
transeuntes sofrem de pasmo,
Riem,
como loucos,
Dentro
de quatro paredes de vidro.
O
suspiro da noite, sempre em alerta máximo,
Esconde
as palavras na algibeira,
E
bebe pequenos tragos de nada.
Hoje
é sexta, noite como tantas outras,
Não
interessa,
É
noite, é triste a noite, quando se despede da tarde.
Os
amantes fogem como fogem os mortos da sombra,
De
roupa engomada, os tristes mortos, riem-se do silêncio amargurado que
transporta o desassossego,
Tenho
medo, dizia-me ele, quando acordava olhando quatro janelas de cartão,
Perdia-se
na imensidão do espaço,
Cansado
da vida,
Cansado
da noite;
O
suspiro. O suspiro da noite.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
31/01/2020
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
O sonho
Todas
as coisas, possíveis, impossíveis,
Acontecem
quando nasce em mim a noite.
O
corpo range de sono, perco-me nas palavras da saudade,
Quando
regressa a madrugada,
E,
todos os pássaros voam em direcção ao mar.
Um
barco chilreia, voa sobre o jardim das cantarias,
Flores
dispersas, como mendigos apressados,
Brincando
na eira,
Olham
o cereal,
Deitam-se
no chão,
E,
sonham com o luar.
Todas
as coisas,
Infinitas,
finitas, nas mãos de Deus.
Um
esqueleto de silêncio vagueia nas pálpebras da insónia,
Morrem
as pedras do meu pobre jardim,
Levantam-se
as migalhas da fome,
Quando
um carnívoro de sombra, às vezes cansado, levita na escuridão da solidão.
Tenho
fome;
Tive
pai, mãe, e, nada mais…
Agora,
tenho a floresta,
Os
papagaios em papel, de três cores,
E,
num pequeno caderno quadriculado, invento o sonho,
Imaculado,
distante, ausente,
Como
todas as coisas,
Possíveis,
impossíveis.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
29/01/2020
domingo, 26 de janeiro de 2020
Onde mora o silêncio, se não em ti?
As
árvores deste jardim cansado,
Onde
adormece o silêncio das palavras assassinadas por mim,
Há
um luar desiludido,
Que
grita às planícies do alecrim,
O
poema desejado,
Entre
versos e ossos embalsamados,
Vem
a esta casa, o miúdo perdido,
Das
montanhas húmidas,
A
voz que alicerça a fome,
A
rua que limita o olhar,
Sem
nome,
Sem
mar,
As
árvores distintas dos pássaros, o medo de dormir,
Numa
cama de pétalas encarnadas,
Nas
veias, o orgasmo do cobalto,
A
madeira envernizada,
Porque
as lágrimas,
No
rosto se perdem,
E
fogem para o triste adormecer,
O
vulcão quase a vomitar palavras de nada,
Sempre
em alerta, sempre abandonada,
A
casa,
O
ódio madrugada da vida,
Entre
correr,
Entre
morrer,
Simples,
assim,
Simples,
simples, nada esquecer.
O
mendigo que corre na calçada,
Desejado
por uns, amaldiçoado pela namorada,
Escreve-me,
Oiço-o,
Na
alvorada.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
26/01/2020
sábado, 25 de janeiro de 2020
O silêncio da luz
Percorro
estes montes de ninguém,
Na
ausência do prometido poema,
Cansaço
da madrugada,
Quando
alguém me chama,
Me
grita,
E
me acena;
Triste
é esta calçada,
Onde
habito sem memória,
Sem
história.
Na
noite desgarrada,
Escrevo,
pinto, o teu retracto,
Passeio-me
pelo infinito amanhecer,
Sem
perceber,
Que
nas minhas palavras,
Vivem
os esqueletos malvados,
Sem
sono,
E,
alicerçados,
Às
palavras vãs,
No
bosque,
As
árvores, o silêncio da luz,
Que
me traz a saudade.
Pinto,
Sinto,
Que
todas as sílabas,
São
balas assassinas,
Munições
de esperança,
Quando
acorda a noite.
Sabes?
Amanhã
serão apenas sombras,
As
tuas palavras,
Que
alimentam a madrugada.
O
silêncio da luz,
Nas
mãos do poeta…
Perde-se,
Vive-se,
De
quê…?
Sempre
que amanhece,
Neste
corpo zangado,
Filho
e filha,
Passeando
por aí…
Passeando
ausente,
De
mim,
E,
de ti.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
25/01/2020
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