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foto de: A&M ART and Photos
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Inventas o prazer nas folhas pergaminho
do desejo,
há uma caneta de tinta permanente
pronta em ti a escrever,
sombrear o teu corpo de espuma em
finíssimos traços de madrugada,
há silêncio nas tuas pálpebras
enquanto imagino o poema que vou declamar no teu olhar,
e a cidade adormece sobre o travesseiro
da paixão,
inventas o amor, inventas-me na
escuridão,
simplesmente... me inventas, fazes de
mim uma triste flor, a palavra que teimo em não pronunciar,
inventas na minha boca as caricias
infinitas dos círculos do amanhecer,
e depois,
e depois... e depois desapareces nos
carris que o aço alimenta, e desenhas na parede do medo o ciume,
amar, não amar, ser amado... não ser
amado, … sou eu,
inventas o prazer e o meu corpo é um
esqueleto de veludo...
Um barco em esferovite das brincadeiras
de menino,
inventas o prazer disfarçado de
naftalina, dentro do armário apodrecido,
dás-me cigarros para eu fumar e
fumo-os como se precisasse de fugir,
correr, subir a montanha... e voar em
ti,
sorrir... dou-me conta que deixei de
sorrir, de viver... como viviam os pássaros na aldeia,
inventas as bonecas que dormem nos
musseques, e dos zincos telhados... a solidão,
há entre nós a melódica canção, o
corpo mergulhado em lençóis de linho,
a janela de onde é impossível olhar o
mar, o Mussulo... e a Baía,
Inventas-me nos quadriculados cadernos,
fazes de mim uma equação trigonométrica,
sem resolução,
um barco, dizes-me que sou um barco...
que inventaste para te divertires
enquanto não regressa a ti o sonho e a noite e a insónia toma conta
dos teus lábios...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Março de 2014