domingo, 16 de março de 2014

O vento das canções de Outono

foto de: A&M ART and Photos

Dizias-me que eras o vento das canções de Outono,
e eu, eu acreditei, escrevi palavras para essa canção...
desenhei beijos para os teus lábios,
dizias-me que te chamavas “menina do mar” de do mar... não eras nada,
nem onda, nem pôr-do-sol... nem jangada,
um dia fizeste-me acreditar que eras livro de poesia,
eu tentei, tentei ler, folhear... e não eras nada,
apenas uma esbranquiçada página com um palavra... “saudade”,
dizias-me que tinhas na mão a caneta das minhas palavras,
eu, eu sentia-a no meu rosto, como o vento das canções de Outono,
e eu, eu acreditei na tua pele com flores de papel,
e tudo o que me disseste... hoje, hoje escrevo-o na rocha embalsamada na montanha do “adeus”.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Março de 2014

sábado, 15 de março de 2014

Simplesmente... me inventas

foto de: A&M ART and Photos

Inventas o prazer nas folhas pergaminho do desejo,
há uma caneta de tinta permanente pronta em ti a escrever,
sombrear o teu corpo de espuma em finíssimos traços de madrugada,
há silêncio nas tuas pálpebras enquanto imagino o poema que vou declamar no teu olhar,
e a cidade adormece sobre o travesseiro da paixão,
inventas o amor, inventas-me na escuridão,
simplesmente... me inventas, fazes de mim uma triste flor, a palavra que teimo em não pronunciar,
inventas na minha boca as caricias infinitas dos círculos do amanhecer,
e depois,
e depois... e depois desapareces nos carris que o aço alimenta, e desenhas na parede do medo o ciume,
amar, não amar, ser amado... não ser amado, … sou eu,
inventas o prazer e o meu corpo é um esqueleto de veludo...

Um barco em esferovite das brincadeiras de menino,
inventas o prazer disfarçado de naftalina, dentro do armário apodrecido,
dás-me cigarros para eu fumar e fumo-os como se precisasse de fugir,
correr, subir a montanha... e voar em ti,
sorrir... dou-me conta que deixei de sorrir, de viver... como viviam os pássaros na aldeia,
inventas as bonecas que dormem nos musseques, e dos zincos telhados... a solidão,
há entre nós a melódica canção, o corpo mergulhado em lençóis de linho,
a janela de onde é impossível olhar o mar, o Mussulo... e a Baía,
Inventas-me nos quadriculados cadernos, fazes de mim uma equação trigonométrica,
sem resolução,
um barco, dizes-me que sou um barco...
que inventaste para te divertires enquanto não regressa a ti o sonho e a noite e a insónia toma conta dos teus lábios...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Março de 2014

Preciso

Foto de: A&M ART and Photos

Preciso de um nome para saborear a tua pele,
qualquer um, apenas um nome, uma palavra, vã... uma palavra retirada da ardósia da tarde,
preciso de uma madrugada para pincelar o teu rosto no espelho do luar,
qualquer luar, qualquer noite construída do nada, uma só noite,
e quando amanhecer, finjo que sonho, finjo que no meu tecto habitam estrelas em papel,
finjo... finjo que do amor crescem palavras, e apenas uma será escrita na tua pele...
preciso de um corpo, preciso da tua pele que ilumina o teu corpo,
uma só, palavra, desenho, ou... ou som melódico como as árvores casadas,
e finjo, e sei que algures habitas nas janelas da cidade,
uma só palavra, uma só cidade,
preciso,
preciso de uma palavra, de um só nome, para ornamentar a tua pele de oiro...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Março de 2014

sexta-feira, 14 de março de 2014

Poema acabado de escrever

foto de: A&M ART and Photos

Quero o teu corpo mergulhado em mim,
sentindo-o nos meus dedos, semeando-o no meu peito,
há nos teus lábios o anseio, o desejo, e a plenitude perfumada da rosa acabada de nascer,
a madrugada cessa, vai-se... e corre em direcção ao rio imaginário que só o teu púbis conhece,
e tu, e tu dentro de mim, esperas-me, esperas as minhas mãos que se entranham nos teus seios de ribeira adormecida, imaginas-me um esqueleto de sémen...
saberei a cor dos teus olhos envergonhados?
quero o teu corpo, a tua pele insígnia quando florirem as árvores na Primavera, quero-o...
sentar-me no teu colo, acariciar a tua boca como se fosses um poema acabado de escrever,
ainda sem nome,
apenas um poema como tu,
um poema mergulhado em palavras esbranquiçadas que só os muros do medo... conhecem, e amam,
quero-o, assim, quero-o eternamente meu, eternamente amado... eternamente... quero-o.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Março de 2014

quinta-feira, 13 de março de 2014

Doces lábios

foto de: A&M ART and Photos

Tens nos teus doces lábios o labirinto pavimentado do desejo,
há no teu olhar uma caravela de paixão,
beijos, lágrimas que só a madrugada consegue construir,
tens em ti o sofrimento pincelado de amanhecer, como os peixes e os pássaros magoados,
há na tua boca o cansado silêncio,
e às vezes, tão poucas... sinto nas tuas mãos o vibrar da noite,

Uma mulher de pálpebras cerradas a gritar por ti, sofre, sente os teus dedos no distante luar,
uma estrela que deixou de brilhar,
a música que cessou e nunca mais se ouviu dentro dos teus seios entre palavras e sonhos de sonhar,
desenhos, rabiscos de luzes em voos nocturnos, ausentes da cidade,
e a cidade vive nas tuas veias de cenário envelhecido, longe, longe do pôr-do-sol,
… longe... longe dos teus doces lábios em pedaços de labirinto pavimentado do desejo...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 13 de Março de 2014

Texto de Francisco Luís Fontinha – Divulga Escritor




quarta-feira, 12 de março de 2014

Uma árvore suspensa na solidão

foto de: A&M ART and Photos

Há no teu sangue a paixão do amanhecer, penso eu,
vives como se fosses uma árvore suspensa na solidão,
choras, sonhas? Há em ti as insígnias da madrugada,
como lisas paredes ente a montanha e o mar,
há no teu sangue a saudade da vida, dos telhados em zinco perdidos nos velhos musseques...
há no teu peito uma rosa dentada, uma Bedford amarela prisioneira a um cordel imaginário, sem folgas, sem ruas, esplanadas, ou... ou simples palavras,

Há no teu corpo uma âncora em papel que te fundeia ao cais da dor,
âncora salgada e filha do barco marinheiro em combustão,
vives no teu sangue como serpentes envenenadas, tristes... e ausentes,
há no teu sangue a noite onde escreves poemas,
inventas rios e dos rios... recordas-te do rio Congo? E das bananeiras pedindo-te perdão...
… ou... ou quando te deitavas na areia límpida do Mussulo,

Há nas tuas veias o sangue da paixão, penso eu,
aquele que te alimenta, o penhasco bravio dos pinheiros mansos,
há em ti cortinados que encerram as janelas do teu olhar,
meigo como as gaivotas, colorido... sensato, há no teu sangue o meu sangue,
o sangue dos livros que leste e depois... apenas lá,
lá... no longínquo Oceano de lata.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 12 de Março de 2014