terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

teu beijo... meu amor

foto de: A&M ART and Photos

tenho medo das pedras sem coração
dos pássaros invisíveis
tenho medo da insónia adormecida em esqueleto de solidão,
tenho medo do cansaço
dos seios escritos no tronco de uma árvore envelhecida
dos rios com boca de abraço,
sim tenho medo da madrugada
da saudade louca do livro por escrever
medo medo medo... medo da tempestade com pálpebras de menina mimada,
tenho medo às tuas mãos de porcelana
do corredor em labaredas começadas por dor
e terminadas na cama,
tenho medo das pedras sem coração
dos corpos infinitos vestidos de desejo
medo do medo... sim tenho medo das palavras da canção,
tenho medo das límpidas vozes irresistíveis
dos lençóis envergonhados quando os teus lábios são madeira ressequida
tenho medo de envelhecer
medo de transformar-me em flor...
… e medo medo e medo do medo do medo teu beijo
teu beijo... meu amor.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2014

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Pétalas de beijos

foto de: A&M ART and Photos

A vida não cessa
o corpo masturba-se num folheado metálico de beijos e pétalas de beijos
as mãos invadem a noite rompendo os cortinados do medo
as lágrimas do teu rosto caem sobre o soalho da insónia
gritas o meu nome
escreves-me nas sombras infelizes das estrelas sem liberdade
e eu sem o saber... adormeço sobre os rochedos da tempestade
a mesma que habita no teu peito,

A vida não cessa
corre
chora
brinca... brinca sobre uma corda de nylon com sabor a solidão
a vida acorrenta-se ao corpo
aprisiona-o como se aprisionam os lábios do teu silêncio
e quando me abraças
sinto o teu corpo como uma folha em papel branca insípida distante das palavras que escrevo.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2014

domingo, 16 de fevereiro de 2014

criança dos teus olhos

foto de: A&M ART and Photos

há silêncios nos teus olhos
existe uma mão que absorve as lágrimas dos teus olhos
tens cabelos semeados pelo vento que cerram os teus olhos
o medo que cruza os teus braços que aprisionam os teus olhos...
há silêncios nos teus olhos
há palavras que descrevem a cor dos teus olhos
imagens
negras
a noite
o dia
a morte... que brinca nos teus olhos
há silêncios de amor nos teus olhos

há silêncios de ciume nos teus olhos
searas campos montanhas árvores nuas
despidas cidades amargas ruas cansadas
que os teus olhos vêem e se calam como pedras silenciosas
há rios mares barcos e gaivotas
há desejo nos teus olhos
há corpos em cio que magoam os teus olhos
há madrugadas onde habitam os teus olhos
bares mesas de bares copos recheados de uísque em bares dos teus olhos...
jardins inclinados
tristes tristes como os teus olhos chorados
há seios que me esperam na criança dos teus olhos


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Fevereiro de 2014

Invenção do sono

foto de: A&M ART and Photos

Tínhamos inventado o sono,
a tristeza,
desenhávamos o sofrimento nas pedras cansadas da calçada,
tínhamos nas mãos a madrugada,
o vento que nos empurrava,
um livro teu... um livro que nos amava,
tínhamos estrelas vadias nas pálpebras do céu,
palavras, palavras significando tempestades, palavras começadas por saudades,
tínhamos inventado o sono,
a alegre maré parecendo o ensanguentado milagre da beleza...
tínhamos o mar e os corpos dos marinheiros sem farda,
e mesmo assim... sonhava, e mesmo assim... amava-te como se amam os xistos muros dos nocturnos eléctricos da cidade do nada.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Fevereiro de 2014

A janela verde

foto de: A&M ART and Photos

Da tua janela sentia o pulsar inconstante das tuas veias, do oitavo andar eu conseguia, não, aprendi a perceber as árvores em movimento, aprendi a ouvir os teus lamentos, aprendi a sentir a tua minha dor, contava a vezes que o metro de superfície passava em frente aos teus olhos cerrados, perdi-lhe a conta, desisti de contar, mudei repentinamente para os automóveis sonolentos que enteavam no parque de estacionamento, eram tantos, meu Deus, tantos, tantos que... voltei a desistir,
Percebi o significado do medo, aprendi a esperar pelas palavras do invisível, e confesso que não rezei, confesso que mentalmente colocava a hipótese de te perder, e ainda não tenho a certeza se te vou perder, enquanto dormias, enquanto eu olhava os teus sonhos impregnados no cortinado de fumo, eu, eu sabia que tu me esperavas quando acordasses, acordaste,
Então, chegaram bem?
Não te respondi, sentia-me agoniado, com fome, sem palavras para responder aos teus anseios..., pegava nos cigarros amorfos, acendia um e depois outro e mais outro... até que percebi que no corredor de acesso ao teu quarto, até que entendi a solidão, o amor enquanto esperava as lânguidas manhãs de Janeiro,
Então, chegaram bem?
Muita neve, chuva, vento, e perdemos-nos na tua sonolência de cadáver inventado por um louco, perguntava-te se estavas bem, e respondias-me
Então, chegaram bem?
Que sim, que tudo não passava de um sonho, que tudo nunca tinha existido, que tudo
Então, chegaram bem?
Que tudo acorda quando os silêncios dos teus lábios me diziam
Estou mal, tenho dores, não consigo adormecer,
Me diziam, me obrigavam a acreditar nas palavras escritas na tua cama, oitocentos e trinta e cinco, para os matemáticos um belíssimo número, mas
Então, chegaram bem?
Mas para um poeta esse número significava uma perda, uma ausência de ti para comigo, imagino-te subir as escadas do sótão da saudade, imagino-te a pegar na minha mão e ir-mos ver os barcos ao porto de Luanda...
Então, chegaram bem?
(não te respondi, sentia-me agoniado, com fome, sem palavras para responder aos teus anseios..., pegava nos cigarros amorfos, acendia um e depois outro e mais outro... até que percebi que no corredor de acesso ao teu quarto, até que entendi a solidão, o amor enquanto esperava as lânguidas manhãs de Janeiro...)
E víamos os paquetes abraçados aos longínquos marinheiros com fardas de embriagados esqueletos procurando sexo, álcool... e drogas,
Os coqueiros, os treinos de Hóquei em patins, e sempre, e sempre a tua mão entrelaçada na minha mão de criança, da tua janela sentia o pulsar inconstante das tuas veias, do oitavo andar eu conseguia, não, aprendi a perceber as árvores em movimento, aprendi a ouvir os teus lamentos, aprendi a sentir a tua minha dor, contava a vezes que o metro de superfície,
Então, chegaram bem?
E olhavas-nos, e sei que choravas...




(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha- Alijó
Domingo, 16 de Fevereiro de 2014

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A vergonha de ser cidade

foto de: A&M ART and Photos

Sentia-me desgovernado dentro do teu corpo melódico de poesia envenenada,
tínhamos descoberto as tristes pálpebras dos candeeiros de papel...
e havia em nós uma penumbra neblina com assobios de escuridão,

Sentia-me prisioneiro das mãos tuas em castanhas árvores de parede,
tinha medo de perder a sombra,
tinha medo de perceber as andorinhas com vestidos de chita,

Sentia-me desgovernado nos alpendres de alvenaria invisível,
inventava recreios numa remota escola de aldeia,
chamava a mim a cidade... e a da cidade vinham os teus olhos,

E da cidade acordavam os lábios submersos nas tempestade de areia,
um coração chorava, um coração zangava-se com o amor das palavras escritas por nós...
sentia-me um vagabundo sem sentido que sentia os alicerces da própria cidade,

Sentia-me como tu não sabendo que do espelho havia beijos,
saudade,
e da cidade... os teus malignos cabelos infestados de pólen, e cinzentos abraços...

Sentia-me,
aos poucos envergonhado, cansado... do teu corpo melódico de poesia envenenada,
e aos poucos, e hoje... sei que não tenho nada.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Fevereiro de 2014

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

pulsar do meu velho e estranho corpo

foto de: A&M ART and Photos

vês o meu velho e estranho corpo dentro da insónia madrugada
percebes que dentro de mim existe um conjunto de roldanas, rodas dentadas e alguns tristes veios mergulhados na escuridão da partida
um comprimento indefinido de corda em perfume sisal adormece no teu pescoço de porcelana
sinto-te nas pálpebras de granito que a manhã deixou sobre a mesa-de-cabeceira
é tarde
temos fome de partir
correr em direcção ao rio com palavras de azulejo apodrecido
tocar na pele do mar
olhar no relógio de pulso o pulsar do desejo...
é tarde
temos de partir... partir para o prometido beijo
… sem sentir o palpitar do vento entre os corações de areia e as rochas abandonadas

um candeeiro de água salgada semeado no centro do passeio libertino
dois esqueletos de saliva deambulam como se fossem a alegria transformada em silêncio
o medo que o desejo roube todas as esplanadas de vidro
o cheiro das janelas com mãos de putrefacção acordam em ti e alicerçam-se aos teus cabelos de estanho
estranho mundo onde vivemos porque não sentimos o que temos
porque não o sabemos
ainda... se amanhã acordarás sobre o meu peito
ou... enforcada paixão nos ombros do plátano de cinzeiro gaivota atravessando pontes invisíveis
lágrimas com sabor a pétalas de carvão escrevem-se em mim
fico envergonhado
sem jeito...
triste... assim... assim como ficam tristes os livros dos teus seios quando líamos abraçados num sótão de insulina...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Fevereiro de 2014