foto: A&M ART and Photos
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Esperas-me?
terminam os carris, sorris, desces para mim das
bananeiras imergente dos teus livros em desassossego, levantas-me
como se eu fosse uma fina folha de papel, revestida, o sobretudo, as
algibeiras desconexas, parasitando-lhes as mandíbulas emagrecidas,
que a noite escreve no teu cabelo, o trabalho?
Não trabalho,
imagino-me como línguas de fogo percorrendo o cais
das penumbras manhãs onde brincam caravelas, mulheres, homens,
gaivotas coloridas, travestidas e belas, tão, o pouco trabalho,
desejado caminhar sobre capim e sombra do zinco musseque de arame, as
palmeiras viajam paralelamente ao teu corpo diurno, conheci ontem uma
montanha, imagino-a deitada, debaixo dos meus lençóis de cadáver
com cheiro a mimosas florida, alecrim, e
Não pertenço aos teus doces crisântemo adjacentes
das curvas de horror que vivem nas clareiras praias inocentes,
existiam dizias-me, homens com capacetes de verniz, dizias-me,
existirem janelas com roldanas onde uma corrente de aço se
alicerçava, e puxavas os pesadíssimos ascensores entre o trânsito,
transeuntes de palha, moveis de penúria, magrezas e gentilezas,
tuas, quando gritavas o meu nome
francisco!
Coisa nenhuma, eu, escondido no teu ventre de
sofrimento, lendo, relendo, o perfume e os desenhos (corações e
setas... e algures, perdidamente, eu + tu), e hoje, não percebo,
nunca percebi, quem eras tu, e quem realmente sou eu,
Francisco, e pensava olhando o espelho da noite que
começava na sanzala, - Vais levar nos cornos! - e claro, eu, eu
nunca me enganava, e ainda hoje, tenho medo ao
francisco...
esperas-me?
Ao que eu pensava, não, não te espero, nunca te
esperei, odeio-te, és um inútil covarde de metano, um cigarro
encharcado de medos, fúrias, solidões e casas de pasto, factura?
não
Obrigado, a todos, por, terem vindo ao meu último
desejo, a viagem sem regresso, deslizar sobre o gelo fundido,
caminhar sobre as searas de milho e recordar-me das corridas sobre os
torrões de açúcar da Eira de Carvalhais, tenho, muitas, as
saudades do sino da igreja, as badaladas infinitas, como pedras,
paus, calhaus desajeitados que as minhas mãos procuravam no orvalho,
sou um perfeito
inútil
Obrigado, pertenço-lhes, como o velho vosso
escravo, um pedaço de xisto, enterrado na terra engasgada por ventos
e sofrimentos, marés ainda não temos, brevemente
peixe frito, sandes de torresmos, tremoços e
quitetas, (os parvos nem imaginam o que são quitetas), vinho da
casa, bom, do melhor que há, e claro, não posso esquecer os bolos
maravilhosos da tia Guilhermina, tão velhinha, tão oca como as
oliveiras antes de conhecerem a morte, mas apenas ela, e só ela,
consegue, com meia dúzia de ovos, pouco açúcar e farinha...
inventar maravilhosos belos bolos cobertos por uma única fina
película de chocolate, as galinhas ainda não morreram, ainda temos
algumas couves para o seu sustento, e os peixes do aquário,
ultimamente, parecem andorinhas, voam, de encontro às vidraças das
janelas da sala de jantar, que por razões economicistas, está
encerrada, na porta, temos um letreiro “encerrado para obras”, e
assim, enganamos os clientes, amigos e familiares,
Obrigado, pertenço-lhes, como o velho vosso
escravo, um pedaço de xisto, enterrado na terra engasgada por ventos
e sofrimentos, marés ainda não temos, brevemente, nesta, na
próxima, cidade, brevemente regressados a casa, descalços,
despidos, mergulhávamos no misterioso corpo rochoso da menina
Guilhermina
sua tia?
Não, esta não é a verdadeira tia Guilhermina,
esta, a menina, a menina do rés do chão frente, número trinta e
três, mil e duzentos, Lisboa, esta, a menina Guilhermina, aquela que
entra em mim, e me desassossega para eu escrever todas estas
francisco...
Corridas sobre os torrões de açúcar da Eira de
Carvalhais, tenho, muitas, as saudades do sino da igreja, as
badaladas infinitas, como pedras, paus, calhaus desajeitados que as
minhas mãos procuravam no orvalho, sou um perfeito
inútil
Francisco.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha