sexta-feira, 16 de agosto de 2013

encruzilhada

foto de: A&M ART and Photos

procuro-te nesta encruzilhada de caminhos
como um leão fingindo dormir
ou como a gaivota madrugada
não fingindo nada
simplesmente vivendo a vida como se a vida tivesse vida
fosse comestível
tivesse força própria
como se ela
a vida
a tua vida em encruzilhada de árvore ancorada
fosse... uma alma
penada


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

As loucas palavras?

foto de: A&M ART and Photos

Como acreditar... como confiar... como? Apenas acreditando e confiando..., apenas navegando, apenas, sem mais, nada mais do que, como? Apenas, e muito, os livros e as personagens dos livros, os livros e as estórias dos livros, os livros, as mulheres, as mulheres e o corpo das mulheres, sós, apenas, como?
Como ser feliz quando não se é feliz, como, como acreditar... como confiar... como?
Sendo,
E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando?
Sendo, parecendo ser e não o ser, esperar, esperar, só, sentado, numa banco em pedra, frio e húmido, de esqueleto quebrado, os ossos acabados de submergir das profundezas vozes sem as ditas
Palavras?
As loucas palavras?
Sendo, eu sei, voando, se eu soubesse, voava dentro de ti, teu corpo de magnólia com perfume a desejo, e ficando, e deixando
As loucas palavras?
Como retirara venda dos olhos, se ela, se ela é de aço maciço, como cordas de sisal suspensas dos céu, servindo, como acreditando, apenas para acolher com doçura as velhas e cansadas árvores, as alegres e as tristes, como nós, e apenas, voando, e sendo, como tu, sofrendo como tu, apenas, assim... como as algibeiras da noite rompendo a madrugada e pintando o sobejante com acrílicos em cadáveres, quase a serem enterrados vivos na fogueira, sendo, acreditando e
Palavras?
As loucas palavras?
Sofrendo, e ardendo em ti quando transportas contigo a fogueira inventada numa noite de Inverno, quando sentados, nós, desenhávamos o fogo nas paredes do escritório, como acreditar?
Acreditando,
E
E como confiar?
Confiando,
Não o sei, apagando esse fogo, ouvindo a música das plantas, simplesmente... ouvindo e sonhando e
Acreditando?
E acreditando...
Acreditar? Brincando como palavras sós, desejosas de serem desejadas, brincando, brincando sós, nós, entre árvores e rios, e socalcos como telas envelhecidas das paredes novas do amor, acreditando?
Acreditar... que, talvez, o amor, viva como vivem os homens e as mulheres, brincando, e sofrendo, e acreditando... confiando, vendo e sendo, uma noite vestida com pregos e tábuas finas, e as lâminas de água, e os barcos envenenados com saudade e o silêncio,
Confiando?
Como confiar se amanhã pode não ser Sábado?
Sendo,
E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando? Acreditar, sim, sim sendo, sentados como ontem, sentados a ver o mar, a regressar de longe, apenas e sós, sendo, eles,
Acreditando,
Acreditando?
Acreditando que assim sendo, amanhã, amanhã regressará para nós, os ditos sonhos, que vimos fugir, que vimos partir... como um tornado correndo montanha abaixo, sós, nós
Acreditando?
E em acreditar... eu... sofrendo, sofri, não dizendo que... amanhã poderá não ser Sábado,
Quem o garante?
Ele?
Ela?
Ou... vós, vós que sois cortinados de uma janela à beira do precipício...
Esperando
Acreditando que acreditar,
Não,
Não somos o vento, porque se o fossemos... tínhamos nãos mãos asas... e temos dedos, dedos de acariciar corpos sofrendo, corpos desejando, corpos... acreditando.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha
sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

As sílabas dos calendários falsificados

foto de: A&M ART and Photos

Não tenho dias de ti
em todos os horários mergulhados nas amoreiras cinzentas
não posso acreditar nas tuas tristes palavras
que alimentam a máquina dos sonhos
não
não tenho dias de ti
e em ti
as películas negras da paixão
desertaram
morreram
esgotaram-se como amêndoas de cartão
no amanhecer desconhecido,

Não
não tenho dias de ti,

Em ti
e em ti,

Não
não tenho dias em ti
e em ti,

Não tenho dias de ti
às conversas mórbidas das tardes poeirentas
há silêncios que demoram...
há em ti
momentos
desejos
circos ambulantes entre rosas e palavras sem sentido
tu
eu
perdidos dentro do mundo sem fechadura...
e sofremos
e sofremos as sílabas dos calendários falsificados.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele

foto de: A&M ART and Photos

Sentíamos o peso invisível da morte sobre o esqueleto verde das amoreiras em flor, tínhamos acabado de conhecer o Artur, num daqueles bares onde bebíamos..., e ao outro dia, já o bar tinha desaparecido de nós, vivíamos desesperados como duas raízes escondidas nas profundezas, enganas-te a ti mesma, inventas personagens, algumas, sem o sabres, vestes-las de perfume mentira, outras, enterras-las nas cavernas doirados das coxas rosa púrpura,
Sabíamos-lo,
E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,
Havia uma lanterna que basicamente nos servia para...
Afugentar as mentiras, minhas?
Sim, embriago o Artur encostado ao balcão de mármores com um livro em granito onde algumas palavras brincavam às escondidas,
“Aqui Jaz Artur Prior”, e nada mais do que isso,
Mentiras que eu entendo, que eu descubro e fico calado, cabisbaixo, envenenado pelas árvores com as pequenas folhas comestíveis, e bebíamos, e fazíamos como se de dois corpos suspensos na madrugada se tratasse, e não o éramos, porque há muito que deixamos de ser corpos, hoje somos caules brincalhões, balões de naftalina,
Porquê, Artur?
Não sei, sei... meu querido...
Porquê, quê?
Sabíamos-lo,
E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,
Havia uma lanterna que basicamente nos servia para...
Afugentar as mentiras, minhas? E devíamos estar loucos, tu, e eu, porque de nada havia para ancorar ao porto de embarque, perdi a âncora, abandonei as cordas de nylon, e travesti-me de petroleiro desgovernado, só, felizmente...
Só?
Porquê, Porquê... Artur Prior?
Porque tínhamos descoberto a verdade, porque tínhamos encontrado o carrossel do Amor, todo ele em oiro maciço e comestíveis os cavalos, estes em algodão doce, porque, meu amor, tínhamos descoberto o bar onde éramos verdadeiramente... felizes,
Só?
Só... e nada mais do que isso,
Tínhamos acabado de conhecer a manhã, e havia uma estranha lanterna, uma lanterna que detectava as tuas, as minhas mentiras, que tu me inventavas, e quando me dizias que eu era
Sabíamos-lo,
E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,
Havia uma lanterna que basicamente nos servia para...
E era, e sempre fui, um fútil e medíocre livro de granito onde alguém escreveu
“Aqui Jaz... Artur Prior”
E
Nada
Só?
Não, nada e nada mais do que isso, meu querido, e apenas, só, tínhamos acabado de conhecer a manhã, e havia uma estranha lanterna, uma lanterna que detectava as tuas, as minhas mentiras, que tu me inventavas, e quando me dizias que eu era feliz, eu acreditava que
Eu era feliz,
E quando me dizias que eu era um livro em granito, eu acreditava que
Eu sou um livro em granito, meu querido, granito com bolinhas encarnadas,
E acreditava,
E deixamos de acreditar porque sentíamos o peso invisível da morte sobre o esqueleto verde das amoreiras em flor, tínhamos acabado de conhecer o Artur, num daqueles bares onde bebíamos...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
quinta-feira, 15 de Agosto de 2013

corações de inveja

foto de: A&M ART and Photos

inventaste-me e inventaste o amor
descreveste no meu corpo de âncora adormecida
a paixão dos homens
inventaste-me e esculpiste nos meus lábios a dor
e a melancolia e o sofrimento...
e o desejo de ser desejado
pelo desejo inventado
por ti
por ele
pelas sombras que vivem nas cidades
inventaste-me e inventaste o amor
e escreveste que eu era invisível
que eu tinha asas
e pulmões de papel
como os barcos
e as tristes marés
que das tuas mãos
delas
de ti
inventaste-me e inventaste o amor
e os peregrinos teus medos no caixão do cio
de ti delas
deles
coitadas das coxas de água salgada
saltitando entre as pedras em silêncio
e os corações de inveja


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
quinta-feira, 15 de Agosto de 2013

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Desejar desejando que tu me ames

foto de: A&M ART and Photos

Sonho-te desejando que tu me desejes
Mesmo sabendo que algumas rosas
As mais bravias
Não conseguem sobreviver
Às mentiras da noite
Mesmo sabendo
Que das mãos de rosa bravia…
Há um estranho perfume
Diluído em palavras
Sons
E imagens coloridas
Que habitam nos teus sonhos melódicos e poéticos,

Sonho-te
Que tu me desejes
Nas tardes húmidas do cansaço
Como se eu fosse uma tela acabada de pintar
Ou
Um poema
Um lindo poema depois de amar
E…
Escrevo-te
Desejar-te desejando… que tu me desejes
Desejar desejando que tu me ames
Como amas as flores e os pássaros do meu jardim…


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Amávamos-nos como quatro borboletas com asas em papel

foto de: A&M ART and Photos

Amávamos-nos como quatro borboletas com asas em papel, tínhamos círculos e quadrados, tínhamos triângulos, tínhamos, amávamos-nos
Quando acordava a manhã, tínhamos sede, bebíamos água salgada, e mergulhávamos num tanque de algas encarnadas, tínhamos a saudade imprimida nas verdes nádegas em doce algodão, e amávamos-nos e beijávamos-nos quando éramos gaivotas, hoje, o que somos hoje, meu amor?
Réstias infiltravam-se nos orifícios das munições perdidas, algumas, até esquecidas, antes mesmo de
Amávamos-nos como serpentes suspensas nos caules tubérculo dos esqueletos de arame, sentá-te vergares-te sobre a sombra do cansaço, gritavas por mim, e nós, as três, na janela da morte, e procurávamos
De?
Cigarros, pedaços de madeira e fósforos já usados,
E
De?
Amávamos-nos como correntes de água descendo o corpo teu, nosso, meu, e teu, de nós as três
Quatros?
E
De nós as três vestidas com tecido branco, puras e imaculadas, inocentes como as andorinhas antes de acordar a Primavera, e brevemente alguém
Loucas, elas,
Loucas...
Nós, loucas?
Amávamos-nos como quatro borboletas com asas em papel, tínhamos círculos e quadrados, tínhamos triângulos, tínhamos, amávamos-nos entre triângulos, amávamos-nos entre quadrados, sentadas sobre o cosseno, a Teresa... deitada
Onde, minha querida?
Deitada sobre a tangente de três pi radianos, coitada, e adormeceu, e vomitou toda a trigonometria, e nada
Querida, sim, diz-me porquê?
Porquê o quê, porquê?
E nada, nem o círculo trigonométrico resistiu à queda livre do amor quando este
Deitada sobre a tangente de três pi radianos, coitada, e adormeceu, e vomitou toda a trigonometria, e nada
Querida, sim, diz-me porquê?
Porquê o quê, porquê?
Quando este se atirou do nono andar, havia uma viga metálica, havia três corpos submersos no silêncio das pequenas gotículas de suor, os vossos corpos
Entrelaçados como malhasol... e vomitou toda a trigonometria, e nada
Querida, sim, diz-me porquê?
Porquê o quê, porquê?
Quê...
Porquê, Gabriela?
Não o sei, minha querida, não o sei...
Vi, e havia serpentes, havia aço, havia corpos, corpos beijando-se na penumbra noite de Agosto, e depois, davas-me a mão, e eu, eu ficava-te com os teus lábios durante toda a noite, inventávamos horários nocturnos e as nossas noite
Trinta e seis horas, o tempo necessário para saborear os teus lábios, os dela, os nossos lábios... e tu, Gabriela?
Eu o quê, Teresa?
Nada, nada... querida Virgínia... nada,
Porquê, Gabriela?
Não o sei, minha querida, não o sei...

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 13 de Agosto de 2013

Texto em destaque - Sapo Angola - Blogue Cachimbo de Água
Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Partilhável como os teus seios de abrigo em noites escuras

foto de: A&M ART and Photos

Partilhável como os teus seios de abrigo em noites escuras, partilhável como veleiros mendigos em mares por navegar, partilhável como um esqueleto em vidro e pintado à mão,
O corpo
À mão, em dedos como lâminas, os cabelos incham, aumentam de volume, voam sobre os arbustos comestíveis das searas negras, vultos com sorriso nos olhos, à mão, vêm como penas dos pássaros assassinados pelo vento, e o corpo
Navega, estreme como a tua voz quando me ouvias dentro dos cubos de gelo que existiam no velho jardim dos desejos cabelos, os cabelos incham, aumentam de volume, cresce, o corpo cresce vagarosamente, a idade constrói-se num calendário esquecido no arame que vive e sempre viveu... nas traseiras da casa, o banco onde te sentavas, depois do jantar, morreu, e o livro que trazias sempre debaixo do braço
Morreu?
Não, não morreu, deixei de o ver, desapareceu, ausentou-se numa noite de Inverno, estava a lareira acesa, havia lençóis de geada em frente à nossa casa
Lembras-te?
Da casa, do livro... ou da geada?
De mim, se ainda te lembras de mim...
Não, Morreu?
Como morrem todos os livros e todas as geadas, de cansaço, de insónia, de
À mão, meu querido?
De nada adiantaram as gaivotas que nos visitavam ao cair da noite, porque morreu a noite, porque morreram as gaivotas... e
As fotografias, também morreram?
Não, morreu?
E nada fazia crer que tu, tal como o livro, e tal como a geada... deixasses
Deixasse o quê, meu querido?
Deixasses de me visitar, deixasses de perceber como eram construídos os sonhos antigamente, não hoje, mas ontem, o correio electrónico impaciente, não se cala, desassossegado, impaciente...
Saudades das cartas perfumadas com corações desenhados pela tua mão minúscula, pela tua mão... de criança, na altura, cresceste, és mulher, de papel ainda vives deambulando junto ao Tejo, oiço-te quando espero pelos barcos, oiço-te quando me sento num banco em pedra, sinto o frio no rabo, e imagino-te... saltitando nas minhas coxas, oiço
Os apitos,
Partilhável como os teus seios de abrigo em noites escuras, partilhável como veleiros mendigos em mares por navegar, partilhável como um esqueleto em vidro e pintado à mão,
O corpo
À mão, em dedos como lâminas,
Os apitos, comestíveis, partilháveis... como se fosses um livro emprestado, folheado por toda as pessoas lá do bairro, e à mão, o corpo
Inchava e aumentava de volume, e o teu cabelo parecia uma noite de luar, e o teu cabelo parecia uma noite de boémia, num qualquer bar em Cais do Sodré, e o teu cabelos, os apitos, cruzavam o rio, olhava-te e sentia dentro dos teus olhos as tempestades
O corpo, chora, meu querido?
Morreu...
Tempestades como ramos de rosas sobre a lápide do teu desejo, como a lápide da tua vagina quando as gaivotas
Quais gaivotas, meu querido?
Quais gaivotas, meu amor...
De nada adiantaram as gaivotas que nos visitavam ao cair da noite, porque morreu a noite, porque morreram as gaivotas... e
As fotografias, também morreram?

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 12 de Agosto de 2013

A pauta

foto de: A&M ART and Photos

Entre nua e as Quatro Estações de Vivaldi
O corpo balança no Dó Ré Mi
Algo de estranho de passa no Fá
Desisto quanto oiço o Sol
E ela nua
À espera do Lá…
Abre-se a janela em Si
E o corpo
Balança o corpo como um piano suspenso no tecto da alvorada
Desce sobre ela o amanhecer
Nua
Nua sem o saber…

Não percebo nada de música
Melodias
Poesia ou
Ficção vagabunda…
Mas tu nua
Não
Não enquanto brotam os sons de Vivaldi
Na tua mão
Dos teus seios
Toda nua
Tu
Uma pauta com sabor a limão.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó