foto de: A&M ART and Photos
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Sentíamos o peso invisível da morte sobre o
esqueleto verde das amoreiras em flor, tínhamos acabado de conhecer
o Artur, num daqueles bares onde bebíamos..., e ao outro dia, já o
bar tinha desaparecido de nós, vivíamos desesperados como duas
raízes escondidas nas profundezas, enganas-te a ti mesma, inventas
personagens, algumas, sem o sabres, vestes-las de perfume mentira,
outras, enterras-las nas cavernas doirados das coxas rosa púrpura,
Sabíamos-lo,
E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,
Havia uma lanterna que basicamente nos servia
para...
Afugentar as mentiras, minhas?
Sim, embriago o Artur encostado ao balcão de
mármores com um livro em granito onde algumas palavras brincavam às
escondidas,
“Aqui Jaz Artur Prior”, e nada mais do que isso,
Mentiras que eu entendo, que eu descubro e fico
calado, cabisbaixo, envenenado pelas árvores com as pequenas folhas
comestíveis, e bebíamos, e fazíamos como se de dois corpos
suspensos na madrugada se tratasse, e não o éramos, porque há
muito que deixamos de ser corpos, hoje somos caules brincalhões,
balões de naftalina,
Porquê, Artur?
Não sei, sei... meu querido...
Porquê, quê?
Sabíamos-lo,
E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,
Havia uma lanterna que basicamente nos servia
para...
Afugentar as mentiras, minhas? E devíamos estar
loucos, tu, e eu, porque de nada havia para ancorar ao porto de
embarque, perdi a âncora, abandonei as cordas de nylon, e
travesti-me de petroleiro desgovernado, só, felizmente...
Só?
Porquê, Porquê... Artur Prior?
Porque tínhamos descoberto a verdade, porque
tínhamos encontrado o carrossel do Amor, todo ele em oiro maciço e
comestíveis os cavalos, estes em algodão doce, porque, meu amor,
tínhamos descoberto o bar onde éramos verdadeiramente... felizes,
Só?
Só... e nada mais do que isso,
Tínhamos acabado de conhecer a manhã, e havia uma
estranha lanterna, uma lanterna que detectava as tuas, as minhas
mentiras, que tu me inventavas, e quando me dizias que eu era
Sabíamos-lo,
E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,
Havia uma lanterna que basicamente nos servia
para...
E era, e sempre fui, um fútil e medíocre livro de
granito onde alguém escreveu
“Aqui Jaz... Artur Prior”
E
Nada
Só?
Não, nada e nada mais do que isso, meu querido, e
apenas, só, tínhamos acabado de conhecer a manhã, e havia uma
estranha lanterna, uma lanterna que detectava as tuas, as minhas
mentiras, que tu me inventavas, e quando me dizias que eu era feliz,
eu acreditava que
Eu era feliz,
E quando me dizias que eu era um livro em granito,
eu acreditava que
Eu sou um livro em granito, meu querido, granito com
bolinhas encarnadas,
E acreditava,
E deixamos de acreditar porque sentíamos o peso
invisível da morte sobre o esqueleto verde das amoreiras em flor,
tínhamos acabado de conhecer o Artur, num daqueles bares onde
bebíamos...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
quinta-feira, 15 de Agosto de 2013