foto de: A&M ART and Photos
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Projecto-me tridimensionalmente no muro onde poisas,
todas as noites, os cotovelos, seguras a tua doce cabeça com as
pequeníssimas mãos de menina apaixonada, olho-te como se fosses uma
imagem prateada tingida com pedaços de azuis cerejas que numa tela
simplesmente mergulhada na noite desgovernada, ela, absorve-te,
alimenta-se de ti como as abelhas do feminino pólen com sabor a
masculino desejo, e depois de saber que és uma imagem prateada
tingida..., os pedaços de azuis cerejas borbulham-se-te com
cobertores suspensos numa janela dançarina, bailarina eu?
Bailarino, tu!
E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras
que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa,
baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?
Bailarino, bailarino sem profissão conhecida,
artista sem arte, Tímido, eu? Que me dera ser como tu, uma triste
alga dentro do rio sonolento das varandas com gradeamentos
enferrujados, tristemente, eles, dentro de ti, às sílabas farto eu
escrever, Tímida ela?
Perdia-se-lhe os mínimos sons da sua voz nas
pétalas doiradas das rosas transeuntes das ruas prostituindo-se como
reles bancos de jardim, onde todos se sentam, e eles... apenas estão
lá, não pelo prazer, apenas estão lá porque os obrigam a estar,
porque se não fosse dessa forma...
Tímidos?
Os corpos reluziam como gaivotas, e das ripas em
madeira dos teus ombros, as alegres asas de porcelana, meu amor,
Tímida? Quando sei que o teu corpo é incenso que arde num prato de
cobre, música alimenta-se em ti, e os versos
Bailarino, tu!
E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras
que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa,
baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?
Versos no cardápio ao preço de vinte e cinco euros
a dose, aprece muito, isenção de IVA, e com a oferta de uma bebida
branca...
Bailarino tímido, eu, ou tu?
Tenho uma vida cúbica, tenho sonhos quadrados e
sofro em círculo, sou um perfil geométrico, alimento-me de senos e
cossenos, fumos tangentes hiperbólicas, e faço o amor com as
equações diferencias..., afinal, quem sou eu? Um pedinte
matemático? Um bailarino/Bailarina, Tímida? Um hipercubo com braços
de esperma descendo escadas de cinzentos soníferos com orifícios a
imitar as janelas de luar?
Bailarino, tu?
És um triste, és uma integral tripla sobrevoando o
momento fletor dos teus livres seios na viga do desejo... oiço-te
gemer, a musicalidade da tua boca é uma pauta com sons débeis,
difíceis de engolir, fáceis de mastigar..., textos, palavras,
livros bolorentos entre vacas e carneiros no centeio do tio Joaquim,
vivíamos como dois palhaços embriagados pelos sorrisos das marés
envergonhadas dos longínquos mares que descobrimos nunca terem
existido..., e o vento
E o vento vai desalicerçar a tua singela estrutura
de bailarina rodando em redor do teu centro de massa cuspindo
momentos angulares como fazem as nuvens antes de adormecerem nos teus
braços...
Ainda acreditas, que, eu, Bailarino... Tímido?
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha