Foto de: A&M ART and Photos
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Não entendo as tuas insignificantes estórias,
parecias-me cansada devido à azafama das cearas verdes enquanto
dentro do palheiro cresciam as amarguradas tempestades tuas, as
viagens sem regresso minhas, os transeuntes emagrecidos como sombras
depois de correrem sobre a ponte dos abismos, e do outro lado, lá
bem distante de nós, ouvíamos os pequenos uivos das paixões
rasuradas no pergaminho corpo das donzelas nocturnas do desejo, e os
automóveis envenenavam-se com as gargalhadas dos embriagados
candeeiros de néon que a cidade alimenta com as sobejantes flores
dos canteiros quadrangulares dos círculos prateados que os espelhos
de luz transmitem para os muros doentios do ciume, amava-la?
Não, nunca a amei como amo as tas palavras de cetim
adormecido...
Queria-la para procurares o mar?
Não, nunca a amei como amo as tuas saudades de
verga enrolada nas dentaduras em marfim dos crocodilos de brincar,
escrevia-lhe e deixei de o fazer,
Porquê?
Perguntas-me porque é triste a morte quando nenhum
dos dois morreu, como se nós soubéssemos a dor que provoca a morte
nos objectos, nas coisas, nas pessoas,
Quando morrer que tenha a tua mão entrelaçada na
minha, e no entanto
Porquê?
Há pessoas assim, assim como? Assim... e no entanto
descobrimos que a paixão é um bicho com asas de gaivota, e boca de
pedestal abandonado, esperando o regresso de uma qualquer estátua, e
Porquê?
Porque elas gostam, porque eles gostam, porque a
paixão é um bicho com corpo de mulher e dentro do corpo dessa
mulher..., o tempo eterno, o tempo gasto com as superficialidades dos
simples relógios de parede, alguns lixados com F Grande, outros,
outros bruta-montes carregando caixotes em madeira do cais de
desembarque até à pensão, chegando ao duzentos e dezassete...
Dormíamos,
Acariciávamos os tentáculos abraços das sombras
de papel dos mendigos travestidos como lâmpadas clandestinas e
apaixonadas pela letra de uma canção, sofrias, amavas e não eras
amado, amada depois de crucificada nos cobertores diurnos das
vertigens tardes de sexo prometido, e a cara -de-pau que o espelho
absorvia do bengaleiro esperando a subida dos ditos homens
carregadores que em cada degrau perdiam as réstias caixas em
madeira,
Porquê?
E afinal, nada, vazios, perfeitos idiotas vestidos
de camareiros carregando objectos inacessíveis, carregando objectos
invisíveis, carregando memórias sem que tenhamos descoberto que a
morte
Porquê?
Às vezes veste-se de alegria, como muitas das vezes
a vida se veste de tristeza, e muitas outras
De nada,
Nada como dantes,
(Quando morrer que tenha a tua mão entrelaçada na
minha, e no entanto
Porquê?
Há pessoas assim, assim como? Assim... e no entanto
descobrimos que a paixão é um bicho com asas de gaivota, e boca de
pedestal abandonado, esperando o regresso de uma qualquer estátua, e
Porquê?)
Não entendo as tuas insignificantes estórias,
parecias-me cansada devido à azafama das cearas verdes enquanto
dentro do palheiro cresciam orgasmos circunflexos, orgasmos recheados
com vegetarianas mãos de orvalho, sentíamos a geada nas nádegas e
sabíamos que lá longe, uma ponte atravessava o cais de desembarque,
despediam-se os amantes, despediam-se os mortos dos vivos e os vivos
das árvores e as árvores dos pássaros e os pássaros
Pai, o que são pássaros?
Bichos com asas...
A Paixão?
(Não entendo as tuas insignificantes estórias,
parecias-me cansada devido à azafama das cearas verdes enquanto
dentro do palheiro cresciam)
Cresciam dois corpos atravessando a puberdade em
direcção às Termas de S. Pedro do Sul..., e hoje, hoje apenas
fantasmas, e nada mais do que isso, fantasmas vivendo entre os
lânguidos campos de milho, e ele, e ela, os dois
Espantalhos,
A Paixão?
Pai, o que são pássaros?
Bichos com asas...
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha
Quarta-feira, 6 de Novembro de 2013