quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Dormíamos vagueando nos jardins de granito

Foto de: A&M ART and Photos

Não entendo as tuas insignificantes estórias, parecias-me cansada devido à azafama das cearas verdes enquanto dentro do palheiro cresciam as amarguradas tempestades tuas, as viagens sem regresso minhas, os transeuntes emagrecidos como sombras depois de correrem sobre a ponte dos abismos, e do outro lado, lá bem distante de nós, ouvíamos os pequenos uivos das paixões rasuradas no pergaminho corpo das donzelas nocturnas do desejo, e os automóveis envenenavam-se com as gargalhadas dos embriagados candeeiros de néon que a cidade alimenta com as sobejantes flores dos canteiros quadrangulares dos círculos prateados que os espelhos de luz transmitem para os muros doentios do ciume, amava-la?
Não, nunca a amei como amo as tas palavras de cetim adormecido...
Queria-la para procurares o mar?
Não, nunca a amei como amo as tuas saudades de verga enrolada nas dentaduras em marfim dos crocodilos de brincar, escrevia-lhe e deixei de o fazer,
Porquê?
Perguntas-me porque é triste a morte quando nenhum dos dois morreu, como se nós soubéssemos a dor que provoca a morte nos objectos, nas coisas, nas pessoas,
Quando morrer que tenha a tua mão entrelaçada na minha, e no entanto
Porquê?
Há pessoas assim, assim como? Assim... e no entanto descobrimos que a paixão é um bicho com asas de gaivota, e boca de pedestal abandonado, esperando o regresso de uma qualquer estátua, e
Porquê?
Porque elas gostam, porque eles gostam, porque a paixão é um bicho com corpo de mulher e dentro do corpo dessa mulher..., o tempo eterno, o tempo gasto com as superficialidades dos simples relógios de parede, alguns lixados com F Grande, outros, outros bruta-montes carregando caixotes em madeira do cais de desembarque até à pensão, chegando ao duzentos e dezassete...
Dormíamos,
Acariciávamos os tentáculos abraços das sombras de papel dos mendigos travestidos como lâmpadas clandestinas e apaixonadas pela letra de uma canção, sofrias, amavas e não eras amado, amada depois de crucificada nos cobertores diurnos das vertigens tardes de sexo prometido, e a cara -de-pau que o espelho absorvia do bengaleiro esperando a subida dos ditos homens carregadores que em cada degrau perdiam as réstias caixas em madeira,
Porquê?
E afinal, nada, vazios, perfeitos idiotas vestidos de camareiros carregando objectos inacessíveis, carregando objectos invisíveis, carregando memórias sem que tenhamos descoberto que a morte
Porquê?
Às vezes veste-se de alegria, como muitas das vezes a vida se veste de tristeza, e muitas outras
De nada,
Nada como dantes,
(Quando morrer que tenha a tua mão entrelaçada na minha, e no entanto
Porquê?
Há pessoas assim, assim como? Assim... e no entanto descobrimos que a paixão é um bicho com asas de gaivota, e boca de pedestal abandonado, esperando o regresso de uma qualquer estátua, e
Porquê?)
Não entendo as tuas insignificantes estórias, parecias-me cansada devido à azafama das cearas verdes enquanto dentro do palheiro cresciam orgasmos circunflexos, orgasmos recheados com vegetarianas mãos de orvalho, sentíamos a geada nas nádegas e sabíamos que lá longe, uma ponte atravessava o cais de desembarque, despediam-se os amantes, despediam-se os mortos dos vivos e os vivos das árvores e as árvores dos pássaros e os pássaros
Pai, o que são pássaros?
Bichos com asas...
A Paixão?
(Não entendo as tuas insignificantes estórias, parecias-me cansada devido à azafama das cearas verdes enquanto dentro do palheiro cresciam)
Cresciam dois corpos atravessando a puberdade em direcção às Termas de S. Pedro do Sul..., e hoje, hoje apenas fantasmas, e nada mais do que isso, fantasmas vivendo entre os lânguidos campos de milho, e ele, e ela, os dois
Espantalhos,
A Paixão?
Pai, o que são pássaros?
Bichos com asas...


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha
Quarta-feira, 6 de Novembro de 2013

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