quinta-feira, 7 de novembro de 2013

as palavras com sabor a zinco das sanzalas de vidro...

foto de: A&M ART and Photos

hoje vi o mar estampado no silêncio da alvorada tarde quando emagrecida pela solidão
dos alicerces nocturnos do medo
pensei em ti quando brincávamos nos charcos pardos dos musseques em flor
imaginei-te hoje com uma carapaça de filhos
imaginei-te hoje com uma cabeleira em açafrão e vestidos de alecrim
e tu olhavas-me percebendo que era eu não sendo eu
dizias-me baixinho
CRESCESTE...
cresci imaginado sorrisos nas janelas da escola com vista para o recreio
parti vidros desajeitadamente com uma bola de futebol
partiram-me a cabeça despropositadamente apenas com o pretexto de no futuro...
… amo-te

(e não amavas
e não gostavas das palavras com sabor a zinco das sanzalas de vidro...)

imaginei-te hoje voando sobre as mangueiras dos quintais do Madame Berman
vi o triciclo encolhido junto ao antigo pombal
vi as galinhas esperando o sonâmbulo milho
como migalhas de sexo perdidas na cinzenta voz da paixão
hoje vi o mar
e confesso que não gostei das imagens estampadas no silêncio da alvorada tarde quando emagrecida pela solidão dos alicerces nocturnos do medo
confesso que hoje tive medo quando recordei o teu rosto e o vi impregnado numa lâmina de xisto
voraz forçosamente como pirilampos nos buracos de uma parede de orgasmos voando sobre os pássaros
imaginei-te quebrando o gelo e as pequenas pinceladas de suor que iluminavam o teu corpo
e os sais de prata dos teus olhos em noites de viagem aos rochedos negros...
imaginei-te e percebi que sempre foste de sombra

(e não amavas
e não gostavas das palavras com sabor a zinco das sanzalas de vidro...)

CRESCESTE...
imaginando bocas de sémen nos lábios da madrugada
e cresci acreditando que o mar era uma ténue luz de linho bordada pela mão das cicatrizes manhãs de cacimbo
cresci imaginando os barcos cruzarem os corredores da inocência
sem apitos
marinheiros fecundos
homens vestidos de cozinheiros...
cozinheiros vestidos de homens com gabardines em chocolate
e chapéus de chuva com sabor a claridade cansada
imaginei-te crescendo no meu colo olhando as marés do encarnado beijo
e percebemos que as cordas de nylon eram filhas dos alicerces nocturnos do medo

(e não amavas
e não gostavas das palavras com sabor a zinco das sanzalas de vidro...)


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 7 de Novembro de 2013

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