quinta-feira, 20 de junho de 2013
Suspenso numa árvore de cartolina colorida
foto: A&M ART and Photos
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Tudo é tão pouco dentro de mim
quando vejo este meu navio enferrujado
mergulhar
suspenso numa árvore de cartolina
colorida
cansado
amargurado porque dizem-lhe que deixou
de haver mar
como o escrevem nas paredes invisíveis
que jamais existirá amor
os homens e as mulheres todos morrerão
todos os barcos se afundarão
e haverá eternamente mar
e amor
palavras e versos sem sentido contra as
nuvens do amanhecer,
Tudo é tão pouco e tão vago
como as ruas triste de uma cidade sem
coração
com todas as janelas enceradas
portões de entrada
sótãos e escadas em madeira
que é tão pouco
dentro de mim
como um rio sem fim
vagueando sobre as oliveiras dos
silêncios
este meu corpo de sílaba adormecida
poisado nu sobre o papel de embrulho
que servirá como teu lençol nos divãs
do desejo...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Querido lobo, que desenho é esse?
foto; A&M ART and Photos
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Via a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a em
pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei
É o fim, o eterno fim,
As nuvens tristes, prontas a comerem-me,
saborearem-se com a minha carne em cadáver, como o fazem os abutres
(aves e humanos), das poucas gotas de chuvas que sobejavam dos lobos
dispersos pela montanha, ainda coberta pela neve do Inverno, havia
um que me chamou à atenção, e de tão distraído que sou, só
depois de o observar, uma, duas, três... talvez quatro vezes,
percebi que ele trazia na lapela uma folha de papel com um desenho
ilegível, perguntei-lhe
Querido lobo, que desenho é esse?
Cerra os olhos, finge que eu sou uma pedra, um
arbusto ou pior, que eu não existo, deu meia volta e desapareceu
entre os outros companheiros, como quem foge do silêncio quando as
palavras apenas servem para interromperem a noite, desviarem todas as
estrelas dos espelhos côncavos das cidades sem rios, e
Querido lobo, que desenho é esse?
Se possível, mesmo antes de acordar a manhã, fazer
com que todas as lâmpadas da cidade se apaguem, como os corpos
putrefacto, dentro de um congelador gigante, numa qualquer morgue,
onde existe sempre uma flor não identificada, à espera, que
desespera a chegada de um abutre, e assim, aliviar todo o sofrimento
dos corpos sem cabeça, sem braços, sem leme que seja possível
prosseguir viagem,
Há uma lenda que alimenta desde os primórdios os
mosquitos de asa tricolor, e sobre o fino prato de sopa,
infelizmente, apenas só, em permanente solidão, que como o corpo
putrefacto, espera e desespera pela chegada..., neste caso da dita
sopa, não do abutre (ave ou homem), apetecia-me ouvir POP DEL ARTE,
e como teimoso que ele é
Acredito,
Acreditar, porque não? Até prova em contrário,
todo o réu é inocente, como assim?
Acredito, eu acredito,
E como teimoso que ele é, acredito que passe o
resto da noite a ouvir POP DEL ARTE, depois, depois pegará num livro
de poemas de AL Berto, entre um poema ou três no máximo,
deliciar-se-á como um pássaro a atravessar o Oceano, lê os poemas,
ouve a música, adormece suavemente como
“Vi a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a
em pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei
É o fim, o eterno fim,”
Como se tudo em si fosse um misero sono dentro da
cabeça de um mosquito com asas tricolores, dentro de um prato de
sopa, sem sopa, como à janela da solidão, e o desgraçado do lobo,
até hoje, nunca me saciou a curiosidade e me contou o significado do
desenho ilegível que trazia na lapela...
É o fim?
Eu, acredito, acredito que não..., vi a terra
desaparecer dos meus olhos, sentia-a em pedaços de vapor a todo o
comprimento do meu corpo, e pensei
Vi o céu a desaparecer, e pensei
Vi, e pensei...
Hoje, POP DEL ARTE e AL Berto, porque não?
Acreditar...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Senhor invisível
foto: A&M ART and Photos
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Me beije senhor invisível
me acaricia com suas mãos de luxo
revestidas em veludo
me poise sua pele sobre a minha pele
me aleije
senhor de papel,
Me acorrente ao sabor da boca em
silêncio
me deite em si
o meu corpo deleite com sabor a
amanhecer
me aleije
me abrace meu senhor das madrugadas
difíceis,
Me beije senhor das esplanadas
faça de mim uma árvore com ramos e
flores
com pássaros e vampiros desesperados
pelo sangue suor das coxas minhas...
me aprisione
senhor meu senhor invisível...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
terça-feira, 18 de junho de 2013
Borboletas com bolinhas prateadas
foto: A&M ART and Photos
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Conheci uma borboleta com bolinhas prateadas nas
asas maleáveis de porcelana embriagada manhã, um dia, e quando já
me tinha habituado à sua presença no parapeito da janela da
biblioteca, percebi pela sua ausência sem qualquer explicação, que
algo de muito grave tinha acontecido,
Um terramoto derrubando todas as árvores do meu
jardim invisível? Ou.. também pensei na fraca probabilidade de ela
ter morrido, pois diz o povo, que as más notícias são sempre as
primeiras a saberem-se, entenda-se agora por más, má pessoa? Má
vida? Má, ela? Nunca me apercebi de tal facto, sempre afável,
meiga, terna, que às vezes até parecia que tinha chegado de um favo
de mel,
E não era para mais, nos lábios de prata sempre a
suspensa lágrima de açúcar, derradeira melodia dos primeiros sons
do amanhecer, batia-me à janela, eu, quando a ouvia, porque muitas
das vezes dormia tão profundamente que nem me dava conta que o
edifício contiguo tinha desabado durante a noite, e todos os meus
vizinhos desalojados, cerca de vinte famílias, tinham sido acolhidos
na pensão da rua das traseiras, má, porque frequenta-se por homens
de fraco calibre, mulheres petroleiro que quando se aportavam num
cais com fundações suficientemente alicerçadas aos rochedos bem lá
no fundo, nunca mais o abandonavam, chupavam-lhes tudo, inclusive as
algibeiras,
Um terramoto?
As urtigas dormiam debaixo dos meus velhos lençóis
(canso-me deste vibrador sobre a minha secretária,
canso-me, e provavelmente brevemente desligar-se-á, ou... também
pensei na fraca probabilidade de ela ter morrido, mas felizmente que
está vivo, de boa saúde e a atrofiar-me a cabeça; claro que me
refiro ao meu telemóvel... Que pensavam vocês, seus malandrecos?)
E quando por lapso me encostava a elas, sentia-as na
minha pele fina e sedosa, aleatórias madrugadas ausentada de ti,
recordava os teus lábios com lágrimas de açúcar, recordava as
estranhas janelas que sempre prontas me abrias, eu entrava-te e tu
depois, olhavas-me, sorrias-me... e dizias-me na tua voz maliciosa e
poética
Amo-me minha querida,
Às palavras, todas as caixas perdidamente
empilhadas sobre os telhados zincados dos veludos musseques
esquecidos nos pequenos charcos que a chuva depois de partir deixava
sobre a terra agreste, seca, recheada de fendas como a pela das
mesmas mulheres, as de má... que frequentavam a pensão das
traseiras, tocava-te nas pernas, poisava-me lá, e tu, indiferente,
indecisa
Não sei se quero,
E tu desentendida
Não percebi filho,
E tu
Perdida no silêncio... dizias-me que as fotografias
são esqueletos de papel prensados, e tal como as tostas-mistas, de
preferência, comem-se quentes, porque são saborosas, porque tu
inventavas borboletas como quem inventa palavras, e que eu saiba
Mas tu não sabes nada,
Não existem borboletas com bolinhas prateadas nas
asas maleáveis de porcelana embriagada manhã, não existem janelas
com parapeito em granito, e nem sequer tu dormias em casa quando o
edifício contíguo ruiu e desalojou os meus, repito, os meus
vizinhos, porque nem isso tu conseguiste... viver comigo, e
transformares-te em urtigas. Patife.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Em fatias poéticas, dentro de dois pedaços de papel
foto: A&M ART and Photos
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Gosto
da tua amizade, precisamente, pela tua franqueza e sobretudo
optimismo, claro que é bom regressar a Lisboa, e treinar a
caligrafia para prováveis autógrafos, ainda melhor,
Enquanto
lia o teu coração, lembrei-me de um Livro de José Luís Peixoto
“Dentro do Segredo”, sobre a viagem que ele fez à Coreia do
Norte, autógrafos, fazem-me lembrar os Norte-Coreanos, e claro,
todos eles são muito baixinhos, agora, imagina tu, que eu imaginei,
que enquanto autografava um livro, aparecia-me uma Norte-Coreana,
puxa a t-shirt e diz-me
Quero
um autógrafo no meu seio esquerdo,
Boa,
penso eu, e agora? E Agora Francisco?
Pego
na caneta, e tremulamente, escrevo... Francisco Luís Fontinha, com
amizade, e claro, ela sorriu, e foi-se embora…
E
nunca mais utilizarei a minha caneta de tinta permanente, apenas um
corpo poético consegue sobreviver às palavras, apenas este corpo
consegue embrulhar-se entre a poesia e o sonho, ou entre a noite e a
madrugada..., às vezes, entranha-se no prazer, e voa, voa como uma
gaivota desgovernada
E
agora, Francisco? E agora? Que faço com este corpo poético,
literário e desejável? Transformar-se-á em palavras, no verdadeiro
poema? Ficará corpo de mulher com formato de livro, terá mãos para
me acariciar o rosto desgrenhado pelos socalcos do Douro? Terá
olhos, pálpebras e lábios para me beijar? E agora... Francisco...
Gosto,
do autógrafo semeado na areia molhada da feliz gaivota desgovernada,
gosto da tua pele misturada em melódicos sons embainhados dentro da
manhã, ela dança, e mexe-se com a ligeireza de uma andorinha em
pequenos círculos, perguntas-me
Qual
é o perímetro de um círculo, sei, mas simplesmente não me apetece
responder-te, perguntar-te-ia, para que desejas saber o perímetro de
um velho círculo, imobilizado pelo gesso do hospital, alguns dos
ossos não sobreviveram às rotações em redor de uma eira
granítica, e no seu centro de massa, o canastro, o milho, o teu
Corpo?
Em
fatias poéticas, dentro de dois pedaços de papel, açúcar sobre a
pele complexa dos cansaços à beira rio, e em dolorosos soníferos
entram e saem barcos de ti, imaginava-te um socalco esculpida na
montanha com acesso ao rio Douro, imaginava-te a tal Norte-Coreana,
Quero
um autógrafo no meu seio esquerdo,
Boa,
penso eu, e agora? E Agora Francisco?
Pego
na caneta, e tremulamente, escrevo... Francisco Luís Fontinha, com
amizade, e claro, ela sorriu, e foi-se embora…
E
E
ainda...
Corpo?
E
ainda hoje não entendo muito bem as t-shirts que enrolam corpos
poéticos, literários e afins...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Labels:
amizade,
caneta de tinta permanente,
cidade,
Coreia do Norte,
corpos poéticos,
ficção,
literários,
mar,
Texto
Location:
5070 Alijó, Portugal
Sem saber o que fazer
foto: A&M ART and Photos
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Caleidoscópio teu olhar
perfurando sílabas e algas com sabor a
mar
erguendo-se de ti a manhã decalcada na
sombra do luar
às penumbras horas prisioneiras em
teus seios de cristal,
Oiço em ti a perfumada rosa acabada de
nascer
correndo quintais de areia sem o saber
birras de uma criança quando aprende a
ler...
e oiço-o contra a minha solidão
suspensa nas páginas de um velho jornal,
Sinto o meu rosto estampado num muro em
betão
oiço-o cantar e sofrer nas palavras
canção
é ele o indesejado nobre meu coração
inventando pedaços de algodão no
silêncio pedestal,
O meu corpo em crepe papel
lutando nas correntes de ar
argamassadas do fingido cordel
que a boca sobeja e morre na pele...
morre crucificado o esqueleto de metal.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
domingo, 16 de junho de 2013
Em noites cortinados de alecrim
foto: A&M ART and Photos
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Não sabia que do teu corpo fios
gelatinosos de sémen
inventavam a paixão entre finas placas
de silêncio
escorrendo pela montanha dos teus olhos
vagabunda pele que te alimenta
e vagueia pelas mãos fungiformes da
saudade,
Escrevo no teu peito de madrugada
embrulhada nas filas nocturnas do mar
quando abraços de peixe
cambaleiam-se-te entre os teus cabelos de sono
e a minha língua em desejo
escrevo-te em todo o perímetro corpo
que mergulha em mim
como se tivesses nascido da água
salgada,
E como se água fosses
sabendo eu que tens ossos pertencentes
a um esqueleto de solidão
trazes nas pálpebras a insónia
a feliz argamassa das prisões de areia
onde me deito esperando-te e
esperando-te acordado desde manhã cedo,
Não existes em mim
porque pertences aos corpos gelatinosos
das árvores de papel
como crianças em círculos procurando
as palavras e as sombras
que da tua boca sobejam entre cedilhas
e parágrafos abandonados
por uma caneta de tinta permanente...
Não sabia que do teu corpo... de sémen
fúrias formigas em deleite amanhecer
percebendo-se das tuas tristes mãos às
janelas do medo
que os livros dele nunca conseguirão
aportar
sobre ti mulher inventada das noites em
cortinados de alecrim.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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