domingo, 16 de junho de 2013

Em noites cortinados de alecrim

foto: A&M ART and Photos

Não sabia que do teu corpo fios gelatinosos de sémen
inventavam a paixão entre finas placas de silêncio
escorrendo pela montanha dos teus olhos
vagabunda pele que te alimenta
e vagueia pelas mãos fungiformes da saudade,

Escrevo no teu peito de madrugada embrulhada nas filas nocturnas do mar
quando abraços de peixe cambaleiam-se-te entre os teus cabelos de sono
e a minha língua em desejo
escrevo-te em todo o perímetro corpo que mergulha em mim
como se tivesses nascido da água salgada,

E como se água fosses
sabendo eu que tens ossos pertencentes a um esqueleto de solidão
trazes nas pálpebras a insónia
a feliz argamassa das prisões de areia
onde me deito esperando-te e esperando-te acordado desde manhã cedo,

Não existes em mim
porque pertences aos corpos gelatinosos das árvores de papel
como crianças em círculos procurando as palavras e as sombras
que da tua boca sobejam entre cedilhas e parágrafos abandonados
por uma caneta de tinta permanente...

Não sabia que do teu corpo... de sémen
fúrias formigas em deleite amanhecer
percebendo-se das tuas tristes mãos às janelas do medo
que os livros dele nunca conseguirão aportar
sobre ti mulher inventada das noites em cortinados de alecrim.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

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