Podia amar-te enquanto o vento
Leva o que restou da
minha vida
Podia odiar-te enquanto o
vento me traz novamente à vida
Podia ser eu
Podia não ser eu
Podia amar-te enquanto a
Primavera se saboreia com as cerejas dos teus lábios
Podia ser
Podia ser ontem
Ontem podia ser hoje
Hoje podia ser amar-te
Enquanto as cerejas dos
teus lábios
São sanzalas de prata
No olhar pincelado de
encarnado
Dos musseques da minha
infância
Podia amar-te nas fases lunares
E não lunares
Das estrelas comestíveis e
não comestíveis
Podia amar-te enquanto o
vento me traz o que me levou
E me leva tudo aquilo que
não quis ter
Podia amar-te dentro
deste livro
Neste poema
Nesta cama
Podia amar-te e odiar-te
enquanto a chuva se despede de mim
E eu
Dela
Depois….
Depois posso amar-te
enquanto o vento me traz aquilo que me roubou
Daquilo
Muito pouco
Que me sobejou
Alijó, 20/08/2023
Francisco