Voávamos e não sabíamos que voávamos,
Voávamos sobre uma cidade
em lágrimas,
Sobre uma cidade que se
escondia depois do pôr-do-sol…
Voávamos entre paredes,
Voávamos,
Voávamos entre janelas,
Voávamos nos olhos um do
outro…
E esperávamos que regressassem
as andorinhas em flor,
Voávamos de pensão em
pensão,
De escadaria em
escadaria,
Voávamos e não sabíamos
que voávamos…
Voávamos de barco em
barco e de mar em mar,
Voávamos nos lábios da
saudade,
Voávamos nas mãos do luar…
Voávamos sobre uma cidade
esquelética,
Uma cidade muito feia,
Uma cidade de engano,
E voávamos também nós…
Enganados,
Voávamos na primeira
lágrima da manhã,
Voávamos no último
sorriso da tarde,
E voávamos sem saber que
voávamos,
E voávamos sem saber que
as nossas asas…
Aos poucos,
Poucos…
Morriam depois de um
poema declamado,
Voávamos na ausência do
sono,
Voávamos nas palavras que
eu te escrevia,
Voávamos enquanto alguém
corria a cidade à nossa procura…
E nunca nos encontrava,
Voávamos, voávamos bem
lato,
Voávamos sobre a copa das
árvores,
Onde dormiam os pássaros
que nos ensinaram a voar,
Voávamos durante o dia,
Voávamos durante a noite…
Voávamos à procura das
estrelas que alguém lançou ao mar,
Voávamos,
Voávamos…
Voávamos enquanto o
desejo nos consumia…
E continuávamos a voar,
E voávamos,
Voávamos entre janelas,
Voávamos nos olhos um do
outro…
E esperávamos que regressassem
as andorinhas em flor.
Alijó, 19/05/2023
Francisco Luís Fontinha
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