sábado, 23 de maio de 2015

Por ti


Não sei o que sinto

Enquanto vivo e respiro

Pareço uma máquina

Em pedra adormecida

Sem vida

Triste

E esquecida

E nesta vida se ontem chorei

Não o sei

E nesta vida se ontem sorri

Não o sei

Por ti,

 

Ali

E aqui…

Nesta casa

Neste Universo sem palavras

Não há conversas

Sem… sem lágrimas,

 

Não sei o que sinto

Quando me embrulho num lençol de mar

Com barcos

Gaivotas

E ossos… e ossos para recordar

Não sei o que sinto

Sem vida

Triste

Ali

E aqui

Por ti

Por ti…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 23 de Maio de 2015

Sem morada


O amor das pedras

Quando as pedras são pessoas

E as pessoas

Pedras

Sombras

Noite

Clara

Escura

Negra

A paixão

Das pessoas

Das pedras

Boas

Voar

Sobre

Voar sobre os telhados de vidro

E sonhar com pássaros em papel

O fumo

Do teu olhar

Regressa aos meus lábios em sono

A alegria

De chorar

Porquê

Se amanhã

Voar

No mar

Sobre o mar

Das pedras

Boas

Voas

Tu

Voar…

Voar sobre o meu peito de xisto

E ao longe

Socalcos

E luz

Entre candeias

E palavras

De nada

Obrigado

O poema ama

É vida

É viver

Em nada

Com nada

A morte

A morte ensanguentada

E sem morada

Nem chegada…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 23 de Maio de 2015

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Vento invisível no teu olhar


Começo a ficar cansado destes corredores, do metro de superfície e das árvores, enquanto fumo, nem consigo ouvir os pássaros; ou já não existem pássaros, ou não querem falar comigo.

 

Sinto-me entalado entre o meu corpo de sombra e o silêncio,

Caminho na estrada da solidão

Na ânsia de encontrar a noite,

E pergunto-me…

Porque não é sempre noite?

Não regressam a mim

Nem os pássaros,

As árvores,

E apenas vivo com o medo poisado nos ombros,

Fingir,

Sorrir a cada sorriso,

Sem vontade de o fazer,

 

Sem vontade de sorrir

E viver,

Nas árvores,

Nos penhascos pintados de Primavera,

Quando é sempre tempestade,

Esta cidade,

Esta terra sem memória,

Cintilações nos meus braços

Das lágrimas envenenadas,

Conversar…

Chorar…

Ai os pássaros,

 

Ai as árvores,

Em sentido proibido,

Sem saída,

A minha rua,

A minha casa,

A minha estadia… por aqui, e ali…

 

Esqueci a minha morada,

Perdi todas as minhas palavras

No mar,

No rio

De sangue,

E sem vontade de falar,

E sem vontade de brincar

Nas árvores,

E com os pássaros,

Nos pássaros,

Abros a janela do meu peito…

E adormeço embrulhado no vento invisível.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 22 de Maio de 2015

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Quadriculado destino


Tumultuosos riscos de luz

Sobre a pedra adormecida do luar

Não há vento

Nem há mar,

 

Que alimente

Esta gente

Sem tecto

Sem… sem maré para abraçar,

 

E este triste barco

Fundeado no teu corpo de espuma,

Não há vento

Nem há mar,

E da bruma,

Apenas uma sombra entre palavras e cidades obscuras,

Deambulo nas desertas ruas

Que os teus lábios escondem,

 

Esta gente

Sem tecto

Sem… sem maré para abraçar,

 

E no entanto,

 

Ninguém o consegue parar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 21 de Maio de 2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Acorrentado


Imagino-te embrulhado no sono,

Brincas nos sonhos da dor

Como se fosses uma gaivota em voo rasante,

Consciente

Que nunca mais regressarás,

Às minhas palavras,

Às ruas de Luanda,

E aos Musseques de sorriso zincado,

Imagino-te deitado

Acreditando que ainda és capaz de voar,

Mas…

Meu querido,

 

As tuas asas estão tão frágeis como um telhado de vidro,

E os teus braços tão pesados como um rochedo em decomposição,

Putrefacto,

Húmido como o cacimbo da tua imagem,

Perdida numa qualquer paragem,

Sentes o ruído do machimbombo,

Tens medo dele

Como eu tinha medo do mar,

E hoje

E hoje estou acorrentado à paixão,

Do mar,

E da tua mão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 20 de Maio de 2015

terça-feira, 19 de maio de 2015

Os teus braços


Os teus braços aqui ao lado,

Parecem serpentes esfomeadas

Esperando as palavras da noite,

Ambos sabemos que as palavras não regressarão nunca,

Como nós,

Impossível regressarmos de onde partimos,

Complicada

Esta vida de marinheiro sem embarcação,

Complicada

Esta vida de transeunte sem cidade,

Ou livro, ou cais…

Para aportarmos,

 

Falta-nos tudo

E tudo temos,

 

As crateras e os peixes,

O silêncio e a madrugada,

Embriagados destinos

Com sabor a nada,

 

E os teus braços

Mesmo aqui ao lado,

Serenos,

Deitados…

Ouvindo os apitos dos comboios encurvados no Douro,

O rio

Sofre,

O rio

Sente

Os teus braços…

Nos meus braços

Afogados.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 19 de Maio de 2015

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Sombras de uma qualquer cidade


Coloridas pétalas de sono

Sobre o teu corpo embebido na gelatinosa alegria do amanhecer,

A sinfonia da madrugada

Em desespero,

Sem saber

Que a noite não acordará mais,

 

O mar

Envolto nos cabelos das andorinhas,

Os barcos cansados,

No teu peito,

E o tempo alimenta o teu sorrir,

E ouvem-se em ti

As lágrimas de partir…

Nas palavras de fugir,

 

Coloridas pétalas de sono

Procurando abraços

E telhados de vidro fumado,

O dia prisioneiro ao triste calendário,

E o teu corpo

Pincelado pelo orvalho,

 

E o teu corpo… também ele uma pétala colorida,

Sem vida,

Sem vaidade,

Como eu,

Como ele,

Sombras de uma qualquer cidade,

Umas vezes olhando o céu,

Outras… outras brincando na claridade.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 18 de Maio de 2015

domingo, 17 de maio de 2015

O fim

Tudo está perdido, o túnel da escuridão é absorvido pelo sofrimento dos ossos em pó, há uma janela no teu olhar, um solstício fictício das madrugadas dos outros,
- Os homens entre quanto paredes de nada, cinco fios de tristeza, e
Tudo,
Tudo parece desabar sobre a minha sombra, sou aniquilado pelos beijos da madrugada, não sofro, não sei sofrer ou chorar,
Tudo,
- Os homens escondidos dentro do cubo da incerteza, a luz, e a beleza, os homens acorrentados aos sonhos,
- Tudo?
Não o sei, tudo está perdido, os panfletos do sofrimento, ardem nos teus alegres momentos na Baía de Luanda, ontem eramos felizes, e hoje
Os homens, mergulhados nas arcadas da morte, vestidos de pigmeus assalariados, o trabalho, o sonho
Tudo?
Perdeu-se,
Hoje,
Como se perdem todas as gaivotas do Tejo, entre petroleiros e amores clandestinos, ela ama-o…
Ele…
Ama-a em segredo,
As viagens, o medo, o medo de perder, e de ser perdido,
Ele…
Chora, suspende-se nos lábios sem sorriso, sem cor, mortos e abstractos, sem perceberem que dentro de um livro habita a prostituta da desilusão, a tristeza,
- Tudo e todos?
Os homens, os meus e os teus, quadriculados beijos entre equações de amor…
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 17 de Maio de 2015


Entre o silêncio e a dor…


Finjo que não pertenço à tua vida,

Esqueço,

E não o mereço,

Enquanto dormes saboreando as cinzas invisíveis da dor,

Esqueço,

E apareço,

Nas escadas ingrimes do sofrimento,

Não alimento a dor com o nascer da madrugada,

Que amanhã…

Que amanhã não sei se vai acordar,

Finjo,

Esqueço,

 

Estas tristes sílabas doentes

Fundeadas nos braços de um rio,

Sem nome,

Porque os meus rios não têm nome,

Não têm idade,

Sexo,

Ou…

Ou… ou religião,

A cor da pele não me interessa,

Esqueço

E não mereço,

Os teus lábios ressequidos pelo abismo dos rochedos de cartão,

 

E amanhã,

Se a madrugada acordar em ti,

Esqueço,

E desapareço,

Das noites infinitas do teu triste olhar…

Que só o mar consegue perceber,

 

E

 

E desenhar.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 17 de Maio de 2015

Os pássaros da minha infância


Vejo-te partir,

Sem o sentir,

Vejo-te partir…

E faltam-me as palavras para te acompanhar,

Para te fazerem sorrir,

E voares como os pássaros da minha infância,

Vejo-te partir,

Na ausência,

De nunca,

De nunca regressares,

Ao meu livro,

Ao meu poema,

 

Vejo-te partir da minha poesia…

Como uma fera,

Ou uma pena,

 

Enquanto desce a noite sobre os teus ombros de pó.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 17 de Maio de 2015