quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Poemas ao vento

 

Pego na tua mão,

Pequena,

Meu doce de mel,

 

Escrevo no teu olhar,

Poemas ao vento,

E desenho nos teus lábios de luar

As palavras do meu pensamento,

 

Escrevo cartas ao mar,

Lanço beijos aos barcos de papel,

Escrevo cartas de amar,

Amar um pedacinho de mel,

 

Pego na tua mão,

Pequena…

Pequena do meu coração,

 

Coração que me envenena.

 

 

Alijó, 30/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Mar salgado

 

A paixão cresce

Na planície de cardos

Enamorados;

E desta cidade de árvores e telhados

Oiço a tua voz nocturna que me aquece.

 

É a voz que oiço ao deitar

No diário que escrevo,

E sei que não devo,

Erguer-me manhã cedo…

Apenas para desenhar os teus olhos de mar.

 

Mas faço-o com todo o prazer,

Olhar os teus olhos de mar salgado

Que este meu veleiro desgovernado,

Só e cansado,

Galga a maré; e tudo faz para te ver.

 

 

 

Alijó, 30/11/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Veludo mar

 Oiço o silêncio do fogo

Que cobre o teu corpo em veludo mar

Oiço-o e toco-lhe

E percebo que te contorces sobre a hipotenusa da paixão

E do triângulo rectângulo do desejo,

 

Todas as estrelas e todos os planetas poisam na minha mão.

A capsula do prazer

Em pequenas órbitas ao teu sorriso

Espera a minha voz para o acoplado beijo

Aquele que dará vida aos teus sonhos.

 

E este fogo que cai em ti

Traz a insónia

E a paixão;

E todos os peixes

E todos os barcos, são os poemas que te escrevo.

 

 

 

 

 

Alijó, 29/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Francisco Luís Fontinha – Quadros Mercado Bar

 


A paixão – segundo o poeta enforcado

 O tejo

 

Se Deus estivesse no meio de nós, nunca tínhamos feito amor naquele silêncio que abraçava a noite, junto ao Tejo.

Enquanto trocávamos carícias na ardósia da insónia, sentia as tuas mãos em pequenas brincadeiras no meu peito, mordias-me a orelha esquerda, como se eu fosse um pequeno poema em construção sobre a maré que cobria os nossos sexos; e a paixão incendiou-nos, que do teu corpo em gotículas de prazer, eu, eu ouvia o mar.

 

O circo

 

Tínhamos quinze anos e querias que eu fugisse contigo e transformar-me em trapezista. Como seria feliz hoje se fosse trapezista, em vez disso, preferi ser poeta; o enforcado.

 

Os barcos

 

Imagino-os deitados sobre mim na cama dos sonhos, pegam na minha mão e levam-me em grandes caminhadas pela cidade, junto ao mar.

Hoje, sou o comandante de todos estes barcos em cartão, todos estes barcos que habitam dentro do meu peito, e às vezes, durante a noite, oiço os apitos de todos os luares de Luanda.

Como é bom, ter a vossa mão, meus queridos!

 

 

 

 

Alijó, 29/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Madrugada


 

Em cada pedacinho de mel,

Há uma abelha que sofre,

Uma abelha que chora…

Que ama,

 

Em cada pedacinho de mel,

Há uma abelha que sonha,

E transporta na mão

Um triste poema.

 

Em cada pedacinho de mel,

 

Uma palavra; madrugada.

 

 

 

Alijó, 29/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Olhos de amar

 

Desenho-te neste triangular silêncio

Que a luz escreve no meu corpo

Oiço-te em gemidos

Declamares os meus poemas

E descanso no teu sorriso.

 

Desenho-te sem saber desenhar

E escrevo na tua mão

Sem saber escrever

Mas invento o vento

No teu saber.

 

Morro.

Cruzo os braços dentro desta urna invisível

E das minhas lágrimas

Em partida

Vêm a mim as estrelas adormecidas.

 

E parte de mim

O rio onde me afogo;

Tenho medo

Que a noite não regresse mais

Aos meus lábios insaciados na tempestade.

 

Desenho-te neste quadro sem nome

Em fúria que desce a montanha

Onde poiso as cores do Outono

E uma ardósia de sono

Prende-me aos teus olhos de amar.

 

 

 

Alijó, 29/11/2022

Francisco Luís Fontinha