Sento-me nesta cadeira
E oiço o som desta fina
lâmina de aço
Que trago no coração.
A insónia atravessa o
quarto
Enquanto as palavras se
afogam na minha mão,
Ouvíamos dos rochedos
desta praia
Os tristes fios de nylon
do suicídio,
E percebemos que esta
fogueira onde habitamos,
Um dia, dormirá nos teus
olhos.
Esta cidade entre quatro
paredes
Esconde-se no frio limbo
da solidão…
Até que um pedaço de
silêncio morrerá em ti.
A tua mão semeia em mim
As sílabas flores das
abelhas,
O corpo recebe da alvorada,
Os cortinados que taparam
o teu rosto
Poisam nesta janela de
tristeza.
No rosto
Transporto o desejo
granítico que me levará
Para aquele barco
fundeado nos teus seios,
E se eu quisesse
pertencer à tua sombra,
Como pertencem as árvores
que desenho nesta paisagem…
Eu seria apenas um
pedacinho de cinza; enquanto o meu cigarro morre.
Todos os meus retractos
morreram.
E neste barco fundeado,
Onde desenho o teu rosto
de menina,
Um suspiro se ergue em
mim,
Estendo as mãos…
E dos teus lábios recebo
a noite à beira deste mar incendiado.
Alijó, 26/11/2022
Francisco Luís Fontinha