sábado, 26 de novembro de 2022

Sílabas flores

 Sento-me nesta cadeira

E oiço o som desta fina lâmina de aço

Que trago no coração.

A insónia atravessa o quarto

Enquanto as palavras se afogam na minha mão,

Ouvíamos dos rochedos desta praia

Os tristes fios de nylon do suicídio,

E percebemos que esta fogueira onde habitamos,

Um dia, dormirá nos teus olhos.

Esta cidade entre quatro paredes

Esconde-se no frio limbo da solidão…

Até que um pedaço de silêncio morrerá em ti.

 

A tua mão semeia em mim

As sílabas flores das abelhas,

O corpo recebe da alvorada,

Os cortinados que taparam o teu rosto

Poisam nesta janela de tristeza.

 

No rosto

Transporto o desejo granítico que me levará

Para aquele barco fundeado nos teus seios,

 

E se eu quisesse pertencer à tua sombra,

Como pertencem as árvores que desenho nesta paisagem…

Eu seria apenas um pedacinho de cinza; enquanto o meu cigarro morre.

 

Todos os meus retractos morreram.

 

E neste barco fundeado,

Onde desenho o teu rosto de menina,

Um suspiro se ergue em mim,

Estendo as mãos…

E dos teus lábios recebo a noite à beira deste mar incendiado.

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Sem comentários:

Enviar um comentário