Quando anoitecem em ti as lágrimas flores do Inverno
E um vulcão de espuma
brinca no rio da saudade
Uma ponte de sono em fuga
Procura nos olhos da
insónia
As janelas para a
madrugada
E percebe que este jardim
Infestado de barcos e de
tristes palavras
É o porto de abrigo dos
teus braços
Quando acorda a manhã
Na boca do inferno
Subo sonambulamente estes
velhos degraus
Como se o meu corpo fosse
uma pedra
Perigosamente e preguiçosamente
livre
Destas tempestades que
trazem os cadáveres poema
E o meu cadáver veste-se
de poema
E o meu cadáver é também
filho do poema
Depois
Um raio de sol poisa nos
teus doces lábios
Em flor adormecida
Sem paciência para
escreveres na minha mão
Os segredos da paixão
A paixão aprisiona-se na
raiz profunda desta árvore
E esta árvore cresce
Cresce
E nunca vai morrer como
morrem os pássaros
Alijó, 07/11/2022
Francisco Luís Fontinha