segunda-feira, 7 de novembro de 2022

As lágrimas flores do Inverno

 Quando anoitecem em ti as lágrimas flores do Inverno

E um vulcão de espuma brinca no rio da saudade

Uma ponte de sono em fuga

Procura nos olhos da insónia

As janelas para a madrugada

 

E percebe que este jardim

Infestado de barcos e de tristes palavras

É o porto de abrigo dos teus braços

Quando acorda a manhã

Na boca do inferno

 

Subo sonambulamente estes velhos degraus

Como se o meu corpo fosse uma pedra

Perigosamente e preguiçosamente livre

Destas tempestades que trazem os cadáveres poema

E o meu cadáver veste-se de poema

 

E o meu cadáver é também filho do poema

Depois

Um raio de sol poisa nos teus doces lábios

Em flor adormecida

Sem paciência para escreveres na minha mão

 

Os segredos da paixão

A paixão aprisiona-se na raiz profunda desta árvore

E esta árvore cresce

Cresce

E nunca vai morrer como morrem os pássaros

 

 

 

 

Alijó, 07/11/2022

Francisco Luís Fontinha

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