Não
sabíamos que a tempestade regressava da tua mão. Não sabíamos que em cada
sorriso, o teu, habitava uma pequena nuvem de desejo. Não sabíamos que as
pedras semeadas na superfície do teu corpo, as palavras entre parenteses,
depois de lidas, voavam em direcção às cansadas mãos do criador e, mesmo assim,
depois da chuva, levantavam-se do chão, em lágrimas, os silêncios nocturnos das
sanzalas adormecidas.
Tínhamos nas palavras
escritas, dentro de um pequeno cubo em vidro, as flores amarguradas das
distantes marés do paraíso.
Desenhava o teu corpo
sempre que a chuva descia montanha abaixo, depois, limitava-me a escrever no
chão húmido da alvorada a palavra amo-te,
Sabendo que em cada muro
da cidade,
Um grito em revolta.
Uma enxada vergada pelo
cansaço, uma flor em flecha contra o poema que nascia nas amoras em flor, ambas
envergonhadas, ambas desgovernadas pelo silêncio da tarde, desciam as escadas
da solidão, depois de partir a noite, acreditando que os poemas nasciam durante
as tempestades nocturnas sem luar.
E não sabíamos que a
tempestade regressava da tua mão. Não sabíamos que em cada sorriso, o teu,
habitava uma pequena nuvem de desejo que pé-ante-pé dançava nas escadarias que
apenas a solidão conservava para mais tarde fotografar; e tínhamos nas pedras,
nos anzóis da solidão, do pequeno parágrafo desalinhado, todas as tristes
madrugadas entre o desejo que abraçava o teu corpo e o beijo; ai o beijo,
menina!
Descias as madrugadas em
flor,
Descias as distantes
cinzentas manhãs de inferno,
Descias da boca, quando o
beijo mergulhava
Na solidão nocturna da
dor;
Descias às noites de
Inverno
Que no beijo dançava.
Ai o beijo, menina!
E tínhamos na algibeira o
silêncio entre gemidos e lágrimas, e tínhamos nos poemas a boca entre o beijo e
a alvorada, e tínhamos na mão, ou tínhamos no silêncio, as tempestades do infinito.
E tínhamos o beijo
embrulhado nas nossas bocas, quando envergonhadas, levitavam como um carrossel
em direcção ao olhar de uma criança.
Alijó, 5/07/2022
Francisco Luís Fontinha