Uma lágrima de fogo desce
dos teus olhos envenenados pelo silêncio invisível da maré, junto ao rio da
saudade, as tuas mãos semeiam as planícies distantes do infinito, até que um
pedacinho de sorriso, quase a desfalecer, brota do teu amargo desejo em partir;
não sabíamos que os barcos da nossa infância se tinham suicidado debaixo da
ponte.
Ao longe, separados pela
equação do adeus, a lágrima de fogo ainda consegue respirar, está viva, ama,
chora e,
Depois,
Desce dos teus olhos
envenenados pelo silêncio invisível da maré.
Na algibeira, os barcos
transportavam flores em papel e outras coisas mais. Do outro lado da ponte, uma
fotografia corria em direcção ao mar, como os cabelos quando a timidez aparece durante
a noite e, sem percebermos, as velhas papoilas do nosso jardim respiravam como
que se estivessem a solicitar o eterno descanso; até agora, nada.
Nada vezes nada. O zero
alimento que separa a razão do sono.
Sonhávamos com as nuvens
de Inverno. Sabíamos que sobre as árvores do quintal o homem da bicicleta
brincava com todos os sorrisos da aldeia, sabíamos e não o desejávamos, porque
no peito, o homem da bicicleta transportava os olhos da madrugada, porque não
tínhamos o silêncio permanentemente, como os pássaros o têm durante a noite.
Até agora, a lágrima de
fogo, dirige-se para os tímidos cabelos que aos poucos voaram como voam os
Sábados à noite, depois de emergir no poço da vaidade. Até agora, a lágrima de
fogo brinca no teu sorriso e, ainda permanece na tua inocência, como permanece
na tua inocência a tempestade dos algoritmos nocturnos do poema.
As flores, morreram.
As pétalas que
sobreviveram, hoje, vagueiam como zumbis nas ruas da cidade.
Uma lágrima de fogo desce
dos teus olhos envenenados pelo silêncio invisível da maré, junto ao rio da
saudade, as tuas mãos semeiam as planícies distantes do infinito, até que um
pedacinho de sorriso, quase a desfalecer, se abraça a mim e,
Despediste-te de mim como
se despendem as andorinhas após a fuga da Primavera.
Alijó, 2/07/2022
Francisco Luís Fontinha
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