quinta-feira, 19 de maio de 2016

Lençol nocturno do medo


Não tenho pressa de caminhar,

Sento-me ao teu lado,

Pinto nos teus lábios o mar,

Escrevo no teu corpo o poema envenenado…

Acabei de desligar a luz da paixão,

Com a crise não há dinheiro para nada…

Precisava de novos cortinados,

Um par de calças ou uma camisa,

Talvez um novo coração,

Porque este, meu amor, já pertence à madrugada,

Onde habitam os braços apaixonados,

E silenciam a benigna brisa,

Nunca disse a ninguém que os teus abraços morreram junto ao rio das gaivotas,

Quando pintávamos barcos ao pôr-do-sol… e descia a noite vagabunda,

Marés de cio invadiam o teu olhar,

E eu forçosamente escondia-me num qualquer Cacilheiro…

Pétalas mortas,

O amor desfeito em lágrimas de amar,

Porque não tenho pressa, meu amor,

Não tenho pressa de caminhar…

Nem flor para de presentear,

Sento-me ao teu lado,

Pinto nos teus lábios o mar,

Que hoje é o meu lençol nocturno do medo…

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 19 de Maio de 2016

quarta-feira, 18 de maio de 2016

A melancolia da saudade


O cansaço absorve-me entre parêntesis de silêncio

E vírgulas de tristeza,

Por mais que eu queira…

Não consigo colocar o ponto final na escuridão nocturna,

Olho-te e vejo-te disfarçada de ponto de exclamação…

Ponto e vírgula quando acorda o dia,

E lá longe, muito longe daqui… oiço os apitos do ponto de interrogação,

Confundo-me com as palavras,

Disfarço e dou por terminado o texto…

Ponto final,

Paragrafo,

E o dia enrola-se na melancolia da saudade.

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 18 de Maio de 2016

terça-feira, 17 de maio de 2016

Paisagens do sono


A paisagem despede-se de mim.

Sinto as estrelas poisarem em cada gotícula de suor do teu corpo,

Deito sobre ele a minha desnorteada cabeça,

E regressa o sono do Oriente…

Sonho com pássaros,

Sonho com barcos,

Ínfimas imagens travestidas de loucura absorvem-me,

E sou forçado a fugir para outras paragens sem escuridão.

 

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 17 de Maio de 2016

domingo, 15 de maio de 2016

Lábios sonâmbulos


Hei-de construir um barco que voe…

Sobre os sobreiros da minha alma,

Hei-de desenhar um pássaro que navegue…

Nas ténues águas do meu corpo,

Como eu adoro habitar no silêncio…!

Arrancar todas as amarras da tarde

Que um louco relógio de pulso alicerçou ao meu peito,

A espuma do teu olhar enfeitado de amêndoas e flores,

O remorso da paixão absorvida pela solidão

Dos quintais de areia…

Hei-de construir um coração

Com as lâminas dos teus beijos,

Abraçar-te na escuridão depois de partir a noite,

E dizer-te baixinho… e dizer-te baixinho que amanhã há sonhos,

Palavras,

Livros com sabor a medo,

E na confusão do dia…

Hei-de construir um barco…

Um barco com lábios sonâmbulos.

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 15 de Maio de 2016

sábado, 14 de maio de 2016

A sombra da saudade


Sei que nas tuas mãos existe a paisagem do amanhecer,

As plantas e as árvores do meu jardim brincam no teu olhar

Como se o teu olhar fosse um parque infantil,

Um momento de lazer…

Tenho dúvidas se a Primavera já acordou,

Sinto uma enorme tristeza no meu peito,

Um sufoco, o medo de me perder nos teus braços.

Lá fora o ruído do costume,

O vizinho conversando com os cães,

Os cães latindo em minha direcção,

E eu incapaz de os silenciar…

Nada deve ser silenciado,

Nem os meus sonhos,

Nem a noite que me ilumina

E transporta para a cidade do rio imaginário…

O dia despede-se de mim,

Aos poucos, eu, eu despeço-me de ti,

Até que nunca mais haja dia, noite, ou tu…

Ou tu te disfarces de poeira…

E poises nos meus ombros sombreados de saudade.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 14 de Maio de 2016

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Os dias travestidos de saudade


Os meus dias desiguais,

Penosas manhãs de incenso

Suspensas na umbreira do silêncio,

A ânsia de estar só,

Quando um intruso aparece dentro de mim

E me transporta para o desejo,

Fico triste,

Levito na insignificante toalha de vidro que poisa sobre a noite,

Os meus dias travestidos de saudade,

O vício infestado de insectos

Que deambulam nos meus ossos,

A idade surpreende-me,

Ausenta-se do meu corpo,

Alimento as roldanas do cansaço

Com as palavras que não escrevo,

Porque tenho medo das palavras,

Porque tenho medo de escrever…

Sentir em meu redor os barcos da infância

Em pequenos passeios no lago,

Sentir na minha mão a ferrugem do sonho

Que habita o meu corpo,

Sentir na minha mão os fragmentos do sono

Que habitam o meu olhar,

Dizer que te amo é pura falsidade,

Não amo,

Não quero ser amado…

Apenas quero dormir descansado.

 

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 13 de Maio de 2016

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Retalhos


A vida é construída de pequenos retalhos,

Corpos em geada

E orvalhos,

Farrapos entre velharias

E trapos,

A vida pertence ao luar,

Quando de um suspiro

Grita em mim o mar,

E num sorriso

Tu sentias

O sabor do madrugar,

Que a vida, construída de pequenos retalhos… consegue abraçar,

 

Cansado, não respiro,

E insisto na vida sem despertar,

 

Os livros,

As palavras esmagadas no silêncio da alvorada,

O corpo cessa de respirar,

Levita

Madruga

E inventa barcos de brincar,

 

A vida é construída de pequenos retalhos,

Corpos em geada

E orvalhos,

Gente simples dormindo na calçada,

Meninos de sombra que desenham na mão o sol,

Aldeias sós, homens confundidos com aldeias sós…

A vida atrapalha,

Esmaga a penumbra madrugada,

E a canalha

Toca com os lábios

O rio entre rochedos

E brinquedos,

 

Cansado, não respiro,

E insisto na vida sem despertar…

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 11 de Maio de 2016