sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Barcos de sombra


Este triste rio

Que desabraça as suas margens

Que troca o silêncio da noite

Por gaivotas em papel

E barcos de sombra

Agacha-se quando a solidão brinca no vento

Sorri quando a melancolia voa sobre os coqueiros

Este triste rio

Que habita no meu peito

Não dorme

Não come…

Mas ama

E sofre

Como eu

Uma caravela sem destino

No estrelar do desejo.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 20 de Novembro de 2015

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Estar só nos teus beijos


Tenho medo dos tentáculos teus beijos

Quando demora a regressar o entardecer

Quando cai a chuva sobre o teu corpo

Tenho medo do teu silêncio nas palavras de esquecer

Quando a madrugada existe apenas para nos atormentar

Enrolas-te em mim

Finges que lês as minhas mãos

E voas em direcção ao mar

Fico só

Nesta escuridão de amar

Fico só

Neste esconderijo sonolento

Abraçado às abelhas do amanhecer

Fico só

E tenho medo

Dos tentáculos teus beijos

Que só a morte consegue perceber…

E o desejo desenhar no pavimento térreo da solidão

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 19 de Novembro de 2015

Poemas para Ninguém - Francisco Luís Fontinha

 




quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O choro da laranja

Meu amor, hoje pertenço-te, absorves-me, alimentas-te das minhas palavras esquecidas num qualquer engate, é tarde, meu amor, a noite rebenta no meu peito, sinto o peso das estrelas nas minhas pálpebras inacabadas, o pintor adormeceu sobre o seu próprio corpo, é inerte, invisível na paleta das cores diluídas na alma, a morte, meu querido, o fantasma clandestino do abismo descendo a Calçada, e ao fundo
- O rio reflectido nos teus lábios, meu amor, a vaidade da folha de papel esquecida sobre a pobre secretária de pinho, o caruncho, a ferrugem das ardósias iluminando a noite,
E ao fundo, os barcos adolescentes brincando na sonolência da inocência,
- Tenho medo, meu amor, alicerças-te ao meu cansaço, o Francisco partiu hoje para o desconhecido, sabes, meu amor, gostava dele, amava-o… e amo-o, e tenho medo, meu amor, dos pássaros que voam, das flores que choram, das abelhas que incendeiam a manhã dos silêncios de Oiro, sabes, meu amor, tenho medo
- De ti, de mim, de estar vivo inventando a vida em quadriculados poemas, mais nada, meu amor, mais nada, apenas o medo, a alegria de amar-te, sem saber que o amor habita neste caixão de enxofre,
Oxalá
- As portas, os tristes alicates da escuridão vestidos de mendicidade, a tua boca na minha, o beijo, a orgia matinal da poesia, gemes
Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii,
E nada quer de mim o que tu desejas…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
quarta-feira, 18 de Novembro de 2015


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Indefesa árvore que me protege


Tudo ou nada

Nada de tudo

Tudo de mim

Desde a árvore indefesa que me protege

E habita o meu jardim

Até ao rochedo invisível que caminha comigo

Quando cresce a noite

E adormece o dia nos teus olhos

Tudo ou nada

E nada tenho

De mim

Nada de tudo

Assim, como as flores que choram junto à minha lápide

E nunca perceberam o significado da palavra “chorar”

Tudo

Avassalador

Triste

Tudo consumido na fogueira da paixão

De nada ter

E de tudo perder

Tudo ou nada

Nada de tudo

Assim

De mim

Sem o saber.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 17 de Novembro de 2015

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

os cabelos da alvorada


esconde-se o corpo no tapete nocturno da solidão

as cânforas manhãs do desassossego libertam-se das amarras

a liberdade acorda

todas as flores são livres

e todos os pássaros voam sobre os cabelos da alvorada

o olhar da serpente brinca num longínquo quintal abandonado

onde uma criança

também ela livre…

sonha com barcos em papel e estrelas coloridas

o corpo nunca teve medo

a não ser da solidão

que é a única prisão que amedronta o homem sem corpo…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 16 de Novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

luminosidade abstracta da noite


a tempestade de silêncios que adormece no meu peito

enquanto tu, meu amor, gritas o meu nome entre os rochedos do inferno

a sombra dos teus lábios

o cansaço das tuas mãos

me adormecem

e me fazem fugir para a montanha imaginária

a fuga

a tempestade de silêncios que há em ti

e só agora percebi

a luminosidade do teu olhar

quando não cresce a noite

na minha solidão

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 15 de Novembro de 2015