Meu
amor, hoje pertenço-te, absorves-me, alimentas-te das minhas palavras
esquecidas num qualquer engate, é tarde, meu amor, a noite rebenta no meu
peito, sinto o peso das estrelas nas minhas pálpebras inacabadas, o pintor
adormeceu sobre o seu próprio corpo, é inerte, invisível na paleta das cores
diluídas na alma, a morte, meu querido, o fantasma clandestino do abismo
descendo a Calçada, e ao fundo
-
O rio reflectido nos teus lábios, meu amor, a vaidade da folha de papel
esquecida sobre a pobre secretária de pinho, o caruncho, a ferrugem das
ardósias iluminando a noite,
E
ao fundo, os barcos adolescentes brincando na sonolência da inocência,
-
Tenho medo, meu amor, alicerças-te ao meu cansaço, o Francisco partiu hoje para
o desconhecido, sabes, meu amor, gostava dele, amava-o… e amo-o, e tenho medo,
meu amor, dos pássaros que voam, das flores que choram, das abelhas que
incendeiam a manhã dos silêncios de Oiro, sabes, meu amor, tenho medo
-
De ti, de mim, de estar vivo inventando a vida em quadriculados poemas, mais
nada, meu amor, mais nada, apenas o medo, a alegria de amar-te, sem saber que o
amor habita neste caixão de enxofre,
Oxalá
-
As portas, os tristes alicates da escuridão vestidos de mendicidade, a tua boca
na minha, o beijo, a orgia matinal da poesia, gemes
Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii,
E
nada quer de mim o que tu desejas…
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
quarta-feira,
18 de Novembro de 2015
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