domingo, 4 de janeiro de 2015

desenho garrido

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


vivo neste esconderijo
um cubo de vidro
no... lixo
não
não quero que me toques
me olhes...
não...........................
não quero existir
voar
ler
não
vivo neste cubo de vidro

adoro este esconderijo recheado de palavras
e
e de mendigos

o relógio não anda
a janela não se abre
nem fala comigo
há numa das paredes deste cubo de vidro...
tristeza
e... e o frio

um velho amigo
que me acompanha desde a infância
um desenho garrido
um espelho
neste cubo de vidro
não vivo
que vivo
sem perceber que o meu corpo é um esconderijo

de vidro.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 4 de Janeiro de 2015


03_01_2015


Sou um cadáver sem solução,
sinto-o quando pronuncio o teu nome,
sinto-o em vão,
sou um aldrabão diplomado,
e finjo,
finjo.. que estou apaixonado
e nem sou amado,
e nem sou doutorado...


Francisco Luís Fontinha
Domingo, 4 de Dezembro de 2015

sábado, 3 de janeiro de 2015

estas mãos de ninguém


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


estas mãos se cruzam no Oceano tua pele
mergulhando nas tuas pálpebras de madrugada
estas mãos te amam
e acariciam
nas tardes envenenadas pelo desejo
estas mãos de ninguém
com todos os cheiros da sanzala
estas mãos de ninguém
com todos os sons do amanhecer
que só o perfume de uma rosa consegue desenhar
e... e escrever
nas sombras do mar
estas mãos se cruzam no Oceano tua pele
que o barco do meu amor suavemente desliza...
como todas as palavras soltas
como todos os vinhedos suspensos no sorriso de uma enxada
estas mãos te amam
e acariciam
estas mãos de ninguém
que o tempo come
e despoja as suas cinzas no cemitério nocturno das gaivotas sem nome...
estas mãos
estas mãos se cruzam
quando todas as luzes se apagam e todos os corpos morrem...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 3 de Janeiro de 2015

Jangada de Insónia


(Desenho de Francisco Luís Fontinha)


Oiço Oumara Moctar Bambino,
o sémen invisível do sono alicerça-se aos lençóis de porcelana,
habito um terceiro andar reumático,
romântico,
loucamente apaixonado,
brinco com os círculos do desejo,
tenho um sonho,
acordo e sinto-me um palhaço de vidro,
sem beijos,
sem... sem abrigo
Oiço Oumara Moctar Bambino,
e uma jangada de insónia poisa no meu ventre...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 3 de Janeiro de 2015

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

As sombras do poema...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)



Sílabas desencantadas com as minhas tristes palavras,
vírgulas... suicidadas
na árvore azul da parede de gesso,
do outro lado... o espelho do teu olhar,
... o meu rosto parece um verme faminto,
... o meu corpo sobrevoa as sombras do poema...
sem título,
sem dedicatória...
sou uma nódoa envelhecida,
que desce as profundezas do desejo,
sou um esqueleto sem estória...
um pedaço de papel em brasa,
sílabas,
desencantadas,
tristes palavras,
que o tempo alimenta e o luar desenha (no espelho do teu olhar)
as canções emagrecidas,
as cordas voláteis dos homens sem cidade para vomitar...
sem título,
sem dedicatória... nem arma para disparar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 2 de Dezembro de 2015

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

fugitivo


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


deixei de sentir a tua fotografia nos meus lábios
vi uma lágrima de vácuo galgando o teu rosto
em direcção ao mar
pertencíamos aos peixes sem asas
brincando sobre a árvore das palavras
havia uma tempestade de aço
sobre as tuas pálpebras amordaçadas
e não sabíamos que o amor era um fugitivo
um cadastrado destino
um homem suspenso na gravata dos cintilantes amanheceres
um cadastrado destino
acorrentado à tua fotografia
sem tu o saberes
perdemos os abraços
os beijos
e as caricias defeituosas da madrugada
perdemos o orgasmo literário de uma janela em Belém
sem tu o saberes
a noite construída de infinitos gemidos
e nem tempo tivemos para desamarrar o luar que nos cercava...
o fugitivo amor
um cadastrado destino
a noite construída de mimos
e armadilhas
e simples ruínas
como o vómito da cidade depois de acordar...
sem tu o saberes
o exilado casaco de couro balançando na ponte da angústia
o cheiro sulfuroso das avenidas em flor...
e da tua fotografia que vivia alicerçada aos meus lábios...
nada
desapareceu na neblina
talvez cansada
talvez... talvez
talvez ensanguentada nas mãos em ciúme.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015

Poemas vencidos

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

Os poemas vencidos
as palavras despedidas pelo patronato
quando a cidade ainda não acordou
os livros carcomidos pelos velhos planetas do teu olhar
o luar em constante destruição depois do adeus
os poemas vencidos
gritando na esplanada desventrada
a cidade é nossa... a cidade é... n o s s a...
e a cidade é apenas um espelho com asas de papel
e lábios de paixão
os poemas não vêem...
nem caminham junto à praia da insónia.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015