Os meus olhos são a
prisão invisível do silêncio cinzento,
há no meu triste
rosto uma pequenina lágrima de arsénio,
um composto,
submergido no
desgosto,
que a tempestade
transporta para o oceano de pedra,
os meus olhos são a
alegria do pedinte decapitado...
homem iletrado,
que sofre com os
solstícios envenenados,
uma parede se
escreve,
e uma parede se
desenha,
o papel angustiado
das minhas palavras torna-se numa pesadíssima forca de luz,
e dos meus olhos...
o silêncio cinzento,
e do meu corpo a
sibilada melancolia,
o relógio um
fantasma com braços de medo,
e eu, coitado, ao
lado do pedinte decapitado...
manhã cedo,
o sorriso da morte
que bate à porta de entrada do meu peito,
sem sorte, o pedinte
decapitado sorri, o pedinte decapitado... dança na eira granítica
da solidão,
os meus olhos sempre
foram uma prisão,
com grades em
pálpebras de azedume amanhecer,
nunca quis pertencer
à madrugada,
nunca... nunca quis
acordar e abrir a janela da saudade...
estes riscos e
rabiscos sem nexo,
estas palavras
decepcionadas, más, cansadas,
que a noite mistura
na paleta do inferno,
os meus olhos são a
prisão invisível da cidade adormecida,
uma cidade sem nome,
e... e esquecida,
uma borboleta que
canta e nas horas vagas é pianista,
o pintor apaixona-se
pela pianista,
e o pedinte
decapitado...
sentado no telhado a
construir barcos,
e não percebe que
não existe mar...
e que o mar apenas
vive nas telas do pintor...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Terça-feira, 16 de
Setembro de 2014