quarta-feira, 25 de setembro de 2013

tão poucos

foto de: A&M ART and Photos

somos tão poucos
quando entram em nós os alfinetes da tristeza
somos tão loucos...
e moucos
nas mãos da fada beleza

somos as palavras embriagadas
que dormem no planalto da estória
somos as pobres geadas
cansadas
nos esconderijos sem memória

somos tão poucos e de poucos morremos num veleiro apaixonado
somos o povo revoltado coração
pulsando como um feroz cansaço embalsamado...
gritando uivos de um vidro estilhaçado
na insónia de uma mão

somos tão poucos
quando dormem nos nossos lábios as gaivotas em cio
somos tão loucos
e loucos
de poucos e moucos nas queixas de um rio

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 25 de Setembro de 2013

terça-feira, 24 de setembro de 2013

os mabecos na insónia do amanhecer

foto de: A&M ART and Photos

ouvíamos os mabecos embrulhados na insónia do amanhecer
e tínhamos sobre o imaginário silêncio
as palavras pergaminho de sons invisíveis que as árvores desenhavam nos teus lábios de gaivota apaixonada
tombavam como enxadas derramando suor e lágrimas nos socalcos do desejo
descendo o teu corpo
e mergulhando no rio como pequenos delírios de luz

ouvíamos os cubos de gelo gorgolando na tua garganta de caverna madrugada
e ao longe
o vento trazia-nos a flor embalsamada com pequenos colarinhos em prata
e uma mão desalmada
entranhava-se nas tuas coxas de xisto
o muro da solidão tombava
a árvore tombou
e as tuas mãos de porcelana
partiram-se enquanto a noite sorria à janela do cinzento cobertor da dor
como um longínquo fôlego caminhando nos carris da tristeza
ouvíamos
e ao longe a andorinha desassossego morria em pedaços de saudade e melancolia

ouvíamos...
chovia
a cansada abelha dos triângulos de chocolate
e ouvíamos
e chorávamos
as palavras sem palavras dos cigarros adormecidos em palavras semeadas

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 24 de Setembro de 2013


Blogue Cachimbo de Água em destaque – Sapo Angola

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Porta de entrada – cessaram as fechaduras do teu coração de vidro

foto de: A&M ART and Photos

há tanto silêncio nos lábios de um rio
há dor insignificante nos braços de um drogado
há pétalas cansadas nos guindastes dos teus olhos
pérfidas madrugadas
poemas e velhas canções
há janelas de onde nada consegue sobreviver como as ratazanas de esgoto
escadas sem corrimão de acesso ao sótão da insónia
há poetas e aprendizes de poetas
e eu
eu nem uma porta de entrada consigo ser
nem uma simples fechadura consigo abrir
e este coração é louco entre palavras e sensações

memórias
histórias
canções perdidas nos teus seios de capim...
há tanto silêncio nos lábios de um rio
que sinto medo de morrer
partir
morrer e não saber como são os socalcos depois de a chuva cair
partir
sem o saber
livremente voando sobre ti em desenhos quadrados de um colorido beijo
há tanto silêncio
sobre o caixão invisível que embrulha a minha paixão de esferovite...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Setembro de 2013

domingo, 22 de setembro de 2013

Eras mármore gratinado nas doces tristes algas da solidão

foto de: A&M ART and Photos

Eras mármore gratinado nas doces tristes algas da solidão, havíamos de terminar a noite entre resmas de papel, cinzeiro recheado de beatas, neblina ensurdecedora que os cigarros vomitavam sobre a mesa decorada com objectos insignificantes, eras mármore sobre um piano coberto por um cobertor de areia, regressavam no final do dia...
Pombas, gaivotas e barcos enjoados devido à forte ondulação que as horas incompletas e mortas, pelas finas espumas que os marinheiros traziam no pulmão alcatroado por um empreiteiro de algibeiras encurraladas das tempestades que o medo, de vez em quando, deixava cair sobre o silêncio, os olhos, os olhos
Fingiam que nada viam, adormeciam como embriagados homens de cabelo comprido,
Cumprido o teu desejo sublime, desfazem-se as pétalas em sorrisos amargurados, oiço-os
Aos olhos?
Os olhos dormem,
Comprido como a fome, as andorinhas regressavam ao local do crime, e as janelas de cristal sempre lá, suspensas nas árvores com ventoinhas eléctricas, do tecto, a chuva do teu cheiro, a catinga mergulhava na sombra nocturna do cinzento púbis que embebia a madrugada em despedidas ao Verão, regressado de longe, vêem-se as superfícies lisas das coloridas faces com lábios de amanhecer, ao longe
Aos olhos?
Vêem-se-lhe as pernas arqueadas e poisadas sobre o parapeito virado para as traseiras onde brincava um robusto quintal, velho, barbudo, atulhado de lixo, lixo... e aqui e além
O cheiro a catinga,
Os caixotes de lixos até não aguentarem mais alimento, vomitavam-se e sujavam as laminadas passadeiras em pura lã virgem, o pastor reclamava o preço a que lhe pagavam a lã, as ovelhas gritavam
Gatunos, gatunos...
O preço da água é um roubo,
Gatunos, gatunos... e o coitado do chibo endiabrado, correndo de leira em leira... até encontrar um rio com peixes voadores, até encontrar a mulher mais bela do cinzeiro onde ardiam algumas das beatas... e o lacrimante púbis enjoado devido às difíceis encostas cobertas por placas de xisto, e mármore gratinado nas doces tristes algas da solidão, havíamos de terminar a noite entre resmas de papel, cinzeiro recheado de beatas, neblina ensurdecedora que os cigarros vomitavam sobre a mesa decorada com objectos insignificantes, eras mármore sobre um piano coberto por um cobertor de areia, regressavam no final do dia...
Gatunos, gatunos...
O preço da água é um roubo,
Aos olhos?
A catinga absorvia o ranger
Oiço-os... meu querido
O quê?
A catinga absorvia o ranger que ela ouvia dos cornos em migalhas, depois do desgraçado do chibo, tombar como uma borboleta sobre a lápide do amor, recordava-se ainda do fumo embrulhado em fina prata de alumínio, e fingiam que nada viam, adormeciam como embriagados homens de cabelo comprido,
Cumprido o teu desejo sublime, desfazem-se as pétalas em sorrisos amargurados, oiço-os
Aos olhos?
Os olhos dormem,
E choram as tuas lágrimas
Fingiam que nada viam, adormeciam como embriagados homens de cabelo comprido,
Cumprido o teu desejo sublime, desfazem-se as pétalas em sorrisos amargurados, oiço-os
Aos olhos?
Os olhos dormem,
Dormem... e dormem... e dormem... e ele gritava
“Povo desta aldeia... andastes quarenta e oito anos a dormir... e agora, agora comei do sono”
Aos olhos?
Os olhos dormem,
Dormem... e dormem... e dormem...
E onde está a lã das minhas ovelhas?
Ouvíamos-o chorando como uma criança empoleirada em calções e sandálias de couro, sentava-se no triciclo...
E dormem,
E onde está a lã das minhas ovelhas?
Dormem...

(Não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha - Alijó
Domingo, 22 de Setembro de 2013

sábado, 21 de setembro de 2013

crateras de vidro

foto de: A&M ART and Photos

penso em ti enquanto habitas o meu esponjoso peito
com crateras de vidro
penso em ti quando se abre em mim uma qualquer janela
que o meu pobre corpo alimenta
possui
habitas em mim sonho encaracolado nos castanhos cabelos do amanhecer...

apaixonado cansaço do silêncio mendigo às ruas plastificadas como capas de livros envelhecidos
perdidos entre palavras e ventos agrestes
velas
e veleiros...
penso em ti... peito
mergulhado no Oceano mar em tristes marés nocturnas

penso em ti enquanto bebo o meu esponjoso peito onde habitas clandestinamente...
vestes-te de sofrimento e disfarças-te de fotografia
imagem pobre e apodrecida
das tempestades aos beijos em chuva de Outono
caiem as folhas dos teus lábios
e alicerçam-se no meu peito esponjoso... e lá deitas a cabeça da solidão

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Setembro de 2013

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

As paixões húmidas dos jardins floridos em lágrimas de despedida

foto de: A&M ART and Photos

Imagino-te na prensa do meu coração deambulando nas palavras que desperdiço em silêncios de gelo como o líquido da alegria que brota nos teus lábios de cereja, imagino a tua mão inconstante traçando gráficos numa ardósia suspensa no peito da cidade encurralada pelo cheiro obsoleto da ferrugem em teus pedaços de papel que transportas as sílabas mendigas dos alicates de porcelana, imagino-te deitada sobre os estranhos sons da tua pele quando pequenas gotículas de alga vivem solitariamente como versos desperdiçados nas calçadas vagabundas que olham todos as noites, varandas embriagadas, e sexos embebidos nas lanternas do ciume,
Recordo a cidade com leme de cortiça e no canto superior esquerdo uma simples inscrição com uma qualquer navalha que serviu para cortar haxixe ou brincar com sorrisos obscuros de heroína numa estrada ténue de prata, o alumínio vomitava letras sem significado físico, e um dia, a navalha caneta de tinta permanente, embrulhou-se num panfleto de cocaína..., abraçou-se a ele
(Francisco + Solidão)
Abraçaram-se e nunca mais se largaram, amaram-se até que um dia, uma noite, regressou a chuva e toda a poeira morreu contra os barcos encalhados nos poços da mendicidade, depois... a saudade, depois... a vida como nódoas em cortinados plastificados pelas palavras condenatórias dos outros,
(Francisco +)
A árvore cessou as melodias do amanhecer, o que sobejou da cortiça apenas um pedaço de madrugada existe com três ou quatro fotografias de paisagens imaginárias, invisíveis, havia uma fogueira que se extingui
(Fran)
E mesmo assim, eu, imagino-te na prensa do meu coração deambulando nas palavras que desperdiço em silêncios de gelo como o líquido que submerge o teu corpo na prateleira dos livros lidos em meados dos anos oitenta, um travesti conversava comigo sobre a possibilidade e existir no futuro um túnel que nos transportasse para o infinito, éramos duras rectas paralelas que acreditávamos encontrarmos-nos no infinito...
(Fr)
Compramos o livro de AL Berto “O medo”, e ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, e corações
(F)
E ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, a cidade não era só o esqueleto do travesti que lia os poemas de AL Berto sentado numa cadeira de vime junto ao Padrão dos Descobrimentos, a cidade era uma mulher vestida de negro, dormia com todos os dias do calendário, levantava-se tardíssimo, e quando entrava em casa, o meu primeiro cigarro era o seu último cigarro, fumávamos a meias, vivíamos como pássaros dentro de uma gaiola em vidro, alguns deles chamavam-lhe de Aquário, eu, para mim servia perfeitamente Capricórnio, mas insistiam, insistiam que o Leão era o Rei da Cidade com leme de cortiça,
(Francisco + Solidão)
E dizias-me que o vento tinha desancorado as correntes de aço que serviam para nos aprisionarem às janelas com grades de madeira, eu sorria, tu... choravas, ele... apenas queria subir e descer as ruas com nomes começados por
(F)
(Fr)
Compramos o livro de AL Berto “O medo”, e ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, e corações
(F)
E de lixados com (F) grande... passamos a ser portas e janelas com visibilidade reduzida, pensávamos ver o mar, pensávamos escrever as paixões húmidas dos jardins floridos em lágrimas de despedida, e ele
(Fr)
Compramos o livro de AL Berto “O medo”, e ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, e corações
(F)
Trocou “O medo” por um caderno quadriculado onde antes de adormecer...
(Francisco + Solidão)
Escrevia
(Francisco + Solidão).

(Ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Sexta-feira, 20 de Setembro de 2013