foto de: A&M ART and Photos
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Imagino-te na prensa do meu coração deambulando
nas palavras que desperdiço em silêncios de gelo como o líquido da
alegria que brota nos teus lábios de cereja, imagino a tua mão
inconstante traçando gráficos numa ardósia suspensa no peito da
cidade encurralada pelo cheiro obsoleto da ferrugem em teus pedaços
de papel que transportas as sílabas mendigas dos alicates de
porcelana, imagino-te deitada sobre os estranhos sons da tua pele
quando pequenas gotículas de alga vivem solitariamente como versos
desperdiçados nas calçadas vagabundas que olham todos as noites,
varandas embriagadas, e sexos embebidos nas lanternas do ciume,
Recordo a cidade com leme de cortiça e no canto
superior esquerdo uma simples inscrição com uma qualquer navalha
que serviu para cortar haxixe ou brincar com sorrisos obscuros de
heroína numa estrada ténue de prata, o alumínio vomitava letras
sem significado físico, e um dia, a navalha caneta de tinta
permanente, embrulhou-se num panfleto de cocaína..., abraçou-se a
ele
(Francisco + Solidão)
Abraçaram-se e nunca mais se largaram, amaram-se
até que um dia, uma noite, regressou a chuva e toda a poeira morreu
contra os barcos encalhados nos poços da mendicidade, depois... a
saudade, depois... a vida como nódoas em cortinados plastificados
pelas palavras condenatórias dos outros,
(Francisco +)
A árvore cessou as melodias do amanhecer, o que
sobejou da cortiça apenas um pedaço de madrugada existe com três
ou quatro fotografias de paisagens imaginárias, invisíveis, havia
uma fogueira que se extingui
(Fran)
E mesmo assim, eu, imagino-te na prensa do meu
coração deambulando nas palavras que desperdiço em silêncios de
gelo como o líquido que submerge o teu corpo na prateleira dos
livros lidos em meados dos anos oitenta, um travesti conversava
comigo sobre a possibilidade e existir no futuro um túnel que nos
transportasse para o infinito, éramos duras rectas paralelas que
acreditávamos encontrarmos-nos no infinito...
(Fr)
Compramos o livro de AL Berto “O medo”, e
ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha
vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, e corações
(F)
E ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo,
a cidade tinha vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas,
a cidade não era só o esqueleto do travesti que lia os poemas de AL
Berto sentado numa cadeira de vime junto ao Padrão dos
Descobrimentos, a cidade era uma mulher vestida de negro, dormia com
todos os dias do calendário, levantava-se tardíssimo, e quando
entrava em casa, o meu primeiro cigarro era o seu último cigarro,
fumávamos a meias, vivíamos como pássaros dentro de uma gaiola em
vidro, alguns deles chamavam-lhe de Aquário, eu, para mim servia
perfeitamente Capricórnio, mas insistiam, insistiam que o Leão era
o Rei da Cidade com leme de cortiça,
(Francisco + Solidão)
E dizias-me que o vento tinha desancorado as
correntes de aço que serviam para nos aprisionarem às janelas com
grades de madeira, eu sorria, tu... choravas, ele... apenas queria
subir e descer as ruas com nomes começados por
(F)
(Fr)
Compramos o livro de AL Berto “O medo”, e
ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha
vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, e corações
(F)
E de lixados com (F) grande... passamos a ser portas
e janelas com visibilidade reduzida, pensávamos ver o mar,
pensávamos escrever as paixões húmidas dos jardins floridos em
lágrimas de despedida, e ele
(Fr)
Compramos o livro de AL Berto “O medo”, e
ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha
vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, e corações
(F)
Trocou “O medo” por um caderno quadriculado onde
antes de adormecer...
(Francisco + Solidão)
Escrevia
(Francisco + Solidão).
(Ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Sexta-feira, 20 de Setembro de 2013
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