sexta-feira, 20 de setembro de 2013

As paixões húmidas dos jardins floridos em lágrimas de despedida

foto de: A&M ART and Photos

Imagino-te na prensa do meu coração deambulando nas palavras que desperdiço em silêncios de gelo como o líquido da alegria que brota nos teus lábios de cereja, imagino a tua mão inconstante traçando gráficos numa ardósia suspensa no peito da cidade encurralada pelo cheiro obsoleto da ferrugem em teus pedaços de papel que transportas as sílabas mendigas dos alicates de porcelana, imagino-te deitada sobre os estranhos sons da tua pele quando pequenas gotículas de alga vivem solitariamente como versos desperdiçados nas calçadas vagabundas que olham todos as noites, varandas embriagadas, e sexos embebidos nas lanternas do ciume,
Recordo a cidade com leme de cortiça e no canto superior esquerdo uma simples inscrição com uma qualquer navalha que serviu para cortar haxixe ou brincar com sorrisos obscuros de heroína numa estrada ténue de prata, o alumínio vomitava letras sem significado físico, e um dia, a navalha caneta de tinta permanente, embrulhou-se num panfleto de cocaína..., abraçou-se a ele
(Francisco + Solidão)
Abraçaram-se e nunca mais se largaram, amaram-se até que um dia, uma noite, regressou a chuva e toda a poeira morreu contra os barcos encalhados nos poços da mendicidade, depois... a saudade, depois... a vida como nódoas em cortinados plastificados pelas palavras condenatórias dos outros,
(Francisco +)
A árvore cessou as melodias do amanhecer, o que sobejou da cortiça apenas um pedaço de madrugada existe com três ou quatro fotografias de paisagens imaginárias, invisíveis, havia uma fogueira que se extingui
(Fran)
E mesmo assim, eu, imagino-te na prensa do meu coração deambulando nas palavras que desperdiço em silêncios de gelo como o líquido que submerge o teu corpo na prateleira dos livros lidos em meados dos anos oitenta, um travesti conversava comigo sobre a possibilidade e existir no futuro um túnel que nos transportasse para o infinito, éramos duras rectas paralelas que acreditávamos encontrarmos-nos no infinito...
(Fr)
Compramos o livro de AL Berto “O medo”, e ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, e corações
(F)
E ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, a cidade não era só o esqueleto do travesti que lia os poemas de AL Berto sentado numa cadeira de vime junto ao Padrão dos Descobrimentos, a cidade era uma mulher vestida de negro, dormia com todos os dias do calendário, levantava-se tardíssimo, e quando entrava em casa, o meu primeiro cigarro era o seu último cigarro, fumávamos a meias, vivíamos como pássaros dentro de uma gaiola em vidro, alguns deles chamavam-lhe de Aquário, eu, para mim servia perfeitamente Capricórnio, mas insistiam, insistiam que o Leão era o Rei da Cidade com leme de cortiça,
(Francisco + Solidão)
E dizias-me que o vento tinha desancorado as correntes de aço que serviam para nos aprisionarem às janelas com grades de madeira, eu sorria, tu... choravas, ele... apenas queria subir e descer as ruas com nomes começados por
(F)
(Fr)
Compramos o livro de AL Berto “O medo”, e ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, e corações
(F)
E de lixados com (F) grande... passamos a ser portas e janelas com visibilidade reduzida, pensávamos ver o mar, pensávamos escrever as paixões húmidas dos jardins floridos em lágrimas de despedida, e ele
(Fr)
Compramos o livro de AL Berto “O medo”, e ficamos a perceber que Lisboa não era só o Tejo, a cidade tinha vida, vivia-se dentro de edifícios onde viviam ruas, e corações
(F)
Trocou “O medo” por um caderno quadriculado onde antes de adormecer...
(Francisco + Solidão)
Escrevia
(Francisco + Solidão).

(Ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Sexta-feira, 20 de Setembro de 2013

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