terça-feira, 6 de agosto de 2013

Não me importo dos sons melódicos de ti

foto de: A&M ART and Photos

Eu, tinha as palavras escondidas dentro de uma algibeira esquecida nas grandes tempestades de areia das noites de loucura, tu, tu tinhas os melódicos sons e poéticos do teu violino, da tua voz cresciam gladíolos em formato de rubi, tinhas medo do escuro, vivias como uma andorinha de Primavera em Primavera, e sabíamos que existiam tardes de solidão onde eu, onde tu, onde nós procurávamos as mãos, a minha, e a tua, e as entrelaçava-mos como fios de luz suspenso do tecto do sótão minúsculo onde habitávamos,
Hoje, não me importo dos sons melódicos de ti, hoje, não me importo dos sons poéticos de ti, hoje, não me importo que vivam violinos, pianos, ou
Livros
Que ardam todos, e se possível, durante a noite,
Hoje?
Flores?
Não, não flores,
Que a tempestade as leve, as amarrote como pedaços de papel quando o vento submerge os triângulos transcritos nos silêncios gemidos das mesas em flor,
Trágico,
Humilhante, diria eu, mas... quem sou eu, afinal, Uma estátua? Uma sombra de xisto esquecida no socalco junto à linha férrea? Não, não os quero tal como são, indesejados, tóxicos, melindrosos, quero-os tal como são, barulhentos, Ou... Serei um simples apitar de uma louca locomotiva em passeio pelo Duro, olha o Rio, cerra os olhos
Trágico, hoje não, querida, hoje não...
Cerra os olhos e percebe-se que nos lábios brincam os melodiosos sons e poéticos do violino, e juro, sinto pena dela, e juro, coitada da louca locomotiva, corre, corre, e acaba por encalhar num banco de areia, húmida, em pequenas gotículas de suor, e coitada dela, a louca locomotiva... sempre a apitar, sempre de olhos cerrados, sempre,
Não, não flores,
Deitava-se sobre o cais de embarque, um homem de chapéu e com farda azul carregava aleatoriamente malas, pequenos embrulhos e ramos de flores, todos, que ardam todos, e se possível, durante a noite, como os corpos transatlânticos dos petroleiros emagrecidos, doidos, às vezes, e ela, sobre o cais de embarque, rompia a neblina, nua, dizia-se dona do amor e dos meus versos, ora
Donos de mim, nunca, não, existem, existira,. Existirão...
Não, não flores,
Coisa estranha, essa, de teres um violino dentro de ti!
(Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...),
Quantos somos, nós, tu, sobre o cais, o homem de chapéu azul curvilíneo debaixo do sombreado rio, acusam-me de partir corações, pergunto
De que são feitos os corações,
Adiante, o meu, já nasceu partido, com defeito, talvez... talvez devido às temperaturas elevadas a que foi submetido numa noite em Janeiro, e Janeiro morre, e eu, eu sobrevivi, e sou uma rocha misturada no veneno da madrugada, o veno que és tu, o veneno que são os teus lábios...
Tal como são, barulhentos, Ou... Serei um simples apitar de uma louca locomotiva em passeio pelo Duro, olha o Rio, cerra os olhos
Trágico, hoje não, querida, hoje não...
((Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...Trágico, hoje não, querida, hoje não...),
Livros
Que ardam todos, e se possível, durante a noite...

(não revisto, não ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Cidade sem janelas

foto de: A&M ART and Photos

Meus dias passados
Perdidos num cubo de gelo
Procurando lábio lânguidos
Quando me dizem que é manhã…
Durmo sem o saber
E não acredito que o seja
Dizem-me que morri em mil novecentos e oitenta e nove…
Acredito que sim
Porque deixei de ver o mar
E as pontes de aço
Perdi barcos
E gaivotas
Amigos alguns
Perdi
Encontrei tempestades de areia
E silêncios profundos
Solidões de vidro
Meus dias passados
Perdidos
Num cubo de gelo
Numa cidade sem janelas
Sem portas…
Como asas mortas de andorinhas.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

o chocolate Pôr-do-Sol

foto de: A&M ART and Photos

não sabes que o tempo mata
e a saudade vem
como a chuva depois da tempestade
como o vento velozmente nos teus lábios,

não
não sabes que
mata
o tempo
a saudade
a insónia
não sabes que da noite vêm as tuas mãos acariciar a minha face em migalhas de xisto
triste
vadia
perdidamente só como as árvores quando dormíamos na floresta dos sonhos
depois de fazermos amor
tínhamos a miudinha chuva onde nos embrulhávamos como lençóis de água salgada,

galgando muros
terrenos indomáveis
silêncios
amores
e barcos
fundeados na paixão fumegante dos cigarros invisíveis,

(não sabes que o tempo mata
e a saudade vem
como a chuva depois da tempestade
como o vento velozmente nos teus lábios)

Deitas-te sobre a areia vermelha
desenhas-me no chão húmido em finos traços de carvão
há em ti uma tela esbranquiçada
doente
falida
amada,

amas sei que amas
e sofres
porque sofres
porque és o mar
desenhas-me e deitas-te sobre a areia vermelha
iludes-te
e desiludes-me
como uma criança sem perceber que o Pôr-do-Sol é de chocolate...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

E bebe até voar sobre a cinza da cidade ardida

foto de: A&M ART and Photos

Oiço-te na clandestina cidade, os edifícios arderam, e todos os habitantes são neste momentos sombras, pedaços de escuridão vagueando junto às ruas despidas, nuas, hirtas, como vulcões de areia nas ranhuras da paixão,
Oiço-te e finalmente vou, como um esqueleto transeunte formatado em compacto Linux, olho-me no espelho, provavelmente o único objecto que restou dentro da casa onde habita, por favor, olho-me enquanto te oiço, e cada vez mais percebo que começas a não existir, que és uma cidade morta, uma cidade sem peixes, sem pássaros, uma cidade apenas habitada com Rosas Bravias e mais nada,
Paixão,
O amor, tal como a cidade
Ardem,
A paixão, oiço-o dentro de mim a vestir-se de madrugada, descerra as persianas do desejo, abre a janela dos lírios encarnados, oiço-o, oiço-o voluntariamente a descer do quinto andar em queda livre, chega ao chão, apenas migalhas, cinzas e pequeníssimos papeis que sobejaram do suicídio dele, o louco marido, o apaixonado poeta que inventava cidades para viver, e vivia, dormia nelas, e depois
Ardem,
E depois
A paixão,
Depois, nada, ninguém, hoje, hoje apetece-me mandar foder a literatura e a poesia, e as musas inspiradoras, hoje, hoje apetece-me vandalizar todos os livros que eram meus e deixaram de o ser, hoje
E depois?
Ilumino-me, e oiço-o dentro de mim, ele, ele veste-se pela madrugada, sai de casa, desce a calçada e entra na primeira tasca que a madrugada inventa só para ele, senta-se numa cadeira simples, coloca os cotovelos sobre uma mesa simples, provavelmente da mesma família do que a pobre cadeira, sobre a mesa uma velha toalha em plástico, e bebe, e bebe até voar sobre a cinza da cidade ardida,
E depois?
A paixão, o amor, o falso amor, a velha paixão, a saudade de uma cidade ainda não nascida, as escadas para os sótãos sem janelas, os crucifixos mergulhados em oceanos de luz, e das lâmpadas, eles, eles vêm-me buscar, carregam o meu corpo como se fosse um pedaço de rocha, a neblina que se funde como o gelo no Inverno de brincar, trazia calções invisíveis com suspensórios, sandálias de couro já bastante diluídas nas chuvas torrenciais das tardes de ninguém, e ninguém
E depois
E depois,
A paixão?
(Depois, nada, ninguém, hoje, hoje apetece-me mandar foder a literatura e a poesia, e as musas inspiradoras, hoje, hoje apetece-me vandalizar todos os livros que eram meus e deixaram de o ser, hoje
E depois?)
Sou feliz assim, deixem-me, deixem-me... e... depois? A paixão, os barcos a romperem quilhas sobre os telhados de Belém, ao longe uma sanzala arde, o zinco funde-se e mistura-se com o capim envelhecido, eu, eu brinco como um pequeno arco (aro da roda de uma bicicleta), e oiço-o, oiço-o dentro de mim, ele sofre, ele chora, ele amava, ama, apaixona-se e morre, como as estátuas, morre sobre os cortinados da cidade ardida, pessoas, corpos amontoados sobre as cabeças de xisto, a noite leva-a, e eu, eu feliz,
Hoje?
Hoje, hoje não acredito, acreditava, acreditava nas lâmpadas de néon que as cidades vomitavam nocturnamente dentro dos lençóis de esperma, havia sempre um livro entre nós, havia sempre uma personagem a espiar-nos, e cansei-me, e fartei-me,
Feliz,
Hoje?
Fartei-me, cansei-me, e perdi-me em todas as cidade onde vivi.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

A cidade dos desejos

foto de: A&M ART and Photos

Tem você os olhos mais lindos da cidade dos desejos
Tem você
Sem perceber que tem
O sorriso mais elegante e belo da rua dos beijos
Sim
Tem
Tem você o corpo de floresta selvagem vagueando nos gemidos da noite
Suspenso nos seus loiros cabelos,

Tem
Sim
Tem você,

Sem o perceber
Sem o saber
Tem você os lábios mais desejados das minhas mãos poéticas
E no seu corpo
Tem
Tem você
Sem o saber
Sem perceber
A mais bela folha de papel
… Para eu, para eu escrever,
Acariciar com os meus dedos de tinta permanente…
Tem, eu sei que tem,

Tem você o corpo meus versos em pedaços palavras
Eu sei que tem
Sim, você tem,
Os lençóis de porcelana sobre a sua pele de maré acordada,

Tem, tem você…
O meu corpo reescrito pelas minhas palavras…
Sem o perceber
Sem o saber
Sim, sim você… tem
Tem em mim a claridade da manhã como um cortinado de areia… esquecido no mar.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 4 de agosto de 2013

Rosa Bravia imaginada por um poeta

foto de: A&M ART and Photos

Rosa bravia como castelos de areia envenenados pela chuva da madrugada
silêncios de nada quando das mãos sobejam as porcelanas poéticas lágrimas nocturnas
rosa bravia como tu quando acorda a noite e dás-te conta que ficaste sentada
sobre uma cadeira imaginária
tempos infinitos
tempos... tempos sisudos,

Dizias-me que eras tua e que vivias no meu jardim
tínhamos um lago invisível com peixes de brincar
tínhamos flores, muitas flores...
mas rosas, como tu, nenhuma, nenhuma no meu jardim
construído apenas para te acolher
e embrulhar-te num lençol de água doce,

Despias-te
e brincava com as tuas pétalas de vinil voando sobre as melancólicas avenidas
que uma cidade louca
(louco és tu, talvez o penses em baixinha voz)
que uma cidade louca inventava para nós
e ias à janela do Adeus e lembravas-te da saudade e dos amigos loucos poetas,

Rosa bravia tu
comestível e amarfanhada entre os dedos da paixão
aos sons melódicos da tua respiração
ouvia-te os sussurros de mim
atirando-me as palavras sisudas
que as abelhas em cio deixavam sobre a tua pauta poeirenta e adormecida pelo cansaço de ti...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

E que aos Domingos voávamos sobre as árvores

foto de: A&M ART and Photos

Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores,
E que dos teus olhos Margarida brincavam as pálpebras encarnadas do desejo, cerrei os meus olhos, e vi, começaste a levitar em pedacinhos milímetros de cada vez, e quando percebi, pouco importava já, tinhas-te diluído com a neblina acabada de nascer,
Dia de voar?
E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, o sombreado teu corpo mergulha no espelho do calendário suspenso na parede da cozinha, cheiravas a naftalina, a roupa despida numa tarde de Domingo, dia, de voar,
voar?
Sim, minha querida, sim, voar sobre a planície dos arbustos domésticos, voar sobre as árvores, porque
Hoje é Domingo,
Porque uma criança em birra não come a sopa, porque um palhaço no circo, triste, deixa de fazer rir, porque...
Hoje
Domingo,
Porque vejo nos teus olhos o desejo de seres desejada, porque invento histórias quando as nuvens descem sobre nós, eu, e tu, e lá fora a mesma criança que muito há pouco fez uma enorme birra devido a não querer,
Não quero, não gosto de sopa,
Tu, tu esqueceste-te de mim, tu cerraste os lábios e proibiste-me os beijos, tu, tu cerraste os olhos e proibiste-me os olhares Primaveris de quando passeavas nos jardins do Palácio, Belém fervilhava, fervilha, como tu, quando te despes, como tu, quando te desembaraças de todas as tuas roupas e me dás as mãos e
Domingo,
Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores, e que hoje vamos começar a voar sobre as árvores, sem roupa, apenas tu, apenas eu, e um dia, não Domingo, um outro dia
Vais, sim, acredito, um outro dia vais tocar para mim, só para mim,
Um outro dia, os sons melódicos do teu piano e as gotículas de suor da tua pele poética, não Domingo, não, um outro dia, tu, tu vais tocar só para mim, e eu, e eu poisarei a minha cabeça sobre o teu ombro, inventarei uma tempestade para ficares dentro da sala, eu, tu e o teu piano, Domingo, não
Domingo não,
Talvez um dia, talvez uma bela manhã, talvez numa feliz noite de inverno, livros, o piano, tu e a lareira..., mas
Domingo?
Mas...,
E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, tu não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, enrolavas-te como uma rosa bravia, ias à janela e ficavas a olhar as notas musicais dos teus dedos a despedirem-se do Domingo...
Não, Domingo, não, não Domingo,
E sorrias no prazer dos pássaros, antes, muito antes do teu corpo silenciar-se na nocturna insónia em pequenos desejos masturbais...
Desejar-te desejo, como às palavras ainda não escritas, soltas e vagabundas...
Domingo?
Não, não Domingo.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó