segunda-feira, 22 de julho de 2013

O verde rodeado em azul?

Desenho de: Francisco Luís Fontinha

A simplicidade dos teus olhos, o silêncio agreste da tua boca doirada, também em ti, quando dormem todos os desejos, as cavernas da paixão, sós, nós, tu e eu, duas sombras, duas simples sombras... nos abraços dos céus,
A simplicidade das tuas mãos, visíveis, e invisíveis os teus lábios mergulhados no cacimbo que a noite constrói depois de adormecerem todos os sonhos,
Em ti?
O quê?
O verde rodeado em azul? O azul misturado em verde, caule frágil dos teus seios de amêndoa..., a simplicidade, o silêncio, e o desejo com que as palavras nos absorvem, comem... como os sexos em plataformas giratórias depois de cair a noite,
Simples, a simplicidade dos teus olhos, que nunca vi, que nunca...
Ver?
Deixei de o fazer depois das navegantes viagens ao teus púbis de solidão..., ver? Ver, o quê? Se o verde abraça-se ao azul..., e este, o azul, ama compulsivamente... o verde; assim é a cor dos teus olhos, definitivamente, sós, sós como as minhas tristes mãos.
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

Os pássaros teus olhos

foto de : A&M ART and Photos

Deixei de perceber os pássaros teus olhos
quando o mar se confunde com uma seara de sofrimento
tombando entre ventos e marés como o pôr-do-sol voando nas mãos do inverno...
mergulhando em ti palavras de fé
letras em paredes de gesso perdidamente sós
como cobertores e espelhos da escada da morte
que nos conduzirá até às árvores das candeias envenenadas...
como serpentes de aço enroladas nos braços teus meus abraços,

Beijos em bocas de porcelana
sexos invisíveis às janelas de Domingo quando lá fora brincam crianças de madeira...
e as mães
indefesas
incrédulas...
acreditam na atmosfera límpida da cristalina música que o amanhecer faz acordar
todas as manhãs
e a todos os dias sem preconceitos ou tempestades de areia...

Deixei de perceber os pássaros teus olhos
confundes-me com os teus lábios oceânicos sacrificados com grandiosos petroleiros
e marinheiros embriagados com sonâmbulos desenhos em cartolina...
deixei de perceber o amor e a paixão
os homens as mulheres os homens e os homens e as mulheres e as mulheres
sobejantes pingos de cinza de um mendigo cigarro
tudo mas tudo parece acreditar nas madrugadas das pontes com pré-esforço...
e asas em veludo desejo.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

domingo, 21 de julho de 2013

Eu? Porquê?

foto de: A&M ART and Photos

Uma,
Apenas uma palavra, uma só...
Pensa numa palavra e escreve-a na minha mão,
Vou... vou escrever rui, é isso, RIO,
Una única palavra à janela dos teus lábios misturando-se no teu olhar o apaixonado rio, barcos e filhos, em círculos como crianças em volta de uma lareira imaginária, lágrimas de cacimbo engolindo sombras de mangueira, barcos e filhos, Cacilheiros e pontes, atravessávamos e do outro lado, o Seixal, e rumávamos a sul, paragem em Silêncios de Nada, uma pequena aldeia minúscula encalhada entre a poesia e um reles texto de ficção
(não revisto)
Claro que sim, não revisto, não aprovado, não
Vês, apenas uma palavra, RIO... e nas tuas mãos sei que habitam sorrisos, Louco, eu?
Claro, louco tu, porque
(não revisto)
Porque de uma palavra é impossível construir um texto, porque de um RIO é impossível viverem barcos e filhos e Cacilheiros, e dormirem pontes, e caminharem sobre ele
Comboios,
Filhos e filhas, e os pais, os barcos de braço dado em frente a um espelho, bâton nos lábios, desejos na boca, sigilo profissional, e tudo o que disser será usado contra a sua defesa...
(Foda-se)
Já o sabia, estes cabrões destes barcos novos... mal começam a navegar e já deixam entrar água e outros objectos indesejáveis aos habitantes portuários das Ilhas dos Pássaros Adormecidos, lembras-te amor?
Amor, eu? Qual amor seu parvalhão? Vai chamar amor ao...
Uma, vês, apenas uma
Parabéns ao vencedor!
Apenas uma e tu ficavas a perceber como se constroem os muros nocturnos das cinzentas escadas de acesso ao céu..., enrolavas-te numa toalha de linho
Eu? Deves ser malucos..., eu nunca, nunca...
E punhas-te à varanda a desenhar marés nas gaivotas com boca de Cacilheiro, ouvíamos os apitos, ouvíamos os muitos gemidos do pôr-do-sol, e ouvíamos o maldito som do Cuco do relógio de sala, sempre desgovernado, tu,
Amor, são quatro horas,
Eu,
Vai chamar amor ao...
Olhava a parede sonolenta e ele parado, estacionado ao lado do crucifixo em madeira, não sei muito bem porquê..., mas sempre
Eu? Porquê?
Tive, mas sempre tive a sensação que ele me espiava, quando entrava em casa madrugada dentro, embriagado, fazia-me de invisível e sabia que tu...
Porquê?
Amor, és tu?
Vai chamar amor...
Não, não sou eu, sinto muito, deve ser o Cacilheiro do quarto esquerdo, a brincar no ascensor, subindo, descendo, parando..., subindo, descendo, descendo, descendo,
Amor?
Olhava a parede sonolenta e ele parado, estacionado ao lado do crucifixo em madeira, não sei muito bem porquê..., mas sempre
Eu? Porquê?

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Os Sábados dos guindastes de solidão

foto de: A&M ART and Photos

Tínhamos os Sábados dos guindastes de solidão
comendo-nos como vampiros solstícios desgovernados
havia em nossos corpos de ébano os silêncios lábios da triste manhã
e percebíamos que as luzes da noite anterior eram apenas cadáveres de areia
brincando nas dunas rochas dos seios madrugar,

Transportava-te nos dedos em réstias letras sobejantes dos pobres textos
que o louco EU deixara de escrever nos espelhos da casa dos sonhos
e uma corrente de aço aprisionava o vento marítimo dos barcos em flor...
tínhamos os Sábados dos guindastes de solidão e uma lanterna de paixão
apoderou-se dos meus braços com assentos circunflexos com vírgulas e parágrafos embriagados...

Amar-te percebendo que sei que não existo... em ti e
dificilmente (efeito Borboleta) tocarás nos velhos troncos dos plátanos de xisto
que habitam nos meus olhos...
Tínhamos... Sábados em tristes guindastes de solidão
e todos os nossos livros deixaram de ser livros e hoje... pássaros em liberdade.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Sílabas de papel

foto de: A&M ART and Photos

Pertencer-me-ás sílaba de papel que deixei suspensa em teus lábios cerâmicos
depois de adormecer sobre ti a noite com cinco estrelas de marfim?
Pergunto-me sem perceber que há muito perdi a esperança de levemente pegar em sílabas
que há muito me esqueci das rosas que roubavas nos jardins junto ao Tejo...
pertencer-me-ás, tu, sílaba em papel mergulhada em beijos de tinta?

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 20 de julho de 2013

Bailarino, tu!

foto de: A&M ART and Photos

Projecto-me tridimensionalmente no muro onde poisas, todas as noites, os cotovelos, seguras a tua doce cabeça com as pequeníssimas mãos de menina apaixonada, olho-te como se fosses uma imagem prateada tingida com pedaços de azuis cerejas que numa tela simplesmente mergulhada na noite desgovernada, ela, absorve-te, alimenta-se de ti como as abelhas do feminino pólen com sabor a masculino desejo, e depois de saber que és uma imagem prateada tingida..., os pedaços de azuis cerejas borbulham-se-te com cobertores suspensos numa janela dançarina, bailarina eu?
Bailarino, tu!
E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa, baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?
Bailarino, bailarino sem profissão conhecida, artista sem arte, Tímido, eu? Que me dera ser como tu, uma triste alga dentro do rio sonolento das varandas com gradeamentos enferrujados, tristemente, eles, dentro de ti, às sílabas farto eu escrever, Tímida ela?
Perdia-se-lhe os mínimos sons da sua voz nas pétalas doiradas das rosas transeuntes das ruas prostituindo-se como reles bancos de jardim, onde todos se sentam, e eles... apenas estão lá, não pelo prazer, apenas estão lá porque os obrigam a estar, porque se não fosse dessa forma...
Tímidos?
Os corpos reluziam como gaivotas, e das ripas em madeira dos teus ombros, as alegres asas de porcelana, meu amor, Tímida? Quando sei que o teu corpo é incenso que arde num prato de cobre, música alimenta-se em ti, e os versos
Bailarino, tu!
E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa, baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?
Versos no cardápio ao preço de vinte e cinco euros a dose, aprece muito, isenção de IVA, e com a oferta de uma bebida branca...
Bailarino tímido, eu, ou tu?
Tenho uma vida cúbica, tenho sonhos quadrados e sofro em círculo, sou um perfil geométrico, alimento-me de senos e cossenos, fumos tangentes hiperbólicas, e faço o amor com as equações diferencias..., afinal, quem sou eu? Um pedinte matemático? Um bailarino/Bailarina, Tímida? Um hipercubo com braços de esperma descendo escadas de cinzentos soníferos com orifícios a imitar as janelas de luar?
Bailarino, tu?
És um triste, és uma integral tripla sobrevoando o momento fletor dos teus livres seios na viga do desejo... oiço-te gemer, a musicalidade da tua boca é uma pauta com sons débeis, difíceis de engolir, fáceis de mastigar..., textos, palavras, livros bolorentos entre vacas e carneiros no centeio do tio Joaquim, vivíamos como dois palhaços embriagados pelos sorrisos das marés envergonhadas dos longínquos mares que descobrimos nunca terem existido..., e o vento
E o vento vai desalicerçar a tua singela estrutura de bailarina rodando em redor do teu centro de massa cuspindo momentos angulares como fazem as nuvens antes de adormecerem nos teus braços...
Ainda acreditas, que, eu, Bailarino... Tímido?

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha